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É assim que você destrói a autonomia de uma criança
Gabriel Baranski
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A educação que recebi me machucou. Não só porque desconsiderou quem eu era na minha subjetividade — para além do papel de filha de alguém —, mas principalmente porque me apontou exatamente o que eu deveria desejar e como eu deveria ser feliz. De um modo diferente, com minha filha, aprendi a olhar as coisas com menos certezas. Hoje, sei que tirar de uma criança o poder da vontade é uma das principais formas de matar sua autonomia. Explico o porquê a seguir.

A autonomia é importante para trilhar a estrada da vida

Não sei quanto a vocês, mas eu recebi uma educação bancária e muitos devem saber do que estou falando. É aquela perfeitamente descrita pelo Paulo Freire como uma forma de depositar conhecimentos na criança sem que ela participe do processo. O aluno não tinha escolhas ou mesmo experiência afetiva positiva decorrente delas.

Meus cuidadores iniciais pavimentaram para mim a estrada da vida, cheios de boas intenções. Não me deixaram ir para a calçada dos sonhos e para o gramado dos erros. Nem para o campo verde da autonomia que estava mais além, esperando generoso meus pés descalços e minha gana de conhecer o entorno por mim mesma. Ou experimentar no corpo a sensação de errar, aprender, arriscar e voltar alguns passos se preciso.

Eu fui mantida na estrada com uma intenção de proteção e com a certeza de que sabiam que aquele caminho iria me levar para uma suposta felicidade.

Bem, eu experienciei felicidade. Mas eu tive que percorrer outros caminhos para me encontrar. Por muito tempo, não soube fazer isso, porque estava perdida naquela estrada de uma única via. Paradoxalmente, como pode parecer, eu estava perdida mesmo tendo um único caminho a seguir — talvez, exatamente por essa razão.

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Uma vida de certezas é inimiga da felicidade

Acreditamos que sabemos o que nossos filhos precisam para serem felizes. Boas notas em todas as matérias, dentro da escola perfeita com tal método, com tais tipos de amigos, tendo tais tipos de comportamento e de aparência. Falando de determinados tipos de assunto e tendo determinadas opiniões. Se não for assim, prevemos decepção, rejeição e solidão.

Mas, não é de nossa própria história que estamos falando quando projetamos a certeza da infelicidade? Não é nossa própria dor sendo deslocada sem filtros para as nossas crianças? Não é um tipo “enlatado” de realização e sucesso – que sequer podem ressoar verdadeiramente em nós – que aprendemos culturalmente a perseguir e que tentamos empurrar goela abaixo dos nossos filhos?

Nos despir de todas as certezas, de uma vez, é impossível. Tudo é processo e construção e, exatamente por esse motivo, a desconstrução também precisa ser respeitada: ela também leva tempo e acusa dificuldades próprias. Educar seres humanos é passar por isso, diariamente.

Cuidado para não sufocar os filhos

Somos seres gregários e vamos tentar pertencer à sociedade. Também queremos que nossos filhos pertençam e, assim, muito do que nos indicam como caminho para a felicidade, vamos tentar seguir. Mas, podemos olhar para esses mandos com um pouco menos de automatismo.

É preciso entender se queremos que nossos filhos apaguem ou escondam partes importantes deles para caber em caixas pré-fabricadas.

Parentalidade consciente também é sobre sentir os lutos decorrentes de tudo que achávamos que sabíamos, mas não sabemos. De tudo que sentíamos como certo, e é ilusão. De todas as expectativas que construímos e que virão (com sorte) na forma de decepções saudáveis para que construamos outras expectativas, mais próximas de quem nossos filhos querem ser. Principalmente, da relação que queremos ter com eles.

A verdade é que podemos orientar nossos filhos e ter função de base segura sem os prender dentro das barras sufocantes da prisão da certeza.

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