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Convivência a dois: o que aprendi compartilhando a vida
Compartilhando a vida pessoal e profissional há dez anos, Diana conta sua experiência e aprendizados de convivência. Foto: Renato Nascimento (@renatonascimento1)
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“Como vocês conseguem ser um casal trabalhando juntos por tanto tempo?”

Essa pergunta é uma das que eu mais ouço, quando digo que trabalho há uma década com meu marido.

A resposta, deixo pra você pro fim do texto, mas antes deixa eu contar o que aprendi pra chegar até ela.

Entre a coragem e a estupidez, um começo

Fazia menos de dois anos que a gente estava namorando quando Leo e eu decidimos deixar a vida de freelancer na indústria da TV, nos tornar um duo de filmmakers, e embarcar numa volta ao mundo com o objetivo de filmar videoclipes com bandas e artistas por um ano e meio.

A ideia era ousada: filmar a primeira série global de videoclipes. (Não conhece ainda? Clique aqui pra assisti-la)

Por mais que acreditasse, eu não sabia se essa história iria de fato dar certo. Como seria trabalhar ininterruptamente com meu (na época) namorado, dividindo com ele todas as 24 horas do meu dia?

Não pensei muito, apenas fui. Com a cara, a coragem e uma mala de 23kg em mãos.

Me tornei então 50% do Couple of Things, e, a partir daquele instante, passei a trabalhar com o Leo – o que implicava em compartilhar com ele todos os segundos de um dia.

As consequências do convívio como casal e parceiros de trabalho

Com a intensa convivência, é claro que vem também os conflitos e atritos.

Afinal, se viver junto já é complexo, fazer isso ao longo de uma viagem é um desafio a mais pra um casal.

E somar a isso tudo o trabalho – com pouco tempo livre e muito estresse – é elevar a situação a enésima potência.

Uma bomba, pronta pra explodir a qualquer instante, independente da localização geográfica.

Qualquer simples faísca e BOOM! Não preciso nem dizer que essa bomba, é claro, explodiu inúmeras vezes em múltiplos destinos pelo mundo, né?

A realidade que ninguém vê

Mas os meses foram passando e, por causa das desavenças, eu fui aprendendo muito com essa nova dinâmica do relacionamento – que agora era amoroso e profissional, que eu havia aceitado fazer parte e que não pagava hora extra pra briga nenhuma.

Em algum dado momento do percurso, os astros se alinharam e a gente também. As coisas passaram a fluir de forma mais leve.

Hoje, dez anos depois, ao parar pra analisar o que passou a ser fundamental pra gente seguir juntos, escolhendo trabalhar lado a lado todos os dias e continuar sendo um casal, cheguei a três pilares que têm sido fundamentais.

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Confiança é essencial para uma boa convivência a dois

Numa entrevista pra Marília Gabriela, logo que a gente voltou ao Brasil após a realização do nosso primeiro projeto, ela perguntou, curiosa: “Vocês passam o tempo todo juntos. E trabalham juntos. Vocês não brigam?”

Lembro de ter respondido a primeira coisa que veio à cabeça: “não dá tempo”.

Desde que passamos a trabalhar em dupla, começamos a acumular várias funções profissionais – sem contar os afazeres básicos da vida doméstica e a logística de mudar regularmente de casa e cidade.

Com uma pilha de coisas pra fazer, o tempo parece ser sempre insuficiente pra dar conta de tudo.

Foi ao entender a importância de aproveitar melhor o tempo que percebi que, sempre que brigávamos, perdíamos preciosos minutos (ou horas) discutindo – muitas vezes por banalidades ligadas ao nosso ego e a suposição de que “do meu jeito é mellhor”.

Descobri que o simples ato de desapegar do vício de querer ter controle sobre tudo é libertador.

Ao confiar que o outro irá, do seu jeito, dar o seu melhor pra realizar o que se comprometeu a fazer se tornou fundamental pra nossa sobrevivência como duo – e como casal, claro.

Nem sempre o que eu faço, o Leo gosta. E vice e versa. Mas somos um duo de artistas visuais. O resultado da somatória das nossas ideias precisa refletir ambos. E pra isso acontecer, foi preciso compreender que entrar em consenso é, também, uma arte. E confiança é um componente importante pra isso.

Ao confiar no talento e capacidade do outro, passamos a nos encontrar no meio termo. E isso vem nos poupando não só tempo mas também nos distancia de vivermos desgaste emocional.

Respeito nunca é demais na convivência

Apesar dos 12 anos juntos e da intensa convivência trabalhando há uma década lado a lado, Leo e eu somos muito diferentes. E temos maneiras muito distintas de pensar e trabalhar.

Por exemplo, meu processo criativo é caótico e eu gosto de criar fazendo reuniões e jogando ideias na roda; já ele prefere criar sozinho e, só depois de já ter encontrado seus caminhos, compartilha suas propostas comigo.

E eu, por muito tempo, odiava isso. Queria que a gente criasse junto e que eu fosse incluída no processo dele. Tinha a falsa ideia de que estava sendo deixada de lado.

Demorou pra que eu entendesse que o que se passa na minha cabeça não é o que se passa na dele e que, simplesmente temos processos diferentes.

Não adianta forçar: é preciso sim respeitar o tempo do outro. E não só isso, é fundamental também respeitar as individualidades de cada um.

Ao compreender que – mesmo formando um casal e um duo profissional –, somos dois seres humanos únicos, entendi que o que é bom pra mim não necessariamente é funcional pro outro.

E, ao respeitar a forma com que Leo trabalha, passei a me inspirar nela e tentar aplicar um pouco da sua metodologia pra organizar meu caos. E tem sido, de fato, uma evolução profissional pra mim.

Por outro lado, vejo Leo cada dia mais aberto a sentar pra discutir ideias comigo ao invés de criar sozinho. Respeitar o espaço do outro não nos distanciou, mas sim acabou nos aproximando.

Admiração

Acredito que admirar alguém está diretamente relacionado a reconhecer no outro características que a gente valoriza.

E, pra conseguir perceber as qualidades alheias, é necessário duas coisas: se dar o tempo de observar o outro e buscar ter consciência sobre si próprio.

Muito do que eu almejo melhorar como profissional eu enxergo no Leo. E muito do que eu busco ser como pessoa eu encontrei na sua personalidade, ao reparar em como ele lida com a vida.

Foco, clareza de raciocínio, eficiência, objetividade, determinação, ambição, gentileza genuína, simplicidade e humildade.

Por mais que tenhamos uma coleção extensa de dias juntos, não canso de me surpreender com sua inquietude criativa que provoca incansavelmente seu desejo de dar passos destemidos e inspiradores.

Dedico sim tempo me autoanalizando e descobrindo muitas características que vejo nele e que me inspiram diariamente.

Admirar o outro pode, também, ser um processo de evolução individual.

A escuta é a chave de uma boa convivência

Falar é fácil. Difícil é escutar.

Nada do que eu disse até este parágrafo final será relevante pra você – seja pra levar pro âmbito amoroso ou profissional – se você não estiver de fato disponível pra “ouvir”.

Na manutenção de um relacionamento, onde trocas são essenciais, monólogos não sustentam jornadas de parceria.

Então, o interesse pelo outro é fundamental. E não basta somente fazer perguntas. É preciso querer ouvir as respostas.

Se relacionar com outro ser humano é algo complexo. É o encontro de mundos distintos, onde cada um chega carregando sua bagagem de vida.

A união faz a força

Mas então, “Como vocês conseguem ser um casal trabalhando juntos por tanto tempo?”

Fecho este texto a respondendo, fazendo um jogo de palavras com a própria pergunta:

“Talvez seja por trabalharmos juntos por tanto tempo que somos um casal”.

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Diana Boccara compartilha mais sobre viver com menos em seu livro “Mínimo Essencial“. Há quase uma década vive na estrada com seu par de malas, acompanhada pelo seu marido Leo Longo, com quem divide seus dias e o trabalho no duo Couple of Things. Filmmaker e minimalista, vive pelo mundo filmando séries como “What If Collab” (disponível no Amazon Prime Video), ABITAH e “A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes” (ambas disponíveis na Globoplay). Suas histórias já foram contadas nos palcos do TEDx e SXSW. No instagram, o casal divide um pouco mais dos bastidores de uma vida itinerante. E aqui na Vida Simples, eles compartilham aprendizados que uma vida com menos excesso lhes trouxe.


Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples.

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