Como fazer o amor durar? A ciência tem a explicação
É possível construir o amor. E se você gostaria de compreender como fazer o amor durar em uma relação, a ciência pode lhe ajudar.
É possível construir o amor. E se você gostaria de compreender como fazer o amor durar em uma relação, a ciência pode lhe ajudar
O amor é uma necessidade humana universal. Não é de se espantar, portanto, que tantos de nós desejamos amar e ser amados. E sobre esta procura temos diferentes concepções. Há pessoas que acreditam que o amor é como um bilhete de loteria – algo que encontramos quando temos sorte. Outros acham que o amor é como uma dívida – algo que precisamos cobrar.
Enquanto alguns lamentam a falta de amor, outros exigem atenção, resposta, demonstrações, entendimento. É claro que é dolorido carregar mundo afora uma alma carente de amor. No entanto, se você deseja mais amor na sua vida, talvez valha a pena adotar uma postura ativa em vez de esperá-lo.
É possível construir o amor. E se você gostaria de compreender como, a ciência pode lhe ajudar.
Uma teoria simples e prática sobre o amor
Barbara Fredrickson, uma das pesquisadoras mais citadas em psicologia, ficou famosa por seus 30 anos de estudo, e centenas de publicações, a respeito das emoções positivas. Mais recentemente, ela começou a estudar o amor – um ato corajoso, uma vez que na ciência poucos ousaram defini-lo. [Faço um parêntese para recomendar o livro da autora sobre o tema, traduzido para o português com o título Amor 2.0.] Pois bem, tive a sorte de ser aluna de Fredrickson no mestrado e de ouvir em primeira mão a sua teoria sobre o amor. Uma teoria simples e bastante prática.
Veja só. Para Fredrickson, existem dois tipos de amor, o amor que é emoção e o amor que é sentimento. E antes do amor tornar-se um sentimento, precisamos vivenciá-lo enquanto emoção. Vou explicar.
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O amor-emoção é o amor na prática
O amor-emoção é aquilo que acontece toda vez que duas pessoas sentem, juntas e simultaneamente, uma emoção positiva. Por exemplo, se você brinca com seu filho e vocês experimentam juntos a alegria, isto é o amor-emoção. Quando você acolhe um amigo em um dia difícil, a compaixão que você dá e que ele recebe também é o amor na prática.
Em momentos bons, o amor-emoção pode vir do compartilhamento da alegria, contentamento ou serenidade. Em momentos difíceis, pode vir da compaixão, empatia, segurança, acolhimento.
Podemos ter um momento de amor com quem não conhecemos, inclusive. Por exemplo, se você se divertir junto com um estranho na sala de espera do dentista, isto é o amor-emoção.
Fredrickson explica que quando vivenciamos o amor-emoção, a nossa fisiologia entra em sincronia com a da outra pessoa. Até nossos comportamentos ficam sintonizados – aquela coisa de um começar e o outro completar a frase. É como se por um momento as duas pessoas se tornassem uma só – somos a extensão do outro. A emoção que vive em mim ressoa em você, e vice-versa. Por isso, ela chama o amor-emoção de ressonância emocional positiva.
O amor-emoção é uma conexão que acontece em tempo real. Uma das consequências, é que nos sentimos motivados a cuidar do outro, mesmo que por um momento.
Aliás, outra característica do amor-emoção é que ele é passageiro. Segundo Jill Taylor, neurocientista de Harvard, 90 segundos é o tempo necessário para que qualquer emoção vá embora. É até possível que a emoção dure mais tempo que isso – se a alimentarmos com as nossas ações ou pensamentos. De qualquer forma, emoções são passageiras – a emoção amor, inclusive.
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O amor-sentimento é uma construção
E, se você está torcendo o nariz para a ideia de que o amor seja passageiro, é porque ainda precisa ouvir o restante da teoria. Fredrickson explica que sentimento e emoção são duas coisas diferentes.
Sentimento é a maneira que interpretamos as nossas emoções. Enquanto as emoções são passageiras, o sentimento é mais duradouro.
Concluímos que sentimos amor por alguém quando vivenciamos com essa pessoa momentos repetidos de conexão positiva. Por exemplo, se você vivencia diversos momentos de segurança, alegria e compreensão com determinada pessoa, passará a sentir-se conectado a ela. Para Fredrickson, são estes micromomentos de ressonância positiva – o amor na prática – que nos motiva a fazer conexão com estranhos, a transformar conhecidos em amigos, a aprofundar laços e a construir intimidade. Ou seja, o amor-sentimento é resultado da vivência repetida do amor na prática.
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Conjugando o amor
Do trabalho de Fredrickson, fica a lição de que o amor é ação e se constrói a partir da ação. Portanto, se você deseja receber mais amor, ou sentir-se mais conectado a alguém, foque em vivenciar momentos positivos com estas pessoas. É uma estratégia mais efetiva, e muito mais prazerosa, do que a cobrança.
Quando não temos momentos de amor na prática com os filhos, eles ficam inseguros com relação ao nosso amor.
Quando não temos momentos de amor na prática com os pais, com o parceiro ou com os amigos, a distância emocional é inevitável.
Quando qualquer relacionamento vira pura cobrança, quando o foco é no que falta e não no que temos, o amor vai embora também.
Para Vinicius (o poeta), o amor é chama e nossa melhor chance é fazê-lo infinito enquanto dure. Para Fredrickson (a cientista), o amor é um verbo. Durará enquanto cultivarmos momentos do amor na prática. Enquanto lembrarmos de curtir juntos, brincar juntos, ser segurança e apoio para o outro. Enquanto lembrarmos que todos os dias construímos ou destruímos o amor.
Leia todos os textos de Adriana Drulla.
ADRIANA DRULLA (@adrianadrulla) é mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pennsylvania (EUA) e pós graduada em Terapia Focada em Compaixão pela Universidade de Derby (Inglaterra), onde teve como mentores Martin Seligman, psicólogo fundador da psicologia positiva, e Paul Gilbert, psicólogo criador da Terapia Focada em Compaixão. Semanalmente fala sobre psicologia e mente compassiva no podcast Crescer Humano.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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