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Como falar de dinheiro com as crianças
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Neste artigo:

Ensinar o verdadeiro valor do dinheiro é uma das maiores heranças que você pode deixar para os seus filhos. Para cada fase do desenvolvimento infantil existem conhecimentos específicos que podem ser passados sobre finanças. Thiago Godoy explica como falar de dinheiro com as crianças (e também com os jovens).


O Dia das Crianças é data para celebrarmos a nossa criança interna e as crianças “externas” que convivem conosco. O que é mais importante para uma criança? Que valores devemos levar para esses pequenos seres que estão se formando e um dia serão adultos? O que precisamos melhorar em nós e não queremos que nossos descendentes levem consigo?

Hoje, como pai, faço esse tipo de pergunta o tempo todo. Educar uma criança é mostrar a ela o mundo como ele é, mas principalmente o mundo como ele poderia ser. É trazer possibilidades de construir uma nova realidade, que depende dessa contribuição que cada um de nós pode fazer.

Um filho é a maior oportunidade que temos para passar para a frente o que há de melhor em nós. Não há maior legado humano do que esse. Uma criança é uma esponja e absorve tudo que falamos e, principalmente, o que fazemos. Se temos comportamentos saudáveis, vão entender que essa é a referência. Se temos comportamentos tóxicos, essa será a referência.

Seja na alimentação, no cuidado com a saúde, na relação com o trabalho ou com o dinheiro, nossos filhos estarão lá observando o que fazemos e entendendo que essa é a forma de se fazer. O nome disso em economia comportamental é “ancoragem”. O clichê mais real dos clichês é “somos a média das pessoas que convivemos”.

Minha coluna aqui é sobre nosso relacionamento com nossa vida financeira, que considero ser um pilar essencial para todas as outras áreas da nossa vida. Você pode se alimentar bem, fazer atividades físicas, ter um trabalho legal, mas, se está com muitas dívidas, sua vida será um caos.

Saber usar o dinheiro tem muito mais a ver com o autoconhecimento do que qualquer outra coisa. A clareza sobre o que queremos de verdade é que nos faz priorizar. E estabelecer prioridades é uma das habilidades mais importantes dessa nova sociedade ultra conectada.

Excesso de informação, que vira excesso de opções, que vira excesso de escolhas, que entra em um paradoxo. Muita possibilidade e escolha é igual a muitos possíveis caminhos, e toda escolha é uma renúncia. Logo, muitas possibilidades de escolha são proporcionais a muitas possibilidades de caminhos negados. Isso parece que dá um “bug” no nosso cérebro e vemos hoje uma geração que tem tanto para escolher, que escolhe mal.

Saber usar o dinheiro tem um pouco de conhecimento técnico, mas muito mais de comportamento. Entender sobre taxa de juros, inflação, renda fixa, bolsa de valores, é importante. Mas saber sobre o que é suficiente para ter uma boa vida é a grande chave dessa relação com o din din.

Psicologia do Dinheiro

Minha valiosa frase para o seu Dia das Crianças é: Criar filhos financeiramente educados é um dos maiores presentes que você pode oferecer a eles. Educar financeiramente uma criança é falar sobre a responsabilidade com o dinheiro, sobre a importância de poupar. Mas é principalmente ensinar a escolher.

E é essencial buscar uma metodologia adequada para ensinar sobre dinheiro de acordo com a faixa etária da sua criança. Tenho acompanhado, nos últimos meses, alguns anúncios de programas de “educação financeira para crianças”. Mas eles parecem mais interessados em vender produtos financeiros do que de fato educar os pequenos.

Educar financeiramente uma criança é falar sobre a responsabilidade com o dinheiro, sobre a importância de poupar.

Há uma área de conhecimento chamada Psicologia do Dinheiro, que estuda o processo de “socialização econômica”, entendendo os hábitos de gastar, guardar, investir e comprar que são estabelecidos na infância e adolescência.

O estudo da socialização econômica busca entender como as crianças aprendem conceitos econômicos, em que estágios, qual a influência dos pais e da escola, entre outros fatores.

VEJA TAMBÉM: Pequeno manual de educação financeira para filhos

Conhecimentos para cada fase

Podemos dividir o processo de socialização econômica em três etapas: dos 3 aos 6 anos, dos 7 aos 13 e após os 14 anos de idade.

As duas primeiras fases são essenciais para que seu filho desenvolva crenças e comportamentos positivos sobre dinheiro. É nesse período que ele pode desenvolver, por exemplo, crenças de aversão ao dinheiro, acreditando, por algum motivo, que ele seja algo ruim, ou crenças de adoração, pensando que dinheiro é a coisa mais importante da vida deles, o que também é bem ruim.

Dos 3 aos 6 anos

Nessa fase, a atenção do seu filho está em tudo. As crianças são como pequenas esponjas, aprendendo e mergulhando no que aparece na frente deles. Isso significa que eles absorvem muito mais do mundo do que você pensa.

Esse é um ótimo momento para apresentar os principais conceitos financeiros que eles podem carregar por toda a vida.

Por exemplo, quando der algum dinheiro para um aniversário ou nas férias, peça que a criança guarde em um cofrinho ou pote transparente. Ao verem a quantidade de dinheiro crescer, ela ficará entusiasmada. Cada vez que você der mais algum dinheiro, use isso como uma oportunidade para contar o que eles já economizaram. Ajude seus filhos a definir a meta de algo que gostariam de usar o dinheiro.

Atividades que ensinam como economizar e a importância da paciência são importantes nesse desenvolvimento inicial, pois mostram que muitas vezes é preciso esperar. Lembre-se de que crianças pequenas têm um período de atenção curto. Por isso, é importante manter seus objetivos em apenas algumas semanas.

Dos 7 aos 13 anos

Nessa etapa, a atenção deles está nos pais. Essa é uma idade de transição. As crianças observam tudo o que você faz, estão intimamente ligadas aos seus hábitos de consumo. Essa faixa etária constrói seus próprios hábitos e valores a partir do que seus pais fazem. O que seus filhos observam você fazer é muito mais poderoso do que o que eles ouvem você dizer. Contudo, quando eles veem e ouvem a mesma coisa, isso cria uma mensagem muito mais forte.

Ensinar, dos 7 aos 13 anos, a diferença entre desejos e necessidades pode ajudar a construir rotinas do dia a dia que irão moldar a forma como eles ganham, economizam e compram.

Pesar decisões e ensinar consequências, como “se você comprar isso, não terá dinheiro suficiente para aquilo”, ajuda a ensinar habilidades de orçamento e economia que os preparam para um futuro financeiro de sucesso.

A partir dos 14 anos

Depois dessa idade, a atenção da maioria dos adolescentes está voltada para o futuro e, agora sim, eles podem aprender alguns conceitos mais aprofundados que entrarão em jogo quando forem adultos. Nessa etapa, os pais vão precisar investir mais tempo para reforçar mensagens sobre os caminhos que o dinheiro percorre. A essa altura, eles já estão capazes, por exemplo, de entender como funciona o mercado financeiro, suas oportunidades e seus riscos.

Na prática, fale sobre os benefícios de quem acompanha suas contas, busque por descontos, sobre as vantagens de um cartão de débito e as armadilhas que podem acompanhar um cartão de crédito. Explique que um salário é o valor das horas de trabalho durante todo um mês de vida. Ou seja, o dinheiro vem de algum lugar e eles precisam saber sobre essa remuneração em troca do trabalho.

É bom lembrar que o erro faz parte do processo de aprendizagem. Para uma educação financeira eficiente, os jovens precisarão compreender as consequências de seus gastos e outras escolhas. Elas poderão ser negativas ou positivas.

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Cuidado com a ansiedade

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a educação financeira pode ser definida como “o processo pelo qual o consumidor melhora sua compreensão de produtos, conceitos e riscos financeiros e, por meio informações e instruções objetivas, desenvolva habilidades e a confiança para se tornar mais consciente dos riscos e oportunidades que envolvem dinheiro, para fazer escolhas conscientes, para saber onde buscar ajuda e tomar outras ações eficazes para melhorar seu bem-estar financeiro”.

Família, um resumo para concluir: à medida que os filhos amadurecem, os comportamentos financeiros vão se solidificando. Aqueles que ensinam educação financeira para crianças devem tomar cuidado para ajudá-los a formar relacionamentos financeiros positivos e construir sua confiança, sem colocar o carro na frente dos bois.

Cuidado para não antecipar a fase adulta em uma criança. Você não quer ensinar seu filho a ser ansioso desde cedo, quer? Essa seria a maior irresponsabilidade com o tempo da sua criança.

O tempo de brincar é o tempo de brincar. O tempo de aprender a operar na Bolsa vai chegar. Aliás, não se esqueça de ensinar que as melhores coisas da vida não serão compradas.

Comece se questionando: para você, o que é suficiente?

Feliz Dia das Crianças para todos nós.


THIAGO GODOY é Head de educação financeira da XP Inc., Colunista do Infomoney e professor na XPEED School. Acredita que todos podemos melhorar nossa relação com o dinheiro e que esse assunto precisa ocupar a mesa de jantar dos lares brasileiros. Seu TEDx fala sobre Ansiedade Financeira. No Instagram, também fala sobre educação financeira, com uma pegada mais voltada às famílias, no perfil @papaifinanceiro.

Leia todos os textos da coluna de Thiago Godoy em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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