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“Beba com moderação”: uma frase bonita na teoria – e na prática?
Tendência para diminuição do consumo de álcool. Andra C Taylor Jr/ Unsplash
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Moderação é algo bonito de se dizer, soa aprazível, leve, sob controle, mas, na prática, há um enorme desafio em se manter moderado, quando falamos de hábitos, não é mesmo? O termo que iniciei minha coluna já denuncia o tema, estou falando do consumo de álcool e da clássica frase: “beba com moderação”, quase um slogan que nos acostumamos a ouvir e que parecia nos tirar uma eventual culpa no consumo etílico.

Alertar do risco é diferente de proibir

Passados alguns anos, o conceito do consumo moderado ser seguro caiu e novos estudos mostram que não há nível seguro de consumo para o álcool, as duras palavras parecem meio óbvias quando ditas agora, mas o fato é precisamos encarar o fato, sem rodeios. Há enorme risco, mesmo para doses pequenas, seja uma tacinha de vinho ou inocente copinho, o risco é grande. Saber disso nos faz pessoas mais conscientes dos atos que desejamos tomar.

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Tem gente que não bebe e está vivendo 

Quer dizer que a regra agora é que não pode beber?

De maneira alguma. O que precisamos é acostumarmo-nos a ver o consumo de bebidas alcoólicas em outra “caixinha” que não é mais aquela inocente, mas sim de algo que precisa de alerta, de uma luz amarela.

Se você bebe e gosta, aproveite com moderação, mas saiba que mesmo de forma prudente há muito risco, cabendo a cada uma geri-los. O inadmissível é não se aperceber do que se mostra hoje óbvio. O fato é que vilão ele sempre foi, de alguma maneira fingimos que ele não era, mas tenho certeza que todo mundo sabe que o consumo de álcool sempre faz mal. O que não se havia provado cientificamente é o estrago e os riscos que se tem mesmo em pequenas doses. Lembre-se que ser perigoso é diferente de ser proibido, seja você um bebedor robusto ou um tomador moderado de álcool a proposta é elucidar, ninguém é obrigado a parar de beber.

De acordo com um artigo da renomada revista científica inglesa Lancet (acesse aqui o artigo), o impacto negativo do álcool se estende para além da saúde individual e afeta também as famílias, crime, desordem e o ambiente de trabalho. Evidências indicam que os danos causados pelo álcool se estendem para além do próprio consumidor, com uma variedade de consequências prejudiciais emergindo cada vez mais. As conclusões do estudo são claras e inequívocas: o álcool é um colossal problema de saúde global e pequenas reduções nos danos relacionados à saúde em níveis baixos de consumo de álcool são superadas pelo aumento do risco de outros danos relacionados à saúde, incluindo câncer. E os pesquisadores insistem: não há nível seguro de consumo de álcool.

Redução do álcool é tema das ODS, da ONU

A OMS, Organização Mundial da Saúde, é uma agência vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas) para a promoção de políticas e recomendações para incremento da saúde pública e controle de doenças.

O tema redução do uso nocivo do álcool é uma das metas da Organização Mundial da Saúde para 2025 contemplada na ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) sobre Fortalecer a prevenção e o tratamento do abuso de substâncias. Além da redução, temos ainda a atuação sobre a mortalidade relacionada ao trânsito e o combate a hepatite.

Saindo do efeito direto do álcool e seus desdobramentos, é fácil perceber que a batalha sobre o tema reverbera em tantos outros como a diminuição da violência em geral e também no caso específico da violência de gênero.

O OMS monitora dados sobre o consumo e uso nocivo de álcool que entre as múltiplas iniciativas criou a Safer. Ela se trata de uma sigla que indica ações de ajuda para Estados e Nações mitigarem os usos nocivos da bebida na saúde da população. Há destaque para:

(Strengthen restrictions) – Fortalecer as restrições e menos disponibilidade para acesso ao álcool;
Avançar e fazer cumprir medidas de combate à condução sob efeito de álcool;
Facilitar o acesso à triagem, intervenções breves e tratamento;
(Enforce bans) Fazer cumprir proibições ou restrições abrangentes à publicidade, patrocínio e promoção de álcool;
(Raise prices) Aumentar os preços do álcool por meio de impostos especiais e políticas de preços.

Veja a página sobre o Safer aqui.

Safer - OMS

Divulgação OMS

Goró fácil

Viajando por esse mundão, tenho reparado como no Brasil se tem acesso ao álcool com tanta facilidade. É fato que temos implementado políticas no Brasil relativamente novas e efetivas no combate ao álcool.  Entre elas, a tolerância zero para beber e dirigir, a popular Lei Seca. Essa lei proíbe condutores de veículos a conduzir carros com qualquer quantidade de álcool no sangue, mesmo que mínima. Além disso, há a lei que proíbe a comercialização bebidas alcoólicas a menores de idade, mas que sem muito esforço sabemos que é bastante falha.

Lembro de me chamar a atenção alguns países no qual a tradição islâmica é vigente na sociedade e, portanto, o álcool é restrito ou proibido. Fato que obviamente não impede que pessoas bebam escondidas, alimentadas por um mercado paralelo. Lembro-me de Isfahan, uma das mais belas cidades iranianas que conheci em 2017. Nela, flagrei adolescentes enchendo a cara junto às belas ponte da cidade. Houve também um fim de tarde na cidade marroquina de Fès, onde homens se aglutinaram em um estabelecimento para seu happy hour, regado a chá e muito café.

Em terras brazucas, é fato que se encontra bebida alcoólica em todo o lugar. Talvez seja mais fácil comprar uma cerveja do que um litro de leite, não é mesmo? Acima citei países onde o álcool é proibido, mas há uma imensidão de países europeus como Finlândia e outros onde comprar álcool é algo difícil de se fazer. Isso, pois há poucos lugares e as compras são restritas. Mas mesmo assim o tema o alcoolismo assola a vida de muitos países da Europa.

Moçada alcohol free

Festa sem álcool no Festival DeRose em Portugal.

FESTA SEM ÁLCOOL NO DEROSE FESTIBAL EM PORTUGAL. FOTO: Lino Silva, NO DETALHE: MARIA CRAMÊS

Na coluna Beber menos ou nada está na moda, do professor e pesquisador Ronaldo Lemos, é destaque uma pesquisa em que de cada 4 adultos na Inglaterra, 3 dizem estar de alguma maneira moderando o consumo de álcool. E o mais surpreendente é que são também os mais jovens, entre 18 e 34 anos, que apresentam menor consumo de álcool e mais moderação. Quem imaginaria que a faixa dos jovens que sempre liderou os índices de consumo iria mudar e agora são os 30+ os beberrões de plantão!

O mundo está mudando mesmo e cabe a você saber qual seu espaço neste planeta onde não beber finalmente parece ser uma opção viável e respeitada. Quantos ainda não encaram o álcool como foram se sociabilização quase que obrigatória?

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