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As mudanças que a mudança traz
A jornada da vida é mudança constante (Foto: Handiwork NYC/Unsplash)
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Acabei de finalizar um processo de mudança de casa. Já mudei de casa antes. Ao todo já passei por 14 mudanças de endereço. Porém nesta última agora, eu sofri muito física e emocionalmente.

Não entendi nada, porque eu não tinha motivos para sofrimento, já que esta mudança era algo muito positivo e pela qual batalhei para conquistar.

Foram 12 dias consecutivos de algo que apenas eu mesma poderia fazer: selecionar o que eu levaria para a casa nova, tudo o que eu doaria, o que venderia, o que deixaria para trás.

Eu fiquei neste período num estado de exaustão profunda, vontade de chorar, irritação e mau humor que nunca tinha sentido antes.

Ao mesmo tempo estou fazendo uma reforma geral no apartamento novo. Então selecionei também o que iria para um depósito até o fim da reforma.

Separei o que ficaria comigo durante essa temporada na casa do meu namorado, e todas as coisas das quais eu me despediria e daria novo destino.

O exercício de olhar para si na mudança

Mas eu não estava conseguindo traduzir o que eu estava sentindo. Liguei e comentei com a minha irmã, e ela me disse que quando mudou de casa, passou exatamente pela mesma coisa. Que queria berrar a cada caixa que fechava.

A verdade é que nesses momentos a gente acessa muita energia parada e acumulada. Remexe em coisas que estavam anos ali esquecidas. E quando você levanta o tapete, porque não tem outro jeito, a poeira é obrigada a aparecer.

Eu me sinto em reforma, mudando coisas dentro de mim. Eu quero viver leve. Quanto mais para frente eu ando, menos coisas eu quero ter. Quanto mais longe eu vou, mais leve quero minha mochila.

E sinto claramente que o que eu vivi física e externamente, estava o tempo todo refletindo meu processo interno. Parece óbvio, mas só para quem quer enxergar.

Foram muitos aprendizados nessa mudança. Eu, que não sei pedir ajuda, pois não tive colo pra recorrer e aprendi a me virar sozinha, dessa vez aprendi de todas as formas possíveis.

Ainda teria mais seis dias pra finalizar a mudança e entregar o apartamento. E não conseguia falar mais. Com a sabedoria de administrar crises e ótimo administrador, meu namorado me convenceu a delegar tudo.

Tenho dificuldades nisso, pois muitas das vezes que deleguei questões importantes, tive problemas e prejuízo. Então pensei: o que poderia dar tão errado?

Fui convencida e me rendi: chamei duas assistentes, um pintor, uma faxineira e fui viajar. Orientei. Deleguei. Acompanhei de longe. Deu problema? Deu. Mas deu tudo certo no final também. E sem o desgaste que eu teria.

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A dor que carregamos não é só nossa

Viajei por 10 dias. Fui para um retiro espiritual. Eu não me despedi do lugar que morei feliz por 10 anos. Não dei a última suspirada antes de fechar a porta.

E tudo bem, eu já tinha encerrado um ciclo ali. Já não era necessário permanecer mais tempo chafurdando cantinhos.

No retiro espiritual que participei com um grupo de líderes, vivi um momento de muita dificuldade de liberar uma dor ancestral. Não minha, mas minha dor também, já que carregamos a energia de algumas dores de nossos antepassados em nossas células.

Na finalização de uma cerimônia do daime, todos já estavam cantando felizes e leves, entretanto, eu estava sufocando. Estava sentindo uma dor profunda no peito que me sufocava e não me deixava respirar.

Com muito acolhimento, sabedoria e amor, recebi reiki e acupuntura. Senti a energia passando pelos meus chakras alinhando e me equilibrando.

Me senti literalmente naquela cena do filme Avatar, quando a doutora Augustine (Sigourney Weaver) está morrendo e o povo Na’vi de Pandora une-se em volta da Árvore da Vida para ajudá-la a transcender de corpo físico humano para o corpo avatar.

A mudança dói, mas cura

A energia de amor de todos ali me curou naquele momento. Foram muitas curas para mim. A primeira foi me permitir ser vulnerável e pedir ajuda. Na frente de todos.

Eu que pareço forte, independente e corajosa, passei pela maior prova de coragem: mostrar-me vulnerável e do lado avesso. Me deixei ser ajudada. Enfim, eu me permiti receber amor.

Como dói mudar. Em todo processo de mudança, precisa mexer no que está guardado, empoeirado e esquecido. Mexer em coisas que você nem lembrava mais.

A mudança é constante

Na minha casa tinham muitas coisas da minha avó: louças, discos antigos, certidão da casamento dela, roupas dela que guardei. E muitas coisas da minha mãe também. Na minha alma e células, muitos traumas, dores e mágoas dessas ancestrais mulheres.

Mudar é andar para frente. Sem transformação, não há evolução. Eu desapeguei de dezenas de caixas pesadas, limpei muita poeira esquecida. Neste momento, minha alma está morando mais leve no meu corpo sem casa.

A reforma da minha casa nova vai acabar daqui a uns meses, mas a da minha alma não. Essa reforma e construção não vão acabar nunca.

Tenho muito amor para doar. E sinto que quanto mais amor eu dou, mais leve eu fico. E é assim que eu quero ser: leve. A mudança não acaba.

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