A importância de respeitar os sonhos na primeira infância
Como incentivar sonhos e objetivos de forma respeitosa, transformando cada etapa da infância em um solo fértil para um futuro de transformação sistêmica
Lembro de um dia em que minha filha com cinco anos me disse que queria ser astronauta para “dançar com as estrelas”. A simplicidade e a grandeza daquele sonho me emocionaram. Os sonhos na primeira infância são assim: livres, sem os limites da realidade. Eles nos lembram como nossa imaginação é capaz de criar mundos inteiros.
Segundo a psicóloga e pesquisadora Alison Gopnik, crianças pequenas têm cérebros comparáveis a “pequenos cientistas”. Elas experimentam, observam e sonham como parte de seu desenvolvimento natural.
A primeira infância é, portanto, a fase que pais e cuidadores têm a oportunidade de nutrir a imaginação e, ao mesmo tempo, começar a introduzir conceitos de propósito e perseverança.
Os sonhos na infância, segundo a ciência
Estudos mostram que crianças com pais que estimulam o pensamento criativo têm mais facilidade em estabelecer objetivos a longo prazo na adolescência e na vida adulta.
Por exemplo, um estudo da Universidade de Stanford revelou que crianças expostas a um ambiente encorajador tendem a desenvolver mais resiliência frente a desafios futuros.
Essas práticas diárias incluem ouvir com atenção quando as crianças compartilham suas ideias, e envolver-se em brincadeiras criativas que estimulem a imaginação. Mas, acima de tudo, criar um ambiente em que elas possam falhar e aprender com isso.
O budismo nos ensina o valor do momento presente. Quando enfim aplicamos isso à infância, entendemos que os sonhos de uma criança não precisam ser moldados ou ajustados para se tornarem “práticos”.
Estar verdadeiramente presente significa validar suas fantasias como a semente de algo maior, permitindo que elas floresçam no tempo certo.
Os sonhos mudam após a primeira infância
Quando chegam à pré-adolescência, os sonhos começam a enfrentar a barreira da autocrítica e do julgamento externo. Crianças mais velhas já começam a dizer “mas eu não sou bom nisso” ou “e se rirem de mim?”.
A adolescência amplia esse cenário. A busca por aceitação social pode fazer com que os jovens abandonem seus objetivos, especialmente quando o fracasso é visto como algo definitivo.
A psicóloga Carol Dweck, conhecida por seu trabalho sobre mindset, destaca que a mentalidade de crescimento ajuda os adolescentes a enxergar habilidades como algo que pode ser desenvolvido. Contudo, os fracassos, como oportunidades valiosas de aprendizado.
Para nós, pais, mães e tutores, o desafio está em ensinar que sonhar vai além de estabelecer metas realistas. Trata-se também de valorizar o processo, aprendendo com as tentativas e com a jornada de buscar esses sonhos.
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Adultos influenciam nos sonhos das crianças
Uma reflexão importante: o quanto você, como mãe, pai, permite que os seus próprios sonhos sejam vividos? Frequentemente, sem perceber, transferimos nossas frustrações ou expectativas para as crianças. Queremos que eles tenham aquilo que não tivemos, mas isso pode levar a cobranças desnecessárias.
O budismo sugere que a verdadeira mudança começa dentro de nós. Antes de incentivar sonhos nos filhos, pergunte-se: “Quais são os meus próprios sonhos? Estou vivendo-os?” Quando você se reconecta com seus objetivos, passa a ser um exemplo vivo de que sonhar e realizar é um processo contínuo e enriquecedor.
Como incentivar os sonhos na infância
- Acolha sem julgar: ouça os sonhos das crianças sem corrigi-los ou sugerir algo mais “realista”. Valide seus sentimentos.
- Dê exemplos reais: compartilhe histórias de pessoas que seguiram seus objetivos, incluindo os altos e baixos.
- Incentive o aprendizado contínuo: se seu filho sonha em ser músico, ofereça a chance de experimentar um instrumento, mesmo que ele desista depois. Afinal, o processo importa mais do que o resultado.
- Reforce a resiliência: mostre que erros e tropeços fazem parte da jornada.
- Pratique o autoconhecimento: avalie como suas ações e palavras podem influenciar as crenças de seus filhos sobre o que é possível alcançar.
- Construa sonhos em conjunto: crie momentos para traçar pequenos objetivos familiares. Isso reforça, sobretudo, a ideia de que alcançar metas é um trabalho em equipe.
Sonhos e objetivos são sementes. Sendo assim, precisam de cuidado, paciência e, acima de tudo, um solo fértil de apoio e amor. A infância e a adolescência são fases para plantar, e você, como mãe ou pessoa responsável, é a guardiã desse jardim.
Para aprofundar no tema de metas realistas e incentivo ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, recomendo o documentário Pro dia nascer feliz, dirigido por João Jardim. O filme apresenta histórias de adolescentes de diferentes realidades socioeconômicas, ilustrando como seus contextos influenciam seus sonhos e desafios.
Ao final, lembre-se: a jornada é tão importante quanto o destino. Que você e seus filhos sigam sonhando, sempre.
Cada dia é uma oportunidade única de aprendizado e crescimento. Desejo a você dias de luz e amor. Obrigada por estar aqui e até o mês que vem!
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