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Introdução alimentar de bebês exige respeito com o tempo de cada um
Introdução alimentar interfere na relação com a comida no futuro (Foto: hui sang/Unsplash)
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Ana Vitoria Bilski, 21 anos, começou a introdução alimentar da sua bebê, Melanie, no momento em que ela completou seis meses de vida. Não só o marco da idade foi importante para a decisão de oferecer outros tipos de alimentos além do leite materno.

Outros fatores foram decisivos, como o fato de Melanie conseguir se sentar sozinha e não ter mais o reflexo de protrusão de língua, que é um ato inconsciente, comum aos bebês, de colocar a língua para fora para evitar engasgos. Iniciava-se então uma nova jornada na vida da bebê e da família.

“Desde o início foi algo muito desafiador porque ela não aceita os alimentos de maneira fácil, ela não gostou dos alimentos. Ela tem a curiosidade de pegar neles, de brincar, mas na hora de comer, não fica muito animada”, relata a mãe, dois meses depois da introdução alimentar da bebê.

Ela comenta que ao longo desses dois meses, já tentou vários métodos para que ela tenha mais prazer ao comer, desde papinhas industrializadas até alimentos amassados com garfo.

Entretanto, ela percebeu que quando oferece os alimentos em forma de pasta, Melanie não demonstra muito interesse. Por esse motivo, ela escolheu oferecer alimentos em pedaços maiores, e agora a bebê tem a liberdade de tocar e interagir com eles.

Ela ainda conta que sua filha tem preferência por determinadas comidas. “O engraçado é que quando a gente vai na casa da minha sogra, a avó dela, ela come bastante. Comida de avó tem mesmo algo de bom e diferente. Minha sogra tem uma mão poderosa para comida”, brinca.

Ana Vitoria e Melanie exemplificam a história de muitas famílias na fase de introdução alimentar de bebês. Mas como cada criança é diferente, esse período também vai ser singular.

Não existe uma maneira única de conduzir esse momento, assim como não é possível dizer como cada criança vai se comportar diante dos alimentos. O mais importante para esse momento é conhecer a criança, respeitar o seu tempo e prestar atenção aos sinais que ela dá.

Bebês devem estar prontos para a introdução alimentar

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a introdução alimentar começa aos seis meses e vai até os dois anos da criança. A idade para começar a oferecer diversidade de alimentos para a criança é fundamental para a saúde na infância e até ao longo da vida.

Olívia Farias, nutricionista especialista em introdução alimentar, destaca que, mesmo que a criança tenha completado seis meses de idade, é preciso garantir a presença dos sinais de prontidão para uma introdução alimentar saudável e respeitosa. “Respeitar o início da introdução alimentar é fundamental por questões fisiológicas, como a presença das enzimas digestivas e a formação da microbiota intestinal, que só acontecem nessa fase da vida“, explica. No caso de bebês prematuros, ela alerta que é preciso corrigir a idade e fazer a introdução meses depois.

Confira os sinais dos bebês que indicam a chegada da fase de introdução alimentar::

  • Sentar com o mínimo de apoio. Isso garante mais facilidade de manipular os alimentos, além de diminuir riscos de engasgo.
  • Ausência da protrusão da língua (reflexo em que o bebê fica colocando a língua para fora da boca). Se esse reflexo ainda está presente de forma intensa, a criança não vai conseguir ingerir alimentos, uma vez que vai expulsá-los.
  • Levar objetos à boca constantemente. Essa é uma demonstração de interesse por novos sabores e novas texturas

Ela aponta que é essencial para a saúde do bebê perceber se ele tem tudo que precisa para iniciar essa nova fase de desenvolvimento. A interação que o bebê tem com os alimentos, por exemplo, é um fator que deve ser avaliado. “A introdução alimentar é uma nova habilidade para a criança. Ela tem etapas que precisam ser respeitadas. Além disso, começar a introdução alimentar antes da hora é muito perigoso, pode aumentar os riscos de engasgo, de alergias alimentares e de intoxicação”, alerta a especialista.

O melhor método é o que traz segurança

A idade chegou e há presença clara dos sinais de prontidão. Qual o próximo passo para a introdução alimentar?

A comida pode ser oferecida de diversas maneiras: liquidificada, na forma de papinhas, amassada com garfo, e em pedaços maiores. Como no método que permite que as próprias crianças manuseiem e levem o alimento à boca (o famoso Baby Led Weaning (BLW), que em português é traduzido para algo como “desmame guiado pelo bebê”). Por último, há o tradicional método em que pessoas adultas são responsáveis por oferecer a comida na boca da criança.

“Às vezes a gente planeja, pensa e se prepara, mas o bebê vai lá e nos guia por um outro lado”, declara Olívia Farias. Dessa forma, é preciso observar o comportamento do bebê e entender o que funciona melhor para ele e para a família. “O melhor método é aquele que deixa a pessoa cuidadora segura. Você precisa ter segurança sobre o que está fazendo.”

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E se o bebê não comer?

A nutricionista Thalita Muller reforça a importância de respeitar o bebê, seu tempo e também seus gostos nessa nova etapa. Para ela, é preciso administrar a ansiedade e as expectativas. “Os pais iniciam a introdução alimentar esperando que o bebê vá comer logo no início, e não é assim. O bebê precisa passar por uma fase de aprendizado. Comer alimentos sólidos e sentir outros sabores é algo muito novo para as crianças dessa fase etária”, declara.

Nesse sentido, é possível que a criança não aceite os alimentos oferecidos, e isso pode ocorrer por diferentes motivos. “O bebê ainda está aprendendo a comer e é comum recusar por não estar habituado àquele novo sabor, à nova textura, ou por ainda não se sentir confortável com o novo alimento. Às vezes é porque no momento, a criança não está com vontade de comer aquele alimento, como também ocorre com os adultos”, explica.

Por isso, é preciso testar as formas de oferecer os alimentos, até encontrar aquelas em que a criança sinta satisfação em se alimentar. “Se houver recusa, é só voltar a oferecer novamente em outro momento. O bebê pode ter recusado pelo fato de ser um alimento novo, por ele ainda estar conhecendo aquele sabor e aquela textura”, aconselha Thalita.

Ela indica ainda que é preciso oferecer o mesmo alimento, de formas diferentes, de dez a quinze vezes com intervalo de duas a quatro semanas, para afirmar com certeza de que o bebê não gosta daquilo.

Sinais de sucesso na introdução alimentar

Para Olívia Farias, avalia-se uma boa introdução alimentar a partir da evolução do bebê e da forma com que os alimentos passam a ser oferecidos. Nesse sentido, é preciso ver cada criança de forma individualizada.

“O sucesso de uma introdução alimentar depende muito de onde esse bebê começou. Há bebês que no início nem toleram o alimento na sua frente, mas que depois de algum tempo já estão pegando, amassando e experimentando a comida. Isso a gente pode considerar uma evolução. Por outro lado, há bebês que começam a introdução alimentar comendo e se fartando com prazer”, explica.

Ela destaca que a autonomia é um dos fatores mais importantes para se considerar nesse processo. A autonomia se desenvolve com a participação ativa do bebê na sua própria alimentação, ou seja, quando ele explora mais os alimentos e leva-os à boca. Outro elemento importante é a variedade alimentar, tanto na forma de prepará-los quanto na de oferecer.

Uma boa introdução alimentar traz um futuro saudável

Para Thalita Muller, a introdução alimentar não está apenas relacionada com a nutrição na primeira infância. É nela que se começa a trabalhar o comportamento alimentar que vai guiar a pessoa ao longo da vida. Portanto, estabelecer bons parâmetros nesse processo contribui para o estabelecimento de uma alimentação saudável contínua.

“O que um bebê aprende na introdução alimentar é o que ele vai tomar como razão, como certo. Se ele aprende primeiro a comer alimentos saudáveis e tem uma boa base alimentar, no futuro, a chance dele priorizar esse tipo de opção é maior porque ele aprendeu a comer o que faz bem”, ela exemplifica.

A introdução alimentar é o momento ideal para se fincar os parâmetros para uma boa relação com a comida. “Muitas vezes, um bebê que é forçado a comer acaba criando uma resistência na hora das refeições. No futuro, isso pode gerar uma certa ansiedade na hora das refeições. Um bebê que é obrigado a “raspar” o prato pode crescer com essa associação de que ele precisa sempre comer até o fim.”

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