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A ciência me trouxe de volta
Alexandra Lee | Unsplash
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Neste artigo:

Depois de uma ausência de dois meses, estou de volta para a minha coluna mensal. Na última edição, em novembro do ano passado, descrevi com sinceridade os detalhes de uma guerra contra um câncer, que já me levou a várias batalhas. Cada uma com suas peculiaridades. Cirurgia, radioterapia, vigilância, monitoração, teve de tudo.

Desta vez, aconteceu tudo meio igual, mas também tudo muito diferente. Como sempre, me valendo da formação em Medicina, saí estudando o que deveria acontecer comigo para o atingimento do resultado esperado. Propostas de tratamento, processos incluídos em cada fase, profissionais envolvidos e o que seria exigido de mim, tanto fisicamente quanto emocionalmente.

Apoiado na atividade profissional de cientista, conferi cada detalhe de cada etapa prevista. E encarei o desafio de uma intervenção cirúrgica com o uso de um robô.

Foi tudo bem em todos os sentidos. Me recuperei rapidamente da cirurgia, para surpresa até dos profissionais que conduziram o tratamento. Sim, passei por alguns episódios dolorosos. Afinal, braços de um robô entrando no seu tórax para remover um pedaço do pulmão não é algo que aconteça impunemente. E quando doeu, reclamei da dor para poder ser devidamente medicado.

Ida e volta nas asas da ciência

Sério mesmo, dava para falar de um monte de coisas sentidas e aprendidas neste caminho de ida e volta. De medo, de esperança, de resiliência, de paciência, fé, confiança e uma infinidade de outras sensações e lições que as agruras da vida nos impõem, a maioria delas – senão todas – já tratadas em algum artigo neste portal.

Mas não vou por aí. Quero ir por outro caminho, tão debatido quanto combatido nos tempos atuais. Vou por outro caminho porque foi por ele que retornei mais forte depois desta ausência.

Também mais convencido de que o melhor caminho para a sobrevivência da espécie, incluindo a mim mesmo, pode ser resumido em uma palavra: ciência.

Bom esclarecer que ciência não é aquela prática hermética que ninguém entende, que dita regras sem explicar por que, nem onde, muito menos como. Ciência é uma forma de facilitar o entendimento das pessoas, dando a elas um caminho crível de compreensão da natureza, dos seres vivos e até delas mesmas. E foi com o uso desta ciência, que todo o arsenal usado no meu tratamento veio sendo construído e aperfeiçoado.

Foi com o uso da mesma ciência que, na minha revisão pós-operatória, encontramos uma drástica redução dos marcadores usados para monitorar o meu câncer. É a partir desta mesma ciência, que saio do tratamento que me ausentou deste espaço de colunistas, com um ganho de mais dez ou doze anos de estrada na vida, segundo os profissionais que me atendem. Vale lembrar que esses profissionais decidem e agem sempre apoiados em conhecimentos construídos e testados no ambiente científico.

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De onde vem?

A palavra ciência designa um conhecimento ou prática que foi sistematizado. E sistematizado se refere a algo que está ordenado, tem um método e, sobretudo, pode ser repetido. Para isso, a ciência segue à risca, os preceitos e recomendações da metodologia científica. Essa, por sua vez, teve alguns de seus métodos descritos na história ancestral de egípcios e gregos, mas só foi sistematizada há cerca de mil anos, na civilização árabe.

Atribui-se a Ibn Al-Haithan a primeira descrição dos pilares da metodologia científica, sobre os quais se apoia toda a evolução tecnológica que vem em seguida. Até chegar no robô usado no meu tratamento e nas interpretações de exames de biologia molecular e genética clínica que me creditam mais dez a doze anos de vida pelo menos.

É daí que vem a ciência e não do comentário “achista” encontrado entre tiradas de humor barato que prolifera na internet.

E para onde a ciência vai?

Para onde vai?

Neste exato momento, enquanto muitos se dedicam a discussões menores por serem baseadas em “achismos” – um acha uma coisa e o outro acha outra –, o mais espetacular engenho construído pela ciência criada pelo homem está a um milhão e meio de quilômetros da Terra, em um lugar conhecido pelo estranho nome de L2 de Lagrange. Esse engenho, que levou muitos anos para ser construído, foi colocado em um ponto distante e gelado. Dali, será possível usar todo o conhecimento científico da sua construção para observar os confins do universo.

Foto do telescópio James Webb no espaço.

Créditos: NASA/Divulgação.

É para lá que vai a ciência, agregada em um engenho chamado James Webb Space Telescope (JWST). Busque aí na internet que você vai encontrar mais informações. Por agora, consigo resumir um pouco para entenderem.

O que o JWST vai fazer naqueles confins do universo? Procurar respostas a perguntas do tipo “…de onde você veio?”. Ou “…só os nossos rios têm água?”. Ou mesmo “…estamos sós ou tem mais gente por aí?”.

Lá do L2 de Lagrange, esse agregado técnico e científico pode nos mandar algumas respostas para alongar a estrada da humanidade.

Eu pretendo continuar seguindo por essa estrada. E você?

Leia todos os textos publicados na coluna de Fábio Gandour em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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