Para acalmar a mente: pensamentos ponto a ponto
O fazer manual acalma a mente, o coração. Independentemente, de idade, gênero ou condição social.
O fazer manual acalma a mente, o coração. Independentemente, de idade, gênero ou condição social.
Há muitos anos cultivo o hábito de carregar algo manual para momentos de espera, ou para instantes que nos demandam atenção e as mãos inquietas pedem ocupação. Entretanto, não poucos foram os micos pagos em lugares públicos, seja com tricô, um crochê ou algum bordado.
Ainda advogada, lá pelo distante 1999 (século passado, minha gente), lembro de me sentir semi-nua num congresso jurídico. Simplesmente porque, para manter a mente atenta ao que os palestrantes monotonamente comunicavam, tirei da bolsa uma pequena caixa que continha agulha, linha, tesoura e alguns retalhos de tecido cortados em formato circular. Dessa forma, enquanto o palestrante falava, os retalhos da minha caixinha viravam fuxicos – um artesanato simples e versátil de fazer.
Por fim, lembro de me sentir um tanto constrangida — dormir sentada na cadeira em pleno seminário era possível, mas mexer as mãos em movimentos lentos e contínuos de costura, não. Os olhares curiosos traduziam pensamentos do tipo “que esquisitice é essa?”.
Olhares alheios
Segui minha estrada — advogada por formação que virou artesã por convicção — não mais me importavam os olhares e pré julgamentos alheios. A partir de então não mais costurei, bordei ou tricotei discretamente debaixo da mesa. Passei a fazê-lo publicamente. Com direito à diversão de observar as reações alheias.
Em outras palavras, essas “loucuras proibidas” aliviaram inclusive momentos de ansiedade alheios. Em tempos de apagão aéreo em véspera de Natal, a sala de espera do vôo que eu aguardava virou uma minioficina de fuxico, gratuita, logicamente! Véspera de vôos eram sempre momentos de planos criativos: como embarcar com agulha e tesoura a bordo (aquelas tesourinhas escolares sem ponta sempre passaram impunes no raio X.
Crochê e futebol
Há uns 2 anos, a família em peso foi ao estádio de futebol. Diante do convite, minha condição era simples e indolor aos demais: levaria meu crochezinho. E assim o fiz, os longos minutos que transcorreram os dois tempos do jogo + intervalos renderam momentos bem gostosos e divertidos ao lado da minha turma gremista. O Grêmio perdeu o jogo, mas voltei para casa feliz da vida– o crochê rendeu muito!
Nesse domingo, viralizou na redes uma imagem que me arrancou suspiros. Depois do pódio, o medalhista de ouro Tom Daley chamou atenção por estar tricotando na arquibancada, enquanto acompanhava as competições dos colegas.
Sanidade e tricô
Porém, confesso a você, querido leitor, por aqui as Olimpíadas têm sido uma fresta de ar puro em meio à poluição de aberrações políticas ocorridas na pandemia. Logo, eu realmente senti saudade de PAUTAS POSITIVAS, coisas bacanas que acontecem por aí. Por isso, ao me deparar com o desprendimento e alegria do jovem atleta tricotando, meu coração pulsou forte!
Por fim, sem entrar no mérito de gênero, idade ou discussões sobre diferença de competências cognitivas como HABILIDADES entre homens e mulheres (acredite… manualidades como tricô e crochê ainda são vistas como atividades executadas exclusivamente por vovozinhas), a declaração do simpático Tom Delay ao site oficial do evento me emocionou: “a única coisa que manteve minha sanidade ao longo de todo esse processo foi meu amor por tricô, crochê e costura”.
Eis a prova viva e super atual de quem acredita que o fazer manual acalma a mente, o coração. Independentemente, de idade, gênero ou condição social. Pense nisso, com carinho. Beijos meus!
LU GASTAL trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro Relicário de Afetos (Editora Satolep Press) e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor.
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