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Carta para o pai
Photo by Unsplash carta para o pai
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Neste artigo:

“Oi pai! Há exato um ano da tua partida, as palavras de hoje são nossas; te escrever cartas acalenta minha saudade. 

Sinto uma saudade intensa no meu peito que ainda pulsa por respostas, mas hoje percebo que é possível sentir dores juntamente com alegrias. Esse, aliás, talvez tenha sido o maior aprendizado desses tempos atuais, permitir frações de felicidade no meio das dificuldades.

Neste ano chorei muito, foram vários lutos num período só. E algumas feridas ainda cicatrizam enquanto a estrada segue, como deve ser.  Têm horas em que sinto muito medo, e deve ser desse medo que nasce a coragem, porque da maneira como me sinto frágil, me vejo corajosa. São as tais coisas que não têm explicação. Só descobrimos as forças quando delas precisamos.

Carta

Dizem por aí que todos somos imperfeitos, o negócio é assumir essa imperfeição e viver bem, diante nossa própria vulnerabilidade. Sabe pai, a coisa anda tão confusa por aqui que o jeito é buscar felicidade nas pequenas alegrias. Essa foi das minhas mais importantes descobertas; que a tal felicidade está nas pequenas coisas. Tu que eras uma pessoa que apreciavas as coisas simples da vida, ficaria orgulhoso em me ver, nesses tempos duros de pandemia. A Luciana agitada e apressada, embora siga ainda agitada e apressada, aprendeu a contemplar, a esperar o tempo das coisas. E, por vezes, se surpreende ao constatar que ele, o tempo, acomoda quase tudo.

Sabemos que em períodos ásperos é raro enxergar pequenas alegrias nos dias, mas é fato: olhar coisas boas nas coisas difíceis torna-se um hábito, tipo escovar os dentes três vezes ao dia. Sabe por quê, pai? Porque ela, a tão desejada felicidade, está no caminho, mas a gente tem de estar atento.

Pandemia

Hoje, um ano depois do início dessa “quarentena até então infinita”, vivemos uma fase em que se olha para trás e pensa “uau! Chegamos até aqui e, dentro do possível, está tudo bem”. Só nos resta agradecer, de verdade. Tenho certeza que atualmente ter saúde é o maior dos privilégios, mas perceber e sentir alegrias entre as tristezas e incertezas que nos cercam é dos sentimentos mais incríveis e gostosos!

Amparo-me nas palavras do poeta/filósofo/professor Mário Cortella: “felicidade é um desejo permanente, mas uma ocorrência eventual”. E por aqui sigo a minha estrada, com mudanças, imperfeições, desafios, recomeços e sempre, sempre, muito amor no coração e disposição de curtir as felicidades que me visitam! De resto, por aqui estamos todos bem, fica tranquilo! Muita saudade!”

Querido leitor, hoje peço licença por ter usado nosso canal de comunicação para escrever a alguém muito especial. Nesses tempos malucos de pandemia, desnudar o coração é das ações mais especiais para acalmar a alma. Aproveitando o momento, se você  tiver seu pai ou sua mãe, seus avós, alguma pessoa a quem tenha palavras especiais a dizer, não deixe para amanhã. A vida é hoje!

Beijos meus!


Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro Relicário de afetos e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu instagram é @lugastal.

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