Casa bonita
Hoje o porcelanato nos dá toda uma sensação de conforto, tranquilidade, segurança, poder e que visivelmente pode nos transcender a paz de uma verdadeira “casa bonita”. Mas nem tudo são flores
Hoje o porcelanato nos dá toda uma sensação de conforto, tranquilidade, segurança, poder e que visivelmente pode nos transcender a paz de uma verdadeira “casa bonita”. Mas nem tudo são flores
É bem provável que muitos, principalmente nos dias de hoje, não possam ter a percepção de como se vive ou como seria possível se viver dentro de possibilidades que uma casa continha ou contém, no seu verdadeiro habitat de um piso de terra batida.
Tempos que nos faz refletir o quanto de nossa felicidade se tinha quando se vivia e morava numa casa de piso único, onde por suas ondulações que nos permitiram colocar o pé da mesa e até da cama naquele buraquinho que encaixava tão bem.
Ali, sem nenhuma dúvida que ficava firme e segura ao chão, mesmo tendo um leve declínio. E que quando chegasse da necessidade de se varrer, lá vinha minha mãe. Sempre com uma bacia de água na mão e jogando pingos de água, na intenção de baixar a poeira.
Os desafios diários de tempos que se vivia ou até se sobrevivia da busca insana por outros e melhores lugares, que pudessem entender como realmente ser de conforto. Assim, e devida a nossa ingênua capacidade de se viver o dia a dia, ali estávamos, sem lenço e sem documentos. Mas feliz por ter onde morar, e com quem dividir as nossas inquietações.
Éramos crianças e sempre torcendo pelo clima quente. Tínhamos as nossas vontades e no clima mais quente do ano as possibilidades de se divertir sempre eram maiores. O corre, corre pelos cômodos da casa nos permitia a inventar sem limites o que uma criança juntada a outras poderiam fazer.
O calor de cuidar bem
O tão famoso esconde/esconde, sem nenhuma dúvida era o máximo de nossa alegria, pois quanto mais escuro o lugar melhor. Imagine debaixo das camas, sentido aquele chão geladinho com cheiro de terra molhada.
As brincadeiras – e quando muito barulhentas -, sempre éramos convidados a fazer lá fora. No quintal, estripulias além da conta. Ali sim, nossa permissão poderia até extrapolar sem nenhuma cobrança de modos que não pudessem atrapalhar os adultos.
Os espaços, principalmente nos quintais, o que nos separavam de uma casa a outra, eram arames farpados se sustentando em pequenos postes de madeiras. E assim a nossa imaginação sempre ultrapassava dos limites. Onde na correria de se safar de não ser pego sentíamos cravados nas costas os arranhões, devido às espetadas que nos firmavam como grandes corajosos que invadiam outros quintais. Mesmo assim, e tendo todas essas “perturbações sadias” o que os vizinhos nos permitiam que extravasassem, nas brincadeiras.
Poderíamos não ter o conforto material das coisas, mas sentíamos o calor de que tínhamos de nos cuidar bem, mesmo depois dos arranhões nas costas, onde o bem dito mertiolate tentava nos curar e salvar. Meu Deus, como aquilo doía muito! Poderíamos não ter e nem ganhar o abraço. Mas de maneira calorosa e afetuosa, ouvíamos de longe: vá tomar um banho e venha para o jantar!
A capacidade de amor
Após um grande dia de tantas brincadeiras, não tínhamos a noção de qual seria o critério de escolha, pois éramos quatro para tomar banho numa única bacia de alumínio, e ali era festa, desde que não exagerasse em brincar jogando água para fora da bacia, porque logo em seguida vinha o próximo.
É bem verdade que os valores, sendo esses imperceptíveis para uma criança, por mais que fosse doados à base de lágrimas, eles não podiam nos oferecer nenhum presente, nem sequer poderiam matar a nossa fome, pois sempre ficava um enorme vazio dentro de nós. Mas durante um tempo, sentíamos sua imensurável capacidade de amor, carinho, afeto e muita proteção e melhor conforto junto a nós, quando doados pelos nossos pais.
Casa bonita
Aquele ambiente caloroso, mesmo de chão batido, e que por muito tempo fez parte de nossa história, nos permite hoje a ser mais solidário em qualquer ambiente e situação de nossas vidas. É não perder a essência! Não se abster de seus valores! É credenciar em uma auto avaliação de um tempo, e de quanto esse aprendizado pode nos fortalecer e nos desenvolver a cada dia.
Sem nenhuma dúvida, isso é ter história. Isso é nos convencer que, mesmo numa situação adversa a nossa vontade, os valores quando elencados a um tempo de entendimento, nos faz evoluir! Meu Deus, como eu queria que essa transformação chegasse aos meus queridos irmãos!
Hoje o porcelanato nos dá toda uma sensação de conforto. Sem contar a tranquilidade, segurança, poder e que visivelmente pode nos transcender a paz de uma verdadeira “casa bonita”. Mas nem tudo são flores. O que pode nos emitir certa imaginação, onde os valores se instalam de maneira que, cada um, mesmo tendo seus atos adversos, podem transmitir impulsos que podem nos equivocar.
Talvez, quem sabe, uma ressignificação possa conduzir uma geração menos empoderada a dar mais sentido aos seus impulsos, e assim fazer com que esse sentido possa de alguma maneira contribuir e somar as suas histórias.