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Autoconhecimento: qual o melhor caminho?
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Sempre que visito um lugar novo, volto para casa como se tivesse deixado um pedacinho meu em outras esquinas. Cada canto que conheço parece ser um encontro guiado pelo coração. E, no fim das contas, acabo sempre descobrindo mais sobre mim mesma do que poderia imaginar. Demorei um tempo para compreender que a liberdade e as sutilezas que encontro pelo caminho dizem muito mais sobre mim do que as paredes e o caos. Foi preciso me conhecer aos poucos para entender o quanto esses pequenos momentos me devolvem ao eixo e ajudam a me conhecer mais e mais.

Tornar-se mais íntimo de você mesmo pode até parecer uma tarefa complicada. Mas é, certamente, um passo fundamental para ter uma vida mais leve e harmoniosa. Quando nos conhecemos, dizemos “não” com mais facilidade, aceitamos melhor nossas condições como parte do caminho e nos aproximamos mais do nosso verdadeiro propósito de vida. Mas é preciso coragem para olhar para dentro e encontrar belezas que nem sequer conhecíamos (ou nem lembrávamos que existiam), e também correr o risco de bater de frente com nossas faces obscuras, que tanto relutamos em aceitar.

Pequenos encontros internos

Quando tiramos a máscara do ego, nos aproximamos mais da nossa essência. Dessa forma, temos a chance de nos enxergar (e também de enxergar o outro) com mais amor e menos julgamentos. “Quanto mais nos conhecemos, mais temos discernimento para seguir o que tem a ver com a nossa verdade”, aponta Luana Ferreira, uma das fundadoras do Natural Vibe, um projeto que reúne áreas como a terapia holística, a física quântica e a psicologia como guias para o caminho do autoconhecimento. Luana me contou que, à medida que nos dispomos a desapegar daquilo que não partilha do nosso propósito, mais nos abrimos para a prosperidade e para o reconhecimento de quem realmente somos: “Quanto mais nos deparamos com aquilo que nossa alma reconhece, mais nos entendemos”.

Não há, no entanto, uma fórmula mágica ou uma única direção para chegarmos em nós mesmos: o caminho é individual e se expressa de formas diversas para cada um, em suas buscas particulares. Às vezes, a chave está escondida em uma lembrança de infância, em um curso, em uma viagem que aguardamos há anos. E é a partir desses pequenos encontros que vamos seguir nas próximas páginas. Lembrando que cada um, com suas crenças e suas possibilidades, deve traçar a própria rota e encontrar a chave que abre a porta e gira todo o mecanismo para entender melhor o que o faz realmente feliz. Vamos lá?

Meditar e se conhecer

Os 30 minutos diários que me dedico a silenciar a mente e me atentar para minha respiração são fundamentais para um autoconhecimento mais consciente e cheio de significados. Quando meditamos, nos aproximamos mais das verdades que tanto buscamos. “Para mim, meditação e autoconhecimento são sinônimos. É termos todas as respostas no silêncio”, observa Luana. Segundo ela, a meditação nos alinha com quem somos em essência e anula os efeitos negativos da mente, que tanto nos impedem de enxergar a beleza que trazemos em nós. “Quanto mais tivermos a mente quieta, mais conseguiremos nos desviar da identificação com o ego, despertando a voz da nossa alma”, completa ela. Uma vez desperta, essa voz nos convida a olhar com amor para dentro de nós mesmos, sem julgamentos, rejeição ou mesmo culpa.

Revisitar os cantinhos da infância

Quando somos crianças, todas essas cobranças e dores não existem. É que, enquanto pequenos, ainda não fomos tomados pelos medos, incertezas e armadilhas que nos distanciam tanto da nossa essência. O resgate das nossas raízes e memórias é importante nesse processo de busca interna e pode, muitas vezes, nos devolver diversas certezas que perdemos ao longo do caminho. Pense, puxe lá do fundo do baú da lembrança quais eram seus lugares preferidos, quais cheiros o faziam sorrir, quantos sonhos corriam com você no quintal de casa. Há muita espontaneidade e liberdade guardada nos lugares em que crescemos e em tudo o que amávamos. Por isso, devemos  ouvir aquela voz que ditava nossas brincadeiras, desejos e guiava nosso mundo com pureza e fantasia. Ela tem muito a nos contar sobre esse infinito que somos.

Ver as belezas do mundo

O escritor Rubem Alves, em uma de suas crônicas, nos convida a ver um infinito de encantos também em volta de nós. Mas, para ele, só conseguem vê-los “aqueles que têm belezas dentro de si”. Fazer o caminho inverso também é possível: recolher o que há de belo por perto e trazer para si por meio do olhar, como faz o fotógrafo Lucas Gobatti. Em suas andanças (ou movimentos, como prefere chamar), Lucas caminha com o objetivo de conhecer o outro e capturar esses encontros através de suas lentes (e seu coração). “Só me conheço tão bem hoje por me permiti viver a vida às vezes tão mínima que parece até primitiva e, assim, poder perceber as coisas mais sutis em mim”, ressalta. Mais do que uma profissão, a fotografia é para ele uma oportunidade de compartilhar aquilo que vivencia e despertar consciência para o que o rodeia.

Congelar momentos

Esse exercício de observação pode contar muito sobre nossas emoções, sentimentos e valores. Quando somos movidos por uma paixão, por algo que é valoroso para nós, temos nas mãos uma chave importante para nos aproximarmos mais de quem somos. “A foto é um pedaço da gente,uma forma de ver para onde seus olhos apontam”, observa Lucas Gobatti. Em seu perfil no Instagram (@gobattifotografia), o fotógrafo cria, de forma poética, uma espécie de álbum de memórias, contando histórias dos lugares por onde passou (como a Amazônia e os Andes) e das pessoas que conheceu, sempre com o propósito de dividir seus aprendizados. Esses momentos congelados nas fotos são capazes de reavivar em nossa memória, de forma instintiva, parte do que é realmente essencial para nós. E perceber isso é uma forma bonita de se conhecer.

Escrever, escrever…

As palavras também têm esse poder de guardar as memórias e devolver para nós algum sentido. Seja uma carta, um poema, uma rima, um conto. Quando escrevemos, temos a chance de colocar para fora aquilo que se passa dentro de nós e que, muitas vezes, não conseguimos expressar de outra forma. Colocar no papel (ou na tela do computador) aquilo que sentimos é também um jeito de se conhecer melhor e de encarar medos, dores e alegrias, com um olhar mais acolhedor. É importante também que deixemos de lado armadilhas como a autocrítica ou o perfeccionismo excessivo, ambos uma forma de autossabotagem. Quando essas pequenas coisas são “esquecidas”, tendemos a ser mais verdadeiros com aquilo que transformamos em palavras. Aí deixamos livre a nossa capacidade de criar e de nos reinventarmos.

Mexer o corpo para o autoconhecimento

Esse despertar da consciência para o autoconhecimento também pode vir da prática de uma atividade física. Tem gente, por exemplo, que sente que está mais perto de si quando nada por alguns minutos. Há quem goste de correr, dançar e outros que se satisfazem com as manobras cadenciadas do pilates. Cada um deve encontrar aquilo lhe agrada, porque apenas dessa maneira terá foco e prazer no que faz. Quando estamos em movimento, condicionando nosso corpo às energias que o alimentam e que o fazem pulsar, temos consciência plena do espaço que ocupamos, das nossas emoções e nossos  sentidos. Esse reconhecimento é parte importante no processo de se autoconhecer, pois é a partir dele que aprendemos mais sobre nossos limites, nos colocamos disponíveis e respeitamos mais a vulnerabilidade do nosso próprio corpo e também da nossa mente.

Identificar os símbolos

As diversas formas de expressão também remontam parte daquilo que somos. Os trabalhos criativos, a dança, as artes visuais e o teatro, por exemplo, são para a arteterapia símbolos que podem nos ajudar a jogar luz em nossos cantos escuros. “Um objeto que sempre aparece em seus desenhos pode ter um significado importante em seu inconsciente”, explica o arteterapeuta Levy Vargas. Em seus estudos, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung aponta o processo de “individuação da psicologia analítica” como um sinônimo de autoconhecimento. “Através do reconhecimento desses símbolos, a pessoa entra em contato com seu inconsciente”, explica Levy. De acordo com o pensamento de Jung, é preciso amplificar esses símbolos, identificar sua representação e a influência dela dentro de cada um

Encontrar a sabedoria das cartas

O psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung encontrou, ainda, relações entre o simbolismo do tarô e a nossa realidade. Para ele, as figuras das cartas (ou os arcanos do tarô) são como imagens universais capazes de traduzir parte do nosso inconsciente. Em outras palavras, ao consultar as cartas, trazemos à tona as forças instintivas guardadas dentro de nós para que elas nos ajudem a compreender melhor quem somos. E tudo isso é transformado em energia, que move realmente as cartas e as mensagens por trás delas. Se deixarmos de pensar apenas pelo lado místico ou de focar somente na ideia única de que é possível ler nosso futuro através das cartas, essa sabedoria presente no baralho do tarô passa a fazer mais sentido dentro de nós e, como sugeriu Carl Jung, pode nos proporcionar mais harmonia, equilíbrio e serenidade.

Aprender a silenciar o ego

No entanto, nada disso faz sentido se deixamos o ego falar primeiro. Aquela voz que diz bem baixinho tudo o que devemos ser ou o que não devemos fazer. Sempre deixando de lado as nossas verdadeiras vontades, nada mais é que o ego, cheio de regras, críticas e julgamentos. Por isso, é tão importante olhar para dentro, em silêncio, e identificar o que fazemos por nós e o que movimentamos apenas por vaidade ou capricho. Assim, começamos a encontrar onde o ego se esconde e temos uma chance maior de deixar de acreditar em todas aquelas condições que nos foram ditas ao longo da vida. Aí, damos voz ao nosso eu mais íntimo (aquele que fica guardado atrás dos nossos medos), conseguimos enxergar com mais amor quem realmente somos e encontrar o que nos traz, realmente, mais felicidade e paz.

LEIA TAMBÉM: Confira bons motivos (reais) para se dedicar ao autoconhecimento 

Aceitar nossas imperfeições é fundamental para o autoconhecimento

Quando nos distanciamos do ego, esquecemos também daquela ideia de que devemos acertar sempre e de que não há chance para os nossos erros. Sem aceitar as próprias imperfeições como parte do caminho e do nosso aprendizado de vida, sofremos muito e corremos o risco de ficar sempre presos entre mágoas e desavenças. Exercitar o olhar de compaixão para as nossas ações e perdoar os nossos erros é parte também dessa trajetória longa pelo autoconhecimento. Só nos conhecemos bem quando somos capazes de compreender que a vida é um constante aprendizado, suscetível a obstáculos que só vêm para nos ensinar que podemos sempre superar a nós mesmos e que nada é permanente. Tudo passa. E por isso devemos aceitar com leveza cada fase que estamos vivenciando, das mais felizes às mais duras e tristes.

Permitir-se conhecer o outro também é autoconhecimento

Quando nos desvinculamos das cobranças que depositamos em nós mesmos, além de enxergar com mais clareza o próprio reflexo no espelho e aceitar com leveza nossa companhia, conseguimos ver o outro sem prejulgamentos e entender que cada um passa pelo seu próprio processo de reconhecimento. E isso não nos torna melhores ou piores que ninguém. “O mundo seria muito mais empático se cada um se dedicasse mais a ouvir e ver do que falar”, considera o fotógrafo Lucas Gobatti. Entender nossas diferenças, respeitar nosso tempo e o do outro, também já é, por si só, um grande exercício de autoconhecimento. É se dispor a perceber que, no fundo, embora cada um carregue sua própria bagagem. “Os anseios, os problemas e as alegrias costumam ser os mesmos, e a busca é igual”, como me disse Lucas.

Autoconhecimento: aprender com a solitude

Diferente da solidão, que carrega em si aquele pesar por se estar só, a solitude vem para nos ensinar a importância de convivermos com nossa própria companhia. Sair para tomar um café, ler um livro em uma praça, ir ao cinema ou até fazer uma pequena viagem sozinho é um exercício e tanto nessa jornada. É a partir desse silêncio oferecido pela própria companhia que somos levados a um mergulho na alma e para o autoconhecimento. E, então, é só nessa imersão que podemos perceber com clareza (longe de qualquer julgamento) onde estamos errando. Além de onde escondemos nossas qualidades e, principalmente, temos a chance maior de expandir os pensamentos e ouvir o coração.


Débora Gomes é jornalista e se sente mais próxima de si quando escreve, medita, desenha e caminha.

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