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Abusos e sexualidade ferida
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Neste artigo:

Seria possível alguém superar os traumas e registros causados por um abuso ou violência sexual e se entregar sexualmente livre dessas marcas com prazer e vulnerabilidade? Recebo centenas de mulheres com memórias de abusos buscando ajuda. E honestamente, acho que não existe uma resposta exata para essa pergunta. E sabe por quê? Porque só seremos capazes de obter nossa própria resposta a partir da nossa individualidade e experiências.

Eu, por exemplo, nunca ousaria responder isso com base no que ouço de mulheres que trabalharam essa superação. Conheço muitas que viveram situações extremamente traumáticas (com o próprio pai, por exemplo) e buscaram a cura disso. Parte delas vive relações aparentemente felizes, são mães e relatam não terem esquecido o ocorrido, mas vivem sua sexualidade livres das amarras desses abusos.

Mas aí precisamos entrar em outro contexto também: a ideia que cada pessoa tem sobre sexo, sexualidade e o que é viver isso livremente. O que eu posso afirmar é que falar sobre o que aconteceu é restaurador e curador! Sim! Buscar uma escuta profissional onde a mulher seja ouvida, respeitada e acolhida, é um passo gigantesco para a compreensão do que houve e o início para ressignificar o fato.

Ouça a si mesma

Falar é ouvir a si mesma antes de tudo. Traz todos os sentimentos reprimidos à tona e os deixa se manifestarem – o que libera a mente de muita pressão e pensamentos ruins – libertando o corpo de possíveis somatizações decorrentes de abusos. É um alívio mental, emocional, psicológico e especialmente físico.

A partir dessa fala, fica mais fácil identificar quais pontos ainda precisam ser trabalhados e se é necessário associar algum outro tratamento tanto psicológico quanto físico.

Também precisamos lembrar que os abusos têm várias faces. Muitas de nós pode nunca ter sido abusada, tocada fisicamente. Mas ouviu, viu ou nos fizeram sentir coisas tão ruins sobre nosso corpo e feminino… e são abusos!

Alguém se masturbar na sua frente (sem seu consentimento), passar uma cantada “baixa” ou grosseira ou lhe “comer com os olhos”, é abuso, ok? E tudo isso deixa registros inconscientes na sua mente que podem se tornar irregularidades ginecológicas.

Nossa voz liberta

Para finalizar, em geral as irregularidades desencadeadas por conta dos abusos e violência sexual, se manifestam na vulva, vagina e estão ligadas ao canal vaginal. Nossa vagina é uma espécie de portal que liga nosso universo íntimo, feminino, interior, ao mundo externo. Quando esse portal sofre algum fato doloroso em qualquer instância, alguma irregularidade pode surgir.

Mas, já acompanhei alunas abusadas e que desenvolveram endometriose severa (e aqui volto a repetir, cada caso é um caso e as origens emocionais de qualquer doença requer respeito à individualidade e história da paciente).

Abusos e violência sexual nunca podem sair das pautas feministas e é um assunto político e social. Mas nós, mulheres abusadas, precisamos fazer com que seja nossa pauta também nas sessões de psicoterapia e em grupos de apoio e assistência. Nossa voz, hoje, é o que nos liberta e libertará futuras gerações dessas sequelas também.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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