Esteja lá para o outro! E nunca chore sozinho
Quando presenciamos ou ouvimos sobre um ato de generosidade, quando vemos alguém ajudando alguém, nos sentimos mais leves, felizes e animados em também fazer o bem
Quando presenciamos ou ouvimos sobre um ato de generosidade, quando vemos alguém ajudando alguém, nos sentimos mais leves, felizes e animados em também fazer o bem
Encontrar forças para ajudar o outro mesmo quando estamos exaustos e fragilizados pode ser justamente a solução de todos os seus problemas. Nesta quarentena tenho tido muito tempo para pensar. Primeiramente, sobre o meu caminho e como cheguei até aqui com os recursos internos que tenho hoje para lidar com a instabilidade emocional que momentos pouco previsíveis como este nos traz.
Quando era criança, olhava para os meus pais e achava eles os seres mais incríveis, fortes e poderosos do planeta. Eles trabalhavam, ganhavam dinheiro, dirigiam carro, iam e viam com liberdade. Ninguém precisava cuidar deles porque eles cuidavam de si mesmos e eu achava isso o máximo. Meu sonho era crescer logo e me tornar independente, ganhar meu dinheiro, ser forte e auto suficiente.
Ao chegar na adolescência, comecei a perceber que esse processo era mais complicado do que eu imaginava, pois me achava no direito a minha independência. Mas nenhum tipo de independência me foi dado e o fato de eu ter que lutar por ela, me fez valoriza-la ainda mais. Após entrar na faculdade consegui convencê-los a estudar por um tempo fora do Brasil e, finalmente, desfrutar de um tempo só meu – autonomia, força, independência. Foi muito poderoso pra mim alcançar esse lugar e tive que arcar então com o bônus e o ônus desta conquista.
Tudo passa
Foi muito fácil para mim cair na armadilha, que grande parte de nós, seres humanos, caem: acreditar que o caminho natural do ser humano é crescer e se tornar forte, independente, autônomo. Aprendi, então, a lidar com minhas emoções, dores e inseguranças sozinha. Pedir ajuda demonstraria um sinal de fraqueza e eu não queria ser questionada sobre as escolhas que eu havia feito. E assim cresci, durona na queda, forte, poderosa e dona do meu nariz, sem pedir ajuda e chorando sozinha.
Aprendi que tudo passa, tudo sempre passou, tempestade a abonança. Fui aprendendo, me fortalecendo e me enrijecendo na minha independência. E por tempo demais chorei sozinha para não demonstrar vulnerabilidade. Mas graças a esta pandemia estou aprendendo uma lição muito valiosa: eu não preciso mais chorar sozinha!
Hoje, por sincronicidade, conversando com um grupo de amigas, pude perceber como, de uma maneira geral, não temos o hábito de compartilhar nossa vulnerabilidade. Não pedimos ajuda espontaneamente, não demonstramos fraqueza facilmente. E, no entanto, lá estávamos nós, descobrindo que todas estavam precisando de colo, sem exceção. O ser humano não está acostumado a pedir ajuda e nem mesmo a cuidar uns dos outros como algo natural a ser feito o tempo todo. Esse é um assunto que precisamos olhar, falar e trazer para compreensão de que a nossa verdadeira natureza é sermos interdependentes.
Você sabia que quando uma pessoa ajuda alguém ou faz um ato de generosidade, ela recebe uma descarga hormonal de ocitocina? Para quem não sabe, a ocitocina é o hormônio produzido pelo hipotálamo, que faz com que a gente acredite em Unicórnios, veja arco-íris em um céu cheio de nuvens e acredite em milagres.
Apego e empatia
Na verdade, brincadeiras à parte, ela é responsável por desenvolvermos o apego e a empatia. Ela também é responsável pela produção de parte do orgasmo, além de modular a sensibilidade ao medo do desconhecido e trazer o sentimento de positividade.
É lindo pensar que recebemos de presente a ocitocina quando fazemos um ato generoso, como uma recompensa. Ainda mais lindo é saber que também recebemos esse hormônio maravilhoso apenas por presenciar um ato de generosidade. Quando presenciamos ou ouvimos sobre um ato de generosidade, quando vemos alguém ajudando alguém, nos sentimos mais leves, felizes e animados em também fazer o bem. A corrente da ocitocina à serviço do bem comum é poderosa.
Olha como a mãe natureza é incrivelmente inteligente. Perceba como ela nos ensina e nos impulsiona a cuidarmos uns dos outros. Ela nos diz: juntos vocês são mais fortes! Juntos vocês vão mais longe. Juntos a jornada é mais leve. Isso me lembrou um lindo ditado sueco que minha amiga Isabel compartilhou comigo esses dias:
“Uma felicidade compartilhada multiplica por dois. Uma tristeza compartilhada divide por dois.”
Ativar a generosidade é o que todos nós precisamos nos momentos mais alegres da vida, mas principalmente nos momentos mais difíceis em que nossa mente acredita que não temos nada de bom a oferecer pro outro. É neste momento que se nos lembrarmos de ativar o coração através da compaixão e da generosidade. E encontrarmos uma gota apenas de energia pra estender a mão e oferecer aquilo que acreditamos que não temos. É quando descobriremos que a mãe natureza está aqui pra nos apoiar e nos mostrar, através da ocitocina, que por trás de todos os véus de insegurança, não recebimento e pouca valia, nada nos falta, mas na realidade nos sobra. Sempre.
“Peças e receberás”, disse Jesus.
Ajudar o outro
Encontrar força para ajudar o outro mesmo quando estamos exaustos e sem força pode ser justamente a solução de todos os seus problemas. Quando nos relacionamos com o outro deste lugar genuíno de generosidade, acionamos uma das memórias mais ancestrais e antigas em nós: nos lembramos inconscientemente que somos um. Dar e receber é exatamente a mesma coisa.
Acreditamos que não podemos dar aquilo que não temos. Desta forma quando não estamos bem, acreditamos que não temos como ajudar. No entanto, quando sabemos que não estamos sozinhos, que temos ao nosso lado não apenas a nossa natureza humana, mas uma rede de apoio que podemos confiar e nos apoiar, encontramos confiança e nos entregamos ao risco e a vulnerabilidade.
Lembre-se de que você tem o poder de impulsionar para cima seus irmãos de jornada a partir do momento que você assumir a responsabilidade por fazer com seus irmãos confiem em si mesmos. Desta forma você estará impulsionando também a sua própria jornada, pois serão eles mesmos que, a partir da sua ação, sentirão confiança e entusiasmo em apoiar a sua jornada quando você precisar.
A autoconfiança não vem de fábrica. Desenvolvemos a auto confiança em algumas áreas e em outras não, nos sentimos confiantes em alguns momentos e não em outros. Mas se entendermos que viemos juntos a esse mundo e nossos aprendizado é justamente nos lembrar que somos completos quando nos unimos, tudo ganha um outro significado. Faça o que você consegue com aquilo que você tem!
Atos de generosidade
Comece hoje a fazer pequenos movimentos de generosidade, cuidado, ajuda a quem está próximo de você e notará que estas pessoas começarão a ter também pequenos gestos de generosidade e cuidado com você.
Esse é o caminho do coração. Ofereça amor e não espere nada em troca. Uns se colocarão em movimento e outros ainda permanecerão no medo, mas faça a sua parte se lembrando que a mãe natureza será generosa com você e te apoiará neste caminho; e através da conexão e da generosidade com esse grupo de apoio você criará laços de confiança importantes que serão os pilares da sua autoconfiança e de uma vida mais plena e feliz.
Esteja lá pro outro!
Mariana Nahas é coach de vida, terapeuta integrativa, facilitadora de meditação e idealizadora do Programa de Desenvolvimento Pessoal Ser Humano. Acredita que o autoconhecimento e a autocompaixão são as chaves para despertar em nós o ser de infinitos recursos internos que somos enquanto seres conscientes. Escreve quinzenalmente no Portal Vida Simples. Seu instagram é @mariananahas_.
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