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A beleza mora nos detalhes
(Foto: Houcine Ncib/Unsplash)
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Neste artigo:

Desde os primeiros anos da nossa vida, algumas de nossas características mais marcantes já despontam no nosso agir,  segundo aqueles que mais convivem com a gente. Eu, ainda muito nova, já ouvia dos meus pais e irmãos o quanto era detalhista e como eu tinha boa memória. Eu lembrava de fatos com riqueza de detalhes, sabia o ano, o mês e quando cada evento havia acontecido – eu era tipo um oráculo (ou Google, para ser mais tecnológica), a quem alguém recorria quando queria se lembrar de alguma coisa. Era só me perguntar. 

Eu também amava os detalhes. Prestava atenção de maneira minuciosa nos objetos e cenas. Nas roupas. Não o Diabo, mas Deus, pra mim, morava nos detalhes. Eu era tão detalhista que às vezes esse comportamento me impedia de viver de forma mais leve. Afinal de contas, dar um valor excessivo para coisas mínimas não torna em nada a nossa vida… simples. 

Até que um dia, tudo mudou. Ou quase. 

Esqueci de lembrar

A Bel, que dividia a baia de trabalho comigo, já na Vida Simples, sempre dizia que sua memória tinha ficado consideravelmente prejudicada depois da gravidez. Ela era mãe do Theo e do João, dois meninos já crescidos. Com certa frequência, ela esquecia de eventos, fatos ou mesmo de compromissos. E colocava na conta da maternidade. Eu, grávida do Ben, escutava dela: “Débi, você vai lembrar de mim!”, com aquele jeito animado e doce que ela tinha de dizer. 

Meu filho nasceu, hoje tem quase 7 anos e, de tantas coisas que eu já me esqueci, uma delas eu sempre me lembro. Da Bel. De ter subestimado o poder que a maternidade tem de nos fazer mergulhar no Rio Lete – o rio do esquecimento, na mitologia grega. Acho que nadei nele de braçadas, nem lembro. 

Com frequência me esqueço de datas, fatos, cenas. Hoje mesmo, não coloquei um despertador e me esqueci de uma importante reunião. Já até me consultei com uma psiquiatra, que me garantiu: está tudo bem. Depois de uma gravidez, o cérebro da mãe muda permanentemente, e muitas funções são reconfiguradas para dar conta dos cuidados com aquele bebê. 

Bem, a memória já foi para as cucuias, o que me faz desenvolver uma importante característica: a autocompaixão. Sou o melhor que posso ser no momento presente. Em outras palavras: “é o que tem pra hoje”. Agora, uso ainda mais agendas, anoto mais coisas, e entendo que, quando criança, meu HD tinha menos para armazenar do que agora. Mas ainda gosto dos detalhes. 

Os pequenos detalhes

É uma pequena flor sobre a mesa, que alegra a casa. Um toque de mel e mostarda, que dá outro sabor à salada. Uma camiseta básica, com um corte que faz toda a diferença. Um cartão que vai junto com o presente… Muitas vezes, a presença, o cuidado e o encantamento moram nesses pequenos gestos, momentos, coisas.

Mas é fácil, por vezes, se perder nos pormenores e esquecer o todo que importa mais. Dia desses, a assessora que nos ajudou a preparar o casamento disse de uma noiva que havia exigido um tom muito específico de papel crepom e de fita de cetim para enrolar os bem-casados. Foi um caos. Não quero julgar (já julgando), mas nessas horas penso que o detalhe (a embalagem do bem-casado) não pode se sobrepor ao todo – o próprio casamento. 

E assim também é com a nossa convivência diária com as pessoas.  Tem coisas que a gente não esquece, outras, a gente deixa pra lá. Há detalhes que conquistam e reafirmam o amor ao outro, enquanto outros mínimos defeitos demandam o nosso olhar relevante.

Não tenho mais a mesma memória de antes, mas guardo a emoção dos dias que importam mais. Tenho apreço pelos detalhes, sem que eles dominem a minha rotina. É a busca pela harmonia e pelo equilíbrio, que dosam a falta e o que sobra. O que é bom e ruim. O que perdemos e ganhamos, sempre, em qualquer momento da vida. 

Qual detalhe mais importa para você?


Conteúdo publicado originalmente na newsletter da Vida Simples. Cadastre-se para receber semanalmente em seu email a newsletter Simplesmente Vida, com cartas exclusivas de Débora Zanelato, diretora de conteúdo de Vida Simples.

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