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Conrado Schlochauer fala de aprendizado autodirigido e contínuo
Escritor e palestrante comenta sobre aprendizagem autodirigida e sua importância para o bem-estar. (Foto: Marcos Mesquita/divulgação)
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A capacidade de aprender é natural da espécie humana. Independentemente da idade que temos, aumentar nossa bagagem de conhecimento é sempre possível, desde que estejamos abertos para isso.

Abraçar essa condição conscientemente pode, inclusive, ser uma das belezas da vida. Pois, além de nos fazer entender mais sobre o mundo, permite que também possamos mudá-lo. Na aprendizagem autodirigida, essa jornada pode ser até um pouco mais divertida.

O lifelong learning, traduzido para português para “aprendizado ao longo da vida”, é o conceito que ilustra esse movimento.

Ele surgiu na década de 1970 para refletir sobre o modelo de educação que se concentra apenas nas primeiras décadas de vida.

Embora tenha surgido nesse período, passou a ganhar mais força em 2015, motivado por uma crescente preocupação em possibilitar que as pessoas busquem conhecimento ao longo de suas vidas.

Para comentar mais sobre isso, a Vida Simples conversou com Conrado Schlochauer, palestrante, consultor e escritor do livro Lifelong learners – o poder do aprendizado contínuo.

Trabalhando com conhecimento, ele considera o estilo de vida do aprendizado autodirigido e contínuo como uma forma de estar sempre reescrevendo constantemente o olhar sobre o mundo.

Por que continuar aprendendo ao longo da vida?

Temos duas variáveis muito importantes. A primeira é a da transformação constante de tecnologia, de modo de interagir com o mundo e a sociedade. A segunda é que estamos vivendo mais. Então, vivendo mais em um mundo que muda muito, temos essa necessidade de se adaptar.

Somos muito bons em sermos ensinados, mas o mesmo não ocorre com o aprender. Terceirizamos esse processo de escolher o que, porque e quando aprender. Outras pessoas tomam essas decisões por nós. Até comprar um curso, no fundo, a escolha é de outros.

Procura-se, portanto, desenvolver um pouco o aprendizado contínuo e autodirigido para conseguirmos conduzir o processo. Isso é fundamental e está vinculado ao dia a dia. Faço um paralelo com a atividade física, sabemos que se tivermos ela na nossa rotina, vamos viver mais e melhor. Com o aprendizado contínuo é da mesma forma. Não é sobre ‘eu preciso estudar, eu preciso fazer um curso’, mas é estar atento ao que acontece no mundo, saber onde buscar esse conhecimento e o que eu preciso mudar.

Minha mãe, por exemplo, tem 84 anos, é uma pianista muito inteligente, pós-graduada e tem dificuldade para comprar ingresso para a Sala São Paulo no aplicativo. Mas ela é uma lifelong learning e está aprendendo. E isso é sobre você se conectar com as coisas que acontecem na vida. Mas se você falar que não é para você ou que não consegue, então pode deixar de aproveitar uma série de oportunidades.

Por que perdemos o interesse em aprender quando ficamos mais velhos?

Em média, durante os primeiros 25 anos de vida, o cérebro de uma pessoa prioriza a busca por novas informações e experiências. Vários processos são estruturados e o conhecimento é armazenado principalmente através da observação. Após os 25 anos, normalmente acontece uma “exploração fechada”: o cérebro, de forma automatizada, passa a procurar a informação dentro dele, e não no mundo.

Com o aumento da tecnologia e da longevidade, a sociedade amplia a necessidade de voltarmos para a exploração aberta, para ver o mundo com um olhar de aprendiz e não com aquele olhar de quem já têm as ideias estabelecidas e não precisa mais aprender.

O pior é quando se tem a intenção e a vontade de julgar tudo como bom ou ruim. Isso é péssimo para a gente aprender. Se faço isso e escolho de forma muito automática, perco a oportunidade de refletir sobre o que está acontecendo no mundo. A polarização é um exemplo disso e é um inimigo para o aprendizado. Eu escolho A ou B. Não tem pensamento, não tem curiosidade por um ou por outro, ou por tentar criar outras alternativas. Isso atrapalha o processo.

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Quais os benefícios do aprendizado para a vida pessoal e a profissional?

A inteligência artificial vai trazer uma série de mudanças na maneira como a gente trabalha e produz. Se não entendermos isso, vamos começar a ter dificuldade de conexão no mercado de trabalho.

Do ponto de vista pessoal, o aprendizado contínuo nos ajuda a entender melhor o mundo. A definição de aprender é explicitar o conhecimento por meio de um desempenho melhorado. Aprender não é adquirir conteúdo, é colocar conhecimento para fora, fazendo algo melhor.

Isso pode ser feito de uma forma bem objetiva, como cozinhar melhor ou tomar melhores decisões, mas pode ser subjetiva, proporcionando uma forma de entender melhor os contextos do mundo.

Aprendizagem autoditada permite continuidade da busca por conhecimento e ainda pode ser divertida. A aprendizagem autoditada permite continuidade da busca por conhecimento e ainda pode ser divertida, já que desperta uma curiosidade autêntica (Foto: Tamarcus Brown/Unsplash)

O bem-estar pode estar relacionado com a aprendizagem autodirigida?

Separamos o aprendizado do prazer. Quando aprendemos para nós mesmos, o prazer está junto. No meu doutorado, entrevistei 50 pessoas com pelo menos uma experiência de aprendizado autodirigido, e 80% delas são mais resultados de aprendizado autodirigido do que hétero dirigido, que seria aquele em que há uma outra pessoa guiando o processo, as ferramentas e o conteúdo.

A questão é que fazemos isso como um hobby, em casa. Quando estou me divertindo, tudo bem eu conduzir, mas quando é em outra situação, queremos que alguém nos ensine. As pessoas têm a condição de conduzir a si próprias, mas dá um certo medo.

O aprendizado é um grande resolvedor dos problemas da vida, sejam de saúde, financeiros, profissionais ou de relacionamento. Aprender é emprestar outras visões e isso é um grande processo de fazer você aproveitar a vida de maneira plena.

Como podemos iniciar a aprendizagem autodirigida e deixá-la mais presente no dia a dia?

A aprendizagem autodirigida possui quatro momentos. O primeiro e mais importante é você escolher o que quer aprender. Um aspecto do aprendizado em adultos é que eles só aprendem se houver uma necessidade.

Gaste tempo olhando para dentro e para fora para entender o que quer aprender, o que está disposto e o que você quer fazer de diferente e que vai ajudar na sua vida. Brinco que nesse momento você se matricula na faculdade em que você é o reitor.

O segundo passo é gastar um tempo fazendo uma curadoria de caminhos possíveis. Eu chamo essas fontes de CEP+R, conteúdo, experiências, pessoas e redes.

Quais são os conteúdos possíveis? Que experiências você pode fazer ou viver de diferente que te ajude nesse processo? Com quem você vai bater um papo para saber o que precisa? A outra coisa é uma rede. Conecte-se a um grupo que tem os interesses que você tem.

Em seguida marque na sua agenda o seu MMA: meu momento de aprendizado. Essa etapa está relacionada à criação de uma constância, um hábito.

O quarto aspecto é estabelecer um ponto de chegada, em que você vai conseguir fazer alguma coisa a partir do que aprendeu, como gravar um vídeo, escrever um artigo, tirar a legenda de um vídeo, participar de uma conferência.

Esse aprendizado é intencional. É preciso estabelecer um tempo de dedicação. Mas é importante lembrar também que aprendemos o tempo todo e em todos os lugares. Então, existe também o aprendizado incidental proporcionado por uma vida que permita que isso ocorra, com um processo que nos deixe explorar, vivenciar e buscar por outras coisas.

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