Quando o corpo nos fala, melhor não ignorar
No editorial da edição 272 de Vida Simples, de outubro de 2024, Luciana Pianaro relata os sinais que seu corpo deu para indicar um episódio de burnout e conversa com sinceridade sobre esse momento delicado
Havia 15 dias que uma dor de cabeça não passava. Além disso, minha memória estava falha, meu pensamento não concatenava coisa com coisa, e eu me sentia incompetente demais. Não tinha energia nenhuma e o sono estava ruim. Mesmo assim, eu continuava sem parar.
Depois de alguns dias relutando, consultei minha psiquiatra de confiança e veio o diagnóstico: burnout. Mas, como assim? Eu, a pessoa que cuida da Vida Simples e que é tão ligada em autocuidado, equilíbrio de vida e bem-estar, poderia estar em burnout?
Eu chorava na consulta, culpando-me por isso estar acontecendo comigo. “Lu, você precisa perceber que é humana e que o esgotamento pode acontecer com qualquer um de nós!’, disse-me a Dra. Thais.
Além de ajustar a medicação, a recomendação foi tirar férias, entrar em contato com a natureza e me desconectar do trabalho e das responsabilidades.
O corpo envia sinais
Desde janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde reconhece os efeitos do estresse crônico causado pelo ritmo de trabalho como parte de uma doença ocupacional que apresenta sintomas físicos e emocionais.
Pessoalmente, não acho que seja apenas o excesso de trabalho o causador, mas, sem dúvida, muitos de nós têm o ofício como um escape para problemas da vida. Enfrentar essas dificuldades, muitas vezes, parece mais desafiador, e acabamos direcionando nossa energia para a profissão, ainda mais quando se ama o que se faz, como é o meu caso.
Sem alarme, não há mobilização. Quando o corpo nos fala, é muito importante não o ignorar. E, não, não é fraqueza, mas uma forma de respeitar nossos limites e garantir que possamos continuar a contribuir de maneira saudável e produtiva, onde quer que estejamos.
Eu diria que aprender a fazer isso sem culpa é uma habilidade essencial para qualquer pessoa que queira manter o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Entretanto, também conheço na pele as dificuldades de se alcançar esse feito em tempos tão incertos e de responsabilidades pessoais, como adultos que somos.
Mas, se não pararmos, talvez o corpo nos pare obrigatoriamente. Dói. Assusta. Mas também é através dessa rachadura que um feixe de luz pode clarear a percepção e apontar novas escolhas.
Ao nos permitir momentos de descanso e reflexão, protegemos nossa saúde e garantimos que continuemos a viver, a educar filhos, a trabalhar com mais alegria e a deixar um mundo melhor.
Se tudo isso for possível em uma ocupação que gostemos, maravilha. Se não for, será que não é hora de parar e repensar?
➥ MAIS DE LUCIANA PIANARO
– O verdadeiro sucesso reside na consciência
– Ser coerente é simples e complexo ao mesmo tempo
– Qual é sua missão pessoal?
Conteúdo publicado originalmente na edição 272 da revista Vida Simples
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