Saúde mental: mulheres sofrem mais com ansiedade e depressão
Situação financeira é área que mais causa sofrimento para 48% das mulheres. Negras e pobres enfrentam maior esgotamento da saúde mental.
Como você diria que estão seus níveis de estresse? E de ansiedade? Se a resposta for ‘altos’ saiba que essa é uma realidade comum a muitas mulheres. Esses são fenômenos frequentes no dia a dia e atingem a saúde mental de metade das brasileiras.
E não só esses dois aspectos que estão presentes na rotina das mulheres, elas também são as mais afetadas por doenças que envolvem a saúde mental. De acordo com dados reunidos pelo relatório Think Olga a cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão ou ansiedade, 7 são mulheres.
Juliane Callegaro Borsa, doutora em psicologia e terapeuta cognitivo-comportamental de mulheres, aponta que são as mulheres as principais responsáveis pelo cuidado no meio em que estão inseridas, além disso, elas também têm responsabilidades financeiras e de performance em seus trabalhos. Esses fatores causam sobrecarga que compromete a saúde mental. “A carga mental é o que mais pesa e é invisível, pois ninguém percebe que aquela mulher está ali 24 horas preocupada, pensando e tentando organizar a vida de todo mundo”, resume.
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Realidade de pobreza e desigualdade acentua o sofrimento mental
Principais responsáveis financeiras por 38% dos lares brasileiros, as mulheres e seus filhos são as principais vítimas da pobreza no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 62,8% das pessoas que viviam em domicílios chefiados por mulheres estavam em condições de extrema pobreza. Além disso, de acordo com dados da FGV Social, o número de mulheres que não conseguem alimentar a si e a seus filhos é de 47%.
“A preocupação constante com a falta de recursos financeiros para atender às necessidades básicas, como alimentação, moradia e saúde. Além de viver em ambientes precários, com falta de saneamento básico, moradia inadequada e acesso limitado a serviços de saúde, aumenta o risco de estresse, ansiedade e depressão”, explica Juliane.
A psicóloga lembra também que mulheres em vulnerabilidade social têm um risco maior de passar por experiências de violência de gênero, o que pode levar ao adoecimento físico e mental. “A pobreza e a falta de condições e direitos básicos podem criar um ciclo de estresse, trauma e falta de apoio que afeta negativamente a saúde mental das mulheres, exacerbando os desafios que elas enfrentam em suas vidas diárias”, resume.
Saúde mental não é afetada da mesma forma por todas as mulheres
Alguns aspectos da realidade de cada mulher podem agravar a carga de sofrimento mental que recai sobre elas. Juliane explica que raça, identidade de gênero, classe social, orientação sexual, habilidades físicas são identidades que estão interligadas e criam experiências particulares para cada mulher. Isso porque, dependendo de como elas estão localizadas nesses aspectos, podem ser atravessadas por diferentes preconceitos.
Mulheres negras e pobres, por exemplo, têm uma experiência de vida que passa por diferentes identificações: gênero, raça e classe social. Entretanto, a discriminação que enfrentam só pode ser entendida a partir da compreensão dessas identidades juntas.
Além de pensar em conjunto as identidades, é importante compreender o peso que as vivências de opressão têm sobre a vida das pessoas. Nesse sentido, Juliane lembra do conceito de “estresse de minorias”. Ele explica que os grupos minoritários enfrentam um peso adicional devido à discriminação baseada nas identidades. Experiências de preconceito, estereótipos, micro agressões, injustiça e desigualdade social são exemplos de como esse estresse pode ser vivido.
“Uma mulher negra, pobre, trans, periférica, mãe sofre mais justamente porque há outras condições de vulnerabilidade psicossocial que se somam”, ilustra a psicóloga. As variáveis estressoras, quando somadas, ampliam o sofrimento, por isso ela defende a importância de “olhar para esses grupos minoritários de maneira cuidadosa e particular.”
Barreiras no acesso à saúde
Juliane lembra que o acesso à saúde não é democrático. “Precisamos lembrar sempre que o país é desigual e as oportunidades idem. Nesse sentido, também é desigual o acesso aos serviços de saúde e assistência, o que faz com que mulheres mais vulneráveis socialmente sejam também as que mais encontram dificuldade de buscar a ajuda profissional necessária.”
Além disso, ela relata que nem sempre as mulheres se priorizam, escolhendo o cuidado com a família. “Já ouvi muitas mulheres dizerem que entre a terapia dos filhos, o judô, o reforço escolar e terapia para si mesmas, preferem abrir mão da própria terapia. É essa realidade que acaba fazendo essas mulheres não buscarem ajuda profissional quando identificam a necessidade”, exemplifica.
É possível cuidar da saúde mental
Não se pode ignorar as diferentes realidades, mas a especialista aponta recursos que podem ajudar a cuidar da saúde mental:
- Autocompaixão: reconhecer e aceitar as próprias limitações e dificuldades.
- Aprender a dizer “não”;
- Definir limites claros com as outras pessoas;
- Priorizar o autocuidado e o bem-estar;
- Acessar a rede de apoio: buscar manter conexões significativas com amigos, familiares e grupos de apoio, por exemplo. Isso para que você possa ter suporte emocional em períodos de estresse.
- Rotina saudável: na medida do possível, tendo um sono adequado, dieta balanceada, exercícios físicos regulares e tempo para atividades que tragam prazer e relaxamento.
- Ajuda profissional qualificada: aconselhamento ou psicoterapia com um profissional de pode fornecer um espaço seguro para explorar emoções, desenvolver habilidades de enfrentamento e receber apoio personalizado.
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