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O relato de uma “mãe de UTI” e a importância de falar sobre saúde mental
Bonnie Kittle
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Fabiana, autora do texto a seguir, faz parte da Comunidade Vida Simples e nos escreveu sobre sua jornada enquanto “mãe de UTI” da Maria Júlia.

À espera por notícias em um corredor gelado

“Sou apenas mais um rosto naquele corredor silencioso e gelado, um dos milhares que já passaram por ali e infelizmente, continuam passando. Porque a vida é complexa. Frágil. Delicada.” Esse é um trecho do meu livro “Mulheres Marcadas”, que expressa exatamente como eu me sentia entre aquelas paredes, apenas mais um rosto aflito, desesperado, à espera por notícias naquele corredor gelado.

Não há saúde mental em um lugar impregnado pelo medo, onde a morte assombra diariamente. Lutar pela vida do meu bem mais precioso, minha filha Maria Júlia, em meio a um inimigo misterioso e silencioso, tornou-se uma batalha diária.

Lembro-me do momento em que ela nasceu, no meio da agitação do centro cirúrgico. A rápida foto que tiraram dela ao meu lado é a única lembrança que guardo do dia do seu nascimento. Logo em seguida, ela precisou ser levada às pressas para a UTI neonatal. Meus braços ficaram vazios, doendo pela ausência da minha filha. Mal sabia eu que aquilo era apenas o começo do que enfrentaríamos.

Longe da minha filha: o começo da minha jornada como mãe de UTI

Quando finalmente a vi, sem estar sedada, ela estava dentro de uma incubadora, cheia de fios e cercada por monitores desconhecidos. Ver minha filha naquela situação, distante de mim, partiu meu coração. Seus olhos abertos pareciam questionar por que eu a deixava ali.

Foi então que comecei a compreender a realidade que viveríamos. Ao sair da sala, deparei-me com outras mães aguardando por notícias. Naquele momento, percebi que, no vasto universo da maternidade, existe um espaço pouco explorado e frequentemente solitário: o das mães de bebês internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), conhecidas entre elas como “Mães de UTI”.

Só uma mãe para conhecer e consolar outra mãe

A preocupação vai além dos cuidados básicos, das trocas de fraldas e da amamentação. É um universo em que as noites mal dormidas são cobertas pelo estresse e medo constantes, nas quais a dor da separação temporária é avassaladora. As rotinas hospitalares exaustivas geram uma sobrecarga emocional e física, com pouco tempo para descanso ou cuidado pessoal.

Nesse ambiente, a solidão é devastadora. Muitas vezes, essas mães enfrentam a jornada da UTI sem o apoio de familiares e amigos que não compreendem completamente sua realidade. É por isso que é tão comum ver uma mãe de UTI consolando outra, pois somente elas entendem e compartilham dos mesmos sentimentos.

A importância de falar sobre saúde mental na maternidade

Ao escrever o livro ‘Mulheres Marcadas’, meu objetivo foi trazer visibilidade para esse universo pouco falado. Quero destacar a força, a coragem e a empatia que permeiam essas mães e a partir da minha experiência, trazer um pouco de conforto com as dicas que eu trago para elas, pois cuidar da saúde mental das mães de bebês internados em UTI é de extrema importância para garantir o bem-estar delas e de seus filhos.

Assim, ao trazer essa conscientização, espero oferecer algum conforto e apoio às mães que estão vivenciando essa experiência.

É essencial lembrar que a jornada dessas mães é desafiadora e que elas merecem todo o apoio e suporte possível. Mães são consideradas alicerces da sociedade, e cuidar de sua saúde mental é fundamental para construir uma sociedade mais compassiva e solidária.


Fabiana Coimbra (@fabi_escreve) é escritora e publicitária paulistana, autora do livro “Mulheres Marcadas – histórias de força, coragem e empatia das mães de UTI”*.


Este texto foi produzido por um membro assinante da Comunidade Vida Simples e publicado no blog Você + Simples.

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