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Criticar ou elogiar: a sua forma de dizer pode mudar tudo
Mimi Thian
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Assim como eu, você também deve ficar perplexo ao ver determinada pessoa sendo massacrada com críticas ferozes em certas circunstâncias, e, pouco tempo depois, observar o mesmo indivíduo ser reverenciado, sem que nada diferente tivesse acontecido – tudo como dantes no quartel-general de Abrantes.

É um paradoxo interessante para ser estudado e compreendido. Embora essa matéria possa ser analisada pelos textos dos linguistas mais renomados, nada nos impede de termos uma compreensão a esse respeito a partir dos exemplos que nos cercam no dia a dia.

Falar mal ou bem de uma pessoa, quase sempre, depende de “vontade política”. Quantas vezes vemos alguém sendo elogiado por aqueles que pertencem ao seu grupo e criticado por seus adversários. Se é o mesmo indivíduo, como pode ser classificado de mau ou bom simultaneamente? 

Uma questão de afinidade

A explicação é simples. Todos nós possuímos defeitos e qualidades. Dependendo da intenção de quem nos analisa, podemos ser vistos de maneira positiva ou negativa. Por exemplo, de forma geral, um político é avaliado por seus pares como um estadista, de grande visão, dotado de sensibilidade pública, competente e probo. Enquanto que para seus adversários é tido como oportunista, mau-caráter, incompetente e desonesto. Em diversas situações, todos podem estar certos, pois depende dos aspectos de que se valeram para emitir sua opinião

Nem sempre, entretanto, essa intenção é clara. Há ocasiões em que o julgamento se dá pelo uso da conjunção adversativa “mas”. Tudo dependerá das informações que aparecem antes ou depois dela. Se o desejo de quem avalia for o de criticar, a adjetivação negativa aparecerá no final da frase. E nos casos em que a frase termina com referência positiva, se não for um elogio, pelo menos servirá para atenuar a crítica.

Vamos observar alguns exemplos para constatarmos como o sentido do comentário muda completamente apenas com a menção feita antes ou depois da adversativa:

  • Carlos é competente, mas nunca consegue ser pontual.

Nessa frase ficou clara a intenção da crítica, já que o aspecto negativo foi apresentado depois da adversativa.

  • Carlos não consegue ser pontual, mas é competente.

Nessa segunda opção, já ficou evidenciada a vontade de valorizar a qualidade de competente, atenuando-se assim o defeito de não ser pontual.

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A importância da linguagem na comunicação

A consciência de que essas mudanças na maneira de transmitir informações pode dar um ou outro sentido nos ajuda não só no momento de nos referirmos às características de uma pessoa, como também, e principalmente, nos permite entender as verdadeiras intenções de quem nos informa sobre as virtudes ou deficiências de alguém.

A comunicação apresenta essas sutilezas nem sempre notadas em seu “valor de face”. Por isso, precisamos aprender a ler e a ouvir nas entrelinhas para saber o real significado da mensagem. Se não ficarmos atentos, poderemos, sem perceber, ser manipulados e induzidos a conclusões irrefletidas. 

Segundo o pensador russo Mikhail Bakhtina língua não é um agente que adentra livre e facilmente as atenções mais íntimas do falante; é povoado – superpovoado – pelas intenções dos outros”. 

No jogo político, por exemplo, essas táticas são comuns. Os estudiosos da linguagem sabem, conscientemente, como uma mensagem poderá afetar a opinião dos ouvintes. Alguns gestores, entretanto, se valem dos mesmos recursos porque “aprenderam de ouvido”. Ao longo da vida, errando, acertando, corrigindo rumos, foram descobrindo o que dava ou não resultado em seus discursos, e passaram a repetir as fórmulas bem-sucedidas. 

Como se comunicar melhor?

Se perguntarmos os motivos de atuarem de uma maneira ou de outra, provavelmente, não saberão explicar. Agem por uma intuição que não nasceu do nada, mas sim da longa experiência com uma boa comunicação em público, apresentando projetos, lançando produtos, participando de negociações, perdendo e conquistando clientes e contratos. 

Apenas como exercício, pense nos profissionais mais destacados na sua organização e tente responder: será que eles são capazes de explicar os motivos de suas ações vitoriosas? Provavelmente não.

Por isso, além de nos debruçarmos no estudo das peculiaridades linguísticas, vale também observar os nossos próprios acertos e deslizes para entendermos o que pode ou não funcionar em nossa comunicação. Esse é um aprendizado que jamais se esgota. 

A cada dia fazemos novas descobertas e encontramos caminhos mais eficientes para conquistar o que desejamos. Com o tempo vamos entendendo que o “mas” pode estar além de uma simples conjunção adversativa, pois dependendo da informação a que precede ou sucede indicará as verdadeiras intenções de quem a usou na mensagem.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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