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Doação de sangue: mitos para você deixar para trás
LuAnn Hunt
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Neste artigo:

Tenho medo de agulhas, confesso. Desde criança sou uma pessoa medrosa e, apesar de tentar desconstruir alguns mitos na terapia, continuo com alguns receios sem fundamentos. Acho que agulhas podem machucar as artérias – mas é só uma furadinha rápida, penso -, que o braço vai ficar horas doendo ou que alguma coisa catastrófica poderá ocorrer enquanto estou em um hemocentro. 

Besteiras, devo dizer, que atrapalham a minha vontade e desejo de me tornar um doador regular de sangue. De acordo com o governo brasileiro, 1,8% da população doa com frequência – há um intervalo de dois meses para os homens e três meses para as mulheres -, o que é considerado dentro dos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), embora as campanhas de incentivo atuem para que esse número cresça. 

Com medo ou não, é preciso irmos aos fatos. Uma única doação, que pode levar no máximo 40 minutos, salva até quatro vidas. Nessa lista de beneficiados, podem estar pessoas que passam por doenças que necessitam de transfusão, pacientes que serão cirurgiados ou outros exemplos hospitalares. Seja você A+, B+, AB+, O+, A-, B-, AB- ou O-, a ida a um hemocentro pode fazer uma grande diferença na vida de outra pessoa, que talvez você nem conheça, mas nos lembra a importância da coletividade e da compaixão.

Mitos? É hora de deixá-los para trás

Estamos vivendo na era da desinformação, na qual conteúdos mentirosos circulam por aí. Criado no ano de 2004 pela OMS, o Dia do Doador de Sangue é uma data não só para incentivar o crescimento de doadores no mundo, mas também para conscientizar a população global sobre a importância desse gesto.

E não são poucos os mitos que aparecem quando decidimos ir ao hemocentro. Amigos, familiares e os próprios boatos na internet nos ajudam a ficar com um pé atrás.

Mas, chegou a hora de sabermos o que é verdade e o que é mito quando o assunto é doação de sangue.

1. “Quem doa sangue uma vez precisa doar sempre”

Esse é um dos mitos mais comuns que ouvimos por aí, como se estivéssemos assinando uma espécie de contrato com o hemocentro. O nosso corpo produz a quantidade de sangue suficiente para o seu funcionamento. Assim, após uma doação, logo nosso organismo age para repor a quantidade doada, embora isso não implique em uma produção desenfreada ou vício pela agulha. 

2. “Doar sangue engorda ou emagrece”

Quando ocorre uma doação de sangue, o corpo perde cerca de 450 ml (embora isso varie de acordo com o peso e altura do doador) que logo é reposto ao longo do dia. Isso não implica, de forma alguma, que o doador perca ou ganhe peso, já que isso não está relacionado com o nosso metabolismo. No entanto, é importante lembrar que deve haver um consumo maior de líquidos após a doação e é preciso evitar exercícios físicos intensos nas primeiras 12 horas após a ida ao hemocentro

3. “Não sei meu tipo sanguíneo, então não posso doar”

Não é necessário saber o tipo sanguíneo para doar. Na doação, junto com a bolsa de sangue, são coletadas amostras para exames, testes sorológicos e tipagem sanguínea. Assim, você pode inclusive saber o seu tipo sanguíneo após a doação. 

4. “A quantidade de sangue coletada vai afetar a minha saúde”

Durante a doação de sangue se retira menos do que 10% do volume sanguíneo total de um adulto, o que não afeta de forma alguma o funcionamento do organismo. Além disso, todo o volume é reposto em até 24h.

5. “Estou correndo algum risco ao doar sangue”

Todo o material usado, inclusive os kits são estéreis, descartáveis e apirogênicos (não causam febre). Além disso, o doador passa por uma consulta, antes de doar, na qual são avaliadas suas condições clínicas. Ainda assim, em caso do aparecimento de queixas nos primeiros 15 dias após a doação, o doador deve retornar ao hemocentro e informar as queixas para esclarecimentos.

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O que ganho ao doar sangue? 

A primeira doação de sangue só aconteceu em 1667, na cidade de Paris, após testes em animais feitos pelo médico inglês Richard Lower no ano de 1665. Antes desse feito, os procedimentos de transfusão de sangue eram desconhecidos e as mortes em decorrência disso eram altas, já que o desenvolvimento da ciência médica não possuía os mesmos equipamentos e técnicas de hoje. 

Além de salvar a vida de outras pessoas, a doação de sangue é um ato de amor, de enfatizar a coletividade e a compaixão entre a população. Estamos cansados de saber que dificilmente conseguiríamos viver sozinhos. Precisamos de suporte emocional de outras pessoas, apoio profissional de diferentes áreas do conhecimento e a comunhão em busca do bem comum, já que encontramos apoio nos nossos amigos, vizinhos e pessoas próximas. 

A doação de sangue pode trazer também benefícios para o corpo do doador, como a redução das chances de desenvolver câncer de fígado, garganta e pulmão, porque ocorre uma significativa baixa na reserva de ferro no organismo. Você também tem direito a um chek up totalmente gratuito, já que os centros de doação fazem testes específicos para identificar doenças como sífilis e HIV, além do direito a um dia de folga por ano no trabalho no caso de trabalhadores CLT. Estados como Paraná e Espiríto Santo dão acesso ainda à meia entrada em cinemas. 

Onde doar sangue? Como sanar mais dúvidas? 

Para doar sangue, basta procurar as unidades de coleta de sangue, como os hemocentros, para checar se você atende aos requisitos necessários à doação. Existem alguns impedimentos temporários e também impedimentos definitivos (você pode conferir mais sobre isso no nosso infográfico acima). 

Nesta lista, preparada pelo governo federal, é possível encontrar todos os hemocentros espalhados pelo país, além do endereço e do contato para o caso de mais dúvidas sobre o tema. Além disso, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia elaborou uma série de 12 perguntas relacionadas à doação, que podem esclarecer mais dúvidas caso ainda existam.

Lembre-se, doar é um gesto de afeto e compaixão, e mesmo que você tenha medo – assim como eu – vai tomar apenas 40 minutos do dia e pode ajudar a salvar vidas de pessoas que não conhecemos, mas que são mães, pais, amigos, colegas de trabalho, pessoas que merecem viver. 

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