Brincar nos conecta ao mundo dos filhos
Deixamos a vida adulta minar a criança que existe em nós - e estamos levando isso para o convívio com as crianças. Mas com pouquíssimo esforço, podemos redescobrir as delícias das brincadeiras
Deixamos a vida adulta minar a criança que existe em nós – e, além de parar de brincar, estamos levando isso para o convívio com as crianças. Mas com pouquíssimo esforço, podemos redescobrir as delícias das brincadeiras
Correr na rua, se divertir com ioiô, jogar queimada: parece algo difícil de explicar para as crianças de hoje. Talvez a última geração que tenha praticado atividades recreativas como essas, seja a minha – e já estamos na casa dos 30 e tantos anos. Somos pais, tios ou nossos amigos já têm filhos.
O brincar, que nos conectava à terra, ao outro e nos ajudava a expressar emoções, se transformou de maneira avassaladora nos últimos anos. Vivemos conectados, andando com celulares nas mãos, atentos ao próximo aviso de mensagem. E o mesmo acontece com as crianças de hoje: as telas tornaram-se o meio para que elas se entretenham – e um escape para que o adulto, em casa, tenha algum tempo para respirar.
Falta tempo para brincar, será?
Mas se divertir com (e como) uma criança não é um luxo. Ou pelo menos não deveria ser. O brincar nos conecta, como disse Stuart Brown, um pioneiro no estudo sobre o tema, em sua palestra para o TED em 2008. Para exemplificar, ele mostrou a imagem de uma mãe, sorrindo para seu bebê e balançando os braços do filho que, consequentemente, responde às ações dela com os mesmos gestos. No momento em que ação acontece, esclarece ele, o lado direito do cérebro de ambos entra em sintonia.
“Nada ilumina tanto o cérebro quanto brincar”, afirma Brown. Por que, então, ao contrário dos animais adultos, deixamos de brincar e de doar um tempo para nos dedicarmos a diversão com (e como) uma criança?
“O mundo objetificou o brincar. Entre os bichos, brincar pode ser muito importante para a sobrevivência. E não sei porque conosco seria diferente”, diz o especialista.
A falta de tempo pode ter vindo a sua mente como resposta. Balela! “O oposto de brincar não é trabalhar, é a depressão”, aponta Stuart. Ele continua: “a base da confiança humana é estabelecida através de sinais de brincar. E nós começamos a perder esses sinais, culturalmente e de outros modos, como adultos”.
Reconexão com o brincar
Há 12 anos, Estéfi Machado redescobriu uma nova maneira de se divertir quando se tornou mãe do Teo. Disposta a passar mais tempo com ele, trouxe o menino para seu universo de design, fotografia e cenografia, criando brincadeiras com o que tinha em casa. Desse universo lúdico, criou um blog para dividir a rotina dos dois e também escreveu O Livro da Estéfi (Companhia das Letrinhas).
“Com o projeto, recebi e-mail e mensagens de mães e pais me pedindo ajuda para ensiná-los a brincar e isso virou minha missão, porque acredito que o brincar é uma forma de se conectar e o ser humano é capaz de continuar se encantando e se expressando como uma criança durante toda a vida”, conta.
Estéfi ressalta que destinar um tempo para se divertir com os filhos é importante porque, durante esse momento, eles estão contando aos pais muitas coisas íntimas sobre eles. “Quando questiono os pais sobre o que os impede de brincar, encontro as mesmas respostas: falta de tempo, cansaço, estresse, falta de ideias ou ausência de prazer”, diz.
Assim, para ajudar quem quer se reencontrar na brincadeira, Estéfi hoje ministra workshops, palestras e vivências práticas sobre o tema. Abaixo, ela ensina cinco dicas para encaixar a brincadeira na rotina:
Como incluir brincadeira na rotina
1 – Comece com objetivos pequenos, para não se frustrar. A ideia não é que você se proponha a ser um pai ou uma mãe brincante todos os dias, se não faz parte da sua rotina.
2 – No momento da brincadeira, jogue fora as adultices, como o celular e se esvazie das preocupações e dos problemas de adultos.
3 – Revisite a criança que você foi e que curtia brincar – entrar em contato com as lembranças ajudará.
4 – Tente levar a brincadeira para as tarefas de casa. Por exemplo: preparar as refeições brincando de feira com os ingredientes ou apostar corrida para escovar os dentes.
5 – Vá para o mundo do filho. Se ele quer brincar sentado no chão, sente. Caso seja debaixo da mesa, tope também. “Se queremos acessar as crianças, devemos nos portar como convidados nessa viagem”, ensina.
Para entrar em contato e acompanhar a agenda dos eventos encabeçados por Estéfi, basta seguir no Instagram @blog.estefi.machado.
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