Brasil bate recorde de afastamentos por ansiedade e depressão
Em 2024, mais de 470 mil pessoas tiveram que se afastar dos seus postos de trabalho por transtornos mentais. Crescimento alarmante desdobra em conjunto de medidas para proteger a saúde mental no espaço corporativo

Cada vez mais pessoas estão pedindo afastamento no trabalho por problemas de saúde mental. Isso é o que mostra a pesquisa divulgada pelo Ministério da Previdência Social. Em 2024, o órgão registrou um número recorde, ultrapassando a marca de 470 mil. É, por sinal, o maior índice da década. Para se ter uma ideia da progressão, em comparação ao ano anterior — mais de 280 mil —, o crescimento foi de 68%.
Lidera a lista de motivos para os afastamentos a ansiedade (141,5 mil), seguida por episódios depressivos (114,6 mil) e por transtorno depressivo recorrente (52,6 mil). Antes, a doença que liderava os afastamentos eram os episódios depressivos, mas, desde 2021, os transtornos ansiosos ultrapassaram essa métrica.
Os estados que lideram o ranking dos afastamentos são: São Paulo (125), Minas Gerais (65,5), Rio Grande do Sul (37) , Santa Catarina (33,5) e Rio de Janeiro (31,5). Quanto ao perfil das pessoas, a maioria tem em torno de 41 anos e 64% são mulheres.
O que gera os afastamentos?
A sensação já era de que essa evolução acontecia, e agora foi comprovada por números. Esses dados refletem o impacto da epidemia na saúde mental brasileira. Profissionais acreditam que o isolamento social e as novas formas de trabalho tiveram um papel importante no desenho desse novo cenário.
Esse novo panorama indica uma crise de saúde mental no Brasil e pede pela reflexão sobre o bem estar no ambiente de trabalho. “Estamos vivendo uma era de sobreposição de crises, todas elas nos afastam de uma relação mais harmoniosa com nós mesmos, com as pessoas e com o nosso entorno”, diz o psicólogo clínico Thiago Domingues.
A atualização da NR-1
“A segurança psicológica é um dos principais agentes de desregulação e estresse nas empresas, assim como a cobrança por produtividade e desempenho”, afirma Thiago. E diante desse cenário, uma medida precisou ser tomada.
Em foco do bem estar psicossocial nos ambientes corporativos, a Norma Regulamentadora n°1 (NR-1) – conjunto de diretrizes que estabelece as condições de segurança e saúde no trabalho – foi atualizada e decretou que todas as empresas deverão elaborar um plano de gerenciamento de saúde mental para seus funcionários até maio de 2025. Organizações que não aplicarem a nova conduta estarão sujeitas a multas, embargos e interdições, além de terem que assinar termos de ajuste de conduta.
De acordo com um levantamento elaborado pela Aon Brasil sobre o panorama do mercado brasileiro, a Pesquisa de Benefícios de 2023, apenas pouco mais da metade das empresas (55,2%) oferecem iniciativas para a gestão de saúde e qualidade de vida aos funcionários. Ainda, 47,5% oferecem algum tipo de subsídio para incentivar hábitos saudáveis.
“À medida que a vida das pessoas se conecta com os discursos e o modo de viver das empresas, é preciso que as empresas invistam em campanhas de conscientização sobre o tempo, sobre a jornada de trabalho, e, principalmente, sobre as condições em que esse trabalho acontece”, aponta Thiago.
O psicólogo cita ações importantes no ambiente corporativo em relação à saúde mental: promoção de espaços de diálogo, de comunicação e, principalmente, de escuta.
“O trabalho pode ser um agente de mudança, contanto que não carregue esses slogans de competitividade, de cobrança por produtividade a todo preço, exigências quase despersonalizadoras por desempenho. É um lugar de cuidado que as empresas devem tomar a frente”, alerta.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login