COMPARTILHE
Design como caminho para a saúde emocional
Divulgação
Siga-nos no Seguir no Google News

Kit de ferramentas convida para o autoconhecimento e ajuda a entender nossos sentimentos e a lidar melhor com eles

Certa vez, conversando com uma mulher, ela me contou que, desde pequena, carregava consigo uma vontade imensa de fazer a diferença no mundo. Como não sabia muito bem de que forma realizar isso, foi experimentar algumas possibilidades: testou a fotografia, as artes, a moda. Independentemente do lugar em que estava, sentia uma inquietação. Parecia não se encaixar em nada pronto, em nenhuma estrutura predeterminada. Enquanto ela falava, eu me identificava com suas aspirações – e pode ser que você, agora, esteja sentindo algo parecido.

Afinal, quem de nós não alimenta o tal desejo de contribuir de forma significativa com a vida do outro – e, com isso, atribuir sentido à própria? É também por isso que a palavrinha propósito ganhou tanta força nos últimos anos. Cansamos de fechar os olhos e seguir a maré sem questionar em qual barco estamos, quem está no comando dele e se é por esse mar mesmo que queremos navegar. Não basta estar na água, estamos nos perguntando, cada vez mais, o porquê de passar a vida nela.

Bem, mas este não é um texto sobre sentido da vida. É sobre a Anna, a menina ansiosa por estender a mão para o próximo, e seu trabalho. Formada em Desenho Industrial pela PUC, no Rio, Anna Luiza Braga embarcou,  sem grandes pretensões, para Nova York, para um mestrado em Design para Inovação Social. Aliás, uma pós-graduação não fazia parte de seus planos, mas acabou descobrindo o curso e sentiu vontade de fazê-lo. Por que não tentar? E, de fato, foi lá que começou a encontrar respostas para suas mais frequentes perguntas.

Já nos Estados Unidos, percebeu que a saúde mental das pessoas era uma discussão crescente, especialmente no que dizia respeito aos jovens. O número de adolescentes com depressão e os casos de suicídio no país não paravam de subir. A entrada na universidade também era um indicador importante – por ser uma fase de mudanças, tanto físicas quanto emocionais, somadas à ausência de acompanhamento profissional, muitos alunos acabavam adoecendo.

Anna pensou, então, em como aliar seu conhecimento em processos criativos à busca de soluções para o problema. Ao longo de um ano, pesquisou sobre a doença, a maneira como as pessoas lidavam com ela, quais eram seus impactos e como era possível recuperar a saúde. O resultado foi o Seekit, um conjunto de ferramentas para estudantes que sofrem de depressão, criado com o objetivo de ajudá-los a entender como são afetados pelas questões que estão lidando.

Não é um instrumento de cura, nem deve ser considerado uma terapia, mas é um caminho para o autoconhecimento. “Todos temos altos e baixos na vida”, conta Anna. “A questão é saber identificar quando estamos nos momentos mais tensos, se há algo que nos faz voltar frequentemente a eles e como podemos lidar com isso”.

O kit é formado por cartões com perguntas e atividades, além de folhas em branco e outras com linhas. “Quais são as coisas que te deixam feliz?”, “Como é um dia normal para você?”, “O que muda quando você se sente deprimido?” são algumas das perguntas do jogo. As fichas são divididas em quatro grupos (planejamento, mapeamento, bem-estar e conexão interna), mas o intuito é que o estudante siga a ordem que desejar e realize as atividades como preferir.

“Eu não quis colocar muita regra porque, quando estamos passando por alguma situação delicada, ter muitas normas atrapalha um pouco. A gente se sente mais travado, sem muita motivação para começar, porque sabemos que há vários passos a seguir. Então, desistimos. Se o processo puder ser mais livre e intuitivo, melhor”, revela.

Na medida em que os participantes conseguem expor suas dificuldades de forma criativa, como desenhando ou escrevendo, os problemas ficam mais visíveis e palpáveis. Assim, são capazes de identificar padrões no comportamento e pensar em saídas alternativas.

Agora, ela está traduzindo o material para o português e trabalhando em uma nova versão que contemple mais pessoas, não apenas universitários. Depois de quatro anos do lançamento do projeto, Anna diz que a maior descoberta ao longo da jornada foi perceber que ela, no papel de profissional, não teria as respostas: “As pessoas carregam a resposta daquilo que procuram dentro de si mesmas. Está tudo na gente. Eu, como designer, sou uma ouvinte. Minha função é escutar e dar as ferramentas para que o outro encontre seu caminho. Uma vez na direção certa, ele saberá o que fazer sozinho.”.

—–

Seekit
www.annaluizabraga.com/seekit

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário