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O que é autocuidado e por que o termo anda banalizado?
Jeffery Erhunse
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O autocuidado é um movimento político que historicamente nasceu na organização de mulheres em luta por direitos. Afirma-se que o conceito tenha surgido em Audre Lorde – ativista feminista, negra e lésbica dos Estados Unidos. O objetivo principal de Lorde, que também era poeta e escritora, era defender que as mulheres, especialmente negras, pudessem ter espaços e momentos de cuidado de si mesmas em meio a uma realidade difícil, ainda mais quando eram (e ainda são) as principais pessoas responsáveis por assumirem as tarefas de cuidado na sociedade.

Embora tenha perdido um pouco de seu fervor, o autocuidado é uma das palavras que frequentemente aparecem nos índices de busca do Google. Mas não é seu sentido político e crítico que costuma surgir nos primeiros resultados. O termo, que se popularizou a partir de diferentes práticas que promovem o bem-estar e a saúde mental, ganha novos sentidos e associações.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o autocuidado é a capacidade de indivíduos, famílias e comunidades de promover a saúde, prevenir doenças e lidar com fatores negativos com ou sem o apoio de um profissional de saúde. “Isso concretiza ao indivíduo a possibilidade de ser ativo e gerir seus cuidados de saúde em áreas que incluem a prevenção e controle de doenças, automedicação e reabilitação, incluindo cuidados paliativos”, explica Mariah Theodoro, psicóloga e mestre em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP).

Há uma banalização do autocuidado?

Em rotinas tão exaustivas, reivindicar momentos de descaso e lazer passaram a ser chamadas de práticas de autocuidado. Mesmo que não adotem o sentido político e reivindicatório do termo, Mariah Theodoro traz outras questões ao debate. “Será que podemos chamar de banalização as poucas possibilidades de dirigir a si um ato possível de descompressão?”, questiona. Para ela, é importante se empoderar de fatores básicos que se relacionam à assistência coletiva e individual.

Para a especialista, a palavra também se tornou popular em meios de comunicação de massa e isso pode ter contribuído para o surgimento de outras visões, especialmente no senso comum, sobre o autocuidado. “Muitos acreditam que o termo está atrelado com algo que anula a realidade ou que está relacionado apenas a autoajuda, sem efeito expressivo”, justifica.

Pelo resgate político do termo

Apesar do autocuidado ter ganhado espaço nas redes sociais e em campanhas publicitárias, é comum que ativistas e pesquisadores advoguem pelo resgate do termo. “Esse é um tema que tem sido bastante esvaziado e capturado como tudo que acontece no mundo contemporâneo pelo capitalismo”, explica Andreína Moura, psicóloga e professora universitária. “Ele tem se tornado mercadoria, até porque, pela forma que é colocado, se torna facilmente vendável”, destaca Andreína, doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Para a pesquisadora, há uma conta que não fecha nessa equação. Mulheres negras, que ocupam as tarefas e vagas de emprego relacionadas ao cuidado, são dificilmente amparadas na velhice ou em momentos de fragilidade. “Existe uma estrutura social, política e jurídica que nos empurra para esse lugar. Por isso, autocuidado é, sobretudo, colocar seus desejos, vontades e projetos de vida como prioridade“, justifica.

E é plausível o questionamento sobre o que é, para você, autocuidado. “Quando vendem que uma cirurgia ou procedimento estético é autocuidado, isso atende mais uma vez a esse lugar que nos exige estarmos sempre jovens”, destaca a psicóloga. Para ela, é fundamental que cada pessoa possa definir projetos, vontades e desejos de forma particular. No entanto, isso se relaciona diretamente com questões sociais e políticas. 

Autocuidado é…

Se combater a banalização do conceito é uma das bandeiras de muitas ativistas, definir o que é autocuidado não cabe nesta matéria, especialmente porque esse não é um espaço de decisão, mas de pluralidade. “As habilidades chamadas pelo acrônimo ‘saber’ podem ser um bom percurso para mantermos nossa saúde psicológica e física em dia, sem tornar a rotina mais pesada, muito pelo contrário”, explica Mariah Theodoro. Para a especialista, algumas atitudes são fundamentais para uma vida mais leve, saudável e com propósito. Destacamos que essas recomendações são universais e reconhecidas pela ciência:

  • Tomar medicações adequadas (quando necessário), realizar exames e consultas periódicas;
  • Ter uma alimentação adequada ao ritmo de vida atrelado ao que gera prazer em comer;
  • Balancear o sono (criar uma rotina, higiene alimentar);
  • Manter uma rotina de exercícios físicos regular;
  • Reduzir substâncias que alteram o humor (álcool, drogas, cafeína).

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