Cada vez mais, os animais de estimação conquistam espaço dentro das famílias e no coração das pessoas. Esse tipo de vínculo é fortíssimo. Uma relação de amor e cuidado. Afinal, os animaizinhos não são apenas objetos, são seres vivos que retribuem o carinho recebido.
As vidas deles se entrelaçam com a rotina dos tutores através dos passeios na rua, da companhia no dia a dia, do leva e traz na “creche”, dos horários de alimentação, das brincadeiras, dos carinhos. Quando morrem, os pets levam consigo uma peça que era essencial na rotina da família, deixando memórias únicas de um vínculo recíproco de amor.
Só que, diferentemente da morte de pessoas, no outro dia o trabalho ainda ter que ser feito, não é possível retirar os dias de luto. Ao abrir os sentimentos com alguém, pode ser aconselhado adotar outro animal de estimação. A dor ganha um prazo para acabar.
O luto não reconhecido
Sentir a perda de um animalzinho é um luto invalidado que algumas pessoas não entendem e, às vezes, nós mesmos nos repreendemos por vivenciar. A psicóloga Ana Clara Bastos, especialista em luto, explicou à Vida Simples que o luto é uma reação a qualquer perda significativa do indivíduo, mas que a visão cultural do termo é limitada e cheia de tabus, restringindo-se à morte de pessoas próximas.
“Há muitas regras sociais de como viver o luto. Como devemos expressar, o que podemos falar, que roupa devemos vestir, se podemos rir ou chorar”, diz. Mas não deveria ser assim, o luto é dinâmico, influenciado pelas experiências de cada um. “Ele é multidimensional e multifatorial, se expressa de várias maneiras, em várias emoções, com reações físicas, cognitivas e espirituais.”
O luto não é mais fácil por ser por um animal de estimação ou por uma pessoa próxima. Ambas são perdas dolorosas e devem ser tratadas com a mesma seriedade, cuidado e apoio.
Não validar o luto por animal traz ainda mais sofrimento para os enlutados, já que não se sentem confortáveis em expressar os sentimentos e não encontram espaços de acolhimento. Por causa da pressão social em cima do luto, a pessoa que perdeu um pet pode julgar a si mesma, diminuindo a razão da sua dor.
“A falta de reconhecimento dessa dor pode trazer alguns riscos, isso porque um dos fatores de proteção (aspectos que ajudam na elaboração do luto) é poder construir sentido e significado nessa perda, mesmo que isso seja um trabalho interno”, alerta Ana Clara. O “choro engolido” pode virar sintomas físicos, perda de concentração, irritação, rompimento de relações, isolamento social e, consequentemente, mais sofrimento psíquico.
Como lidar com o luto por animal de estimação?
Para a psicologia, o principal caminho para lidar com esse luto e promover acolhimento é a informação sobre o reconhecimento dessa dor. Os pets ganharam mais espaço dentro das famílias e cada vez mais pessoas são capazes de entender o que essa perda significa.
Ainda mais importante, conecte-se com a dor e a reconheça como válida. O animal era parte de uma rotina, entendia as suas emoções e retribuia carinhos, com certeza fará falta todos os dias. Não se culpe por sentir a perda!
“Quando falamos de cuidado ao luto, falamos primeiro no reconhecimento do assunto e de abrir espaço para acolhimento. É necessário identificar os momentos mais difíceis, o que pode te ajudar e te confortar nesse momento singular.”
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