Pela liberdade de agir sem esperar a aprovação do outro
Mentora e palestrante, Dani de Maria fala sobre dependência emocional e como a espiritualidade e seu propósito de vida a ajudaram a se reencontrar
Em algum momento da vida, você já sentiu que precisava da aprovação do outro? Para realizar alguma coisa, para se validar e se reconhecer como ser humano, para acreditar em si.
Olha, isso acontece mais do que imaginamos e pode se originar por diversos motivos, como traumas que carregamos, dificuldade em encarar nossas emoções e a falta de fé: em nós mesmos, no nosso caminho, na nossa verdade.
Mas eu vou te dizer também que quanto mais a gente investe em autoconhecimento, quanto mais a gente aprofunda nosso olhar para nós mesmos, mais próximos ficamos de ultrapassar esse vício por aprovação. Ou seja, superar a dependência emocional e, enfim, viver a nossa história.
Para falar um pouco mais sobre isso, este mês eu trago uma convidada especial: a Dani de Maria, mentora e líder de imersões espirituais. Ela conduz retiros de silêncio e dá palestras sobre temas como espiritualidade, relacionamentos, dependência afetiva e a nutrição dos nossos desejos.
A Dani tem um propósito muito parecido com o meu, de ajudar as pessoas a se conectarem com sua verdade, com o que é sagrado para elas, edificando assim a sua própria vida. E ela já viveu episódios de dependência emocional, de desencontro, de rejeição consigo mesma.
Mas foi trilhando seu próprio caminho, apoiada por seu propósito, que ela se reencontrou. “Eu acho que as relações mais íntimas são as que mais nos ensinam. A relação com o meu marido é para mim uma grande escola”, pontuou.
Essa experiência e tantas outras, ela divide com a gente, neste bate-papo. Além disso, convida a todos a conhecerem seu mestre espiritual, Paramahamsa Vishwananda, que dará uma palestra gratuita, em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 2025, no evento India Fest.
Qual é a sua verdade?
Eu sou uma pessoa apaixonada por me conhecer. E por me tornar mais verdadeira, mais íntegra, mais próxima da filha de Deus. Melhor mãe, melhor esposa, melhor companheira, melhor líder em um ambiente em que ancoro. E não é no sentido da perfeição, mas sempre buscando ser melhor do que fui ontem. Eu amo me tornar, eu amo me amar. Porque assim vou descobrindo partes de mim que são mágicas. Mas nem sempre foi assim. O nascimento de minhas filhas me trouxe esse olhar de buscadora, de me tornar minha melhor versão. Isso me motiva a acordar, a viver, a entregar o meu servir no mundo.
E como foi para você encontrar a si mesma, descobrir o seu lugar ao sol?
Quando eu era pequena, o sonho da minha vida era ser mãe. Queria casar e ter filhos, tinha aquele desejo da princesa. Então eu fiz isso: me casei e tive duas filhas. Quando a segunda já estava com seis meses, me veio um chamado no coração, dizendo que tinha chegado a minha hora de ir além. E comecei a servir fora da minha casa, porque era algo que o meu coração gritava. Entendi que, se eu não fizesse aquilo, ia adoecer. Não significa que eu não amava mais a função de ser mãe e dona do meu lar. Mas é como se isso só não bastasse, é como se eu tivesse destravado uma nova coisa dentro de mim, e eu precisava ir ao encontro dessa nova coisa.
Em qual ponto as pessoas começaram a olhar para você, compreendendo que sua fala também era sobre elas?
O fato de eu nunca imaginar que isso era um trabalho contribuiu bastante. E até hoje eu faço questão que seja assim: sou eu, contando a minha experiência de vida, a minha descoberta, o que me transformou, o que me atravessou, o que me rasgou, o que me fez parir uma outra Daniela. Essa verdade toca as pessoas. E eu amo fazer o que faço. Quando eu vejo a sala dos meus espaços cheia de pessoas disponíveis para conhecerem um pouco da história delas, a partir da minha, eu digo “nossa, Deus foi muito bom para mim”. E naquele momento em que eu estou servindo ou que estou dando carinho para minhas filhas, eu entendo que tudo que vivi de bom e de ruim me fez chegar a esse momento. Então, para tudo sou grata e por tudo sou grata.
“Somos viciados em sofrer, em ser pequenos, em caber, na aprovação do outro e em tudo que está fora da gente. E só resolvemos isso voltando para dentro. É a mais simples e a melhor escolha de autoamor”
Agora, falando um pouco sobre dependência afetiva, você jáviveu isso em suas relações?
Sim, eu vivi uma dependência afetiva. E eu e o Murilo, meu marido, conseguimos evoluir juntos, conseguimos transicionar isso. Eu tinha 19 anos quando o conheci. E nasci em uma estrutura familiar muito complicada, meus pais não tinham muita clareza sobre seus sentimentos, então eu sou fruto de um lar onde as pessoas não falavam muito sobre emoções. E acho que muitas pessoas da minha geração e das gerações anteriores nasceram em um lugar em que pais e mães desconheciam as suas próprias dores, os seus próprios dilemas.
De que forma sua história familiar te influenciou?
Eu era insegura, não me amava, não percebia meu valor, precisava agradar para me sentir pertencente, ficava procurando defeitos no meu corpo, na forma como eu me vestia. Eu me comparava com outras mulheres e não conseguia dizer o que eu achava, nem minhas necessidades. Era um poço de dependência emocional, que precisava do outro para validar minha própria existência e me sentir importante. Apesar de tudo, tenho um profundo respeito por essa Daniela que eu fui. Porque ela tinha muito pouco e conseguiu fazer muita coisa com o que tinha.
Quando foi que essa dependência cessou?
Em suas palestras, Dani de Maria destaca a importância de silenciarmos as vozes externas para ouvirmos os sussurros da intuição e os anseios do nosso coração (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Um ponto é que eu fui aprendendo a ser a mulher do limite, a mulher do não, a mulher da confiança, do soltar. Então, eu tenho um limite com as minhas filhas, eu tenho limites claros com o meu marido e nós sempre conversamos, deixando claro o que é importante e inegociável para mim. Isso, para a Daniela de 7 anos atrás, seria impensável, mas eu aprendi a estabelecer meus limites. Entendo que fui dependente emocional por muito tempo, até conhecer a beleza que é o Divino. E o autoconhecimento. A combinação dessas duas frentes me tirou da minha dependência emocional e desse olhar tão pequeno que eu tinha.
A necessidade de validação, de aprovação, também te encontrou a certa altura, né?
Sim. E, quando acontece, você vê a sua carência, a sua necessidade de atenção escancarada. Sempre buscando a validação do outro. E eu sinto que até isso é autoconhecimento, é muito essa questão da espiral, de: “nossa, eu trabalhei isso aqui, mas essa relação está me convidando ainda mais fundo nesse outro ponto”.
Para você, o que é ser simples?
Compreender que eu posso ser só eu. Só o fato de eu existir e ter a vida que tenho é a maior prova do quanto Deus me ama. Estou no meu lugar, cuido da minha vida, sou responsável pela minha bagunça, por aquilo que falo, pelo meu caminho espiritual, pela minha evolução. Mas muitas vezes não é fácil deixar de ser quem você se viciou em ser. Muitos de nós, na socieda
de atual, somos viciados em sofrer, em ser pequenos, em caber. Somos viciados na aprovação do outro e em tudo que está fora da gente. E só resolvemos isso voltando para dentro. É a mais simples e a melhor escolha de autoamor.
Sobre o Gente de Verdade
GENTE DE VERDADE é um movimento que apoia caminhos de autoaceitação e incentiva a reconexão interior e o encontro com nossa verdade por meio da simplicidade. Os artigos deste espaço têm o objetivo de inspirar cada um de nós a nos reconhecer e nos autoconhecer no mundo. @gente.deverdade
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– Especialista em criatividade fala de caminhos para a verdade
– Nossa história de vida é um presente divino
– Palavras têm poder e são capazes de transmutar energias
JACQUELINE PEREIRA tem fé no ser humano. Idealizadora do projeto Gente de Verdade, ela também é especialista em pessoas, terapeuta holística, palestrante e condutora de imersões espirituais.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 274 da Vida Simples.
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