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    Algumas reflexões para lidar com a melancolia de fim de ano
    Melancolia no fim do ano pode carregar traumas; veja como lidar com o período (Foto: Woody Yan/Unsplash)
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    O fim de ano traz alegria, bons sentimentos e reforça laços de união entre familiares e amigos. Mas isso não é unanimidade. Para algumas pessoas, esse período funciona como um gatilho para a melancolia. Um momento de relembrar traumas e perdas, e que causa um incômodo para quem está longe do lar, do convívio íntimo e comunitário que a época proporciona.

    Nossa cultura gera uma expectativa sobre reunião de família, troca de presentes e reflexão sobre o ano que está passando, o que pode criar frustrações e um peso emocional para essa época.

    A psicóloga Karin Silva explica que as razões para o sentimento de melancolia de fim de ano aflorar em algumas pessoas são inúmeras: pode ser por distância geográfica, por conflitos com pessoas que antes eram queridas, por indisponibilidade por conta das obrigações do trabalho. Além disso, o luto também pode revisitar as pessoas.

    Ela destaca também que a religiosidade pode ser um fator de desconforto. “De forma geral, as manifestações religiosas compõem as celebrações de fim de ano. E assim, a solidão e a tristeza podem advir da impossibilidade de realização ou de participação nas cerimônias religiosas ou espirituais, uma vez que o sentido principal destes ritos orbita em torno destas crenças”, comenta.

    Por fim, questões sociais e econômicas influenciam as possibilidades das pessoas de realizar comemorações, especialmente em grupos vulnerabilizados.

    “A tendência é que estes ritos percam toda a essência de significados ligados à celebração da vida, à solidariedade e à união, podendo até mesmo serem traumáticos ou desagradáveis. A melancolia pode se apresentar com força nestas experiências, pois ela traz um conjunto de memórias afetivas ligadas à humilhação social e ao sentimento desesperança.”

    A melancolia dos gatilhos de fim de ano

    O fim de ano pode trazer uma certa beleza estética com as luzes e as decorações, mas o destaque que ele tem no imaginário das pessoas pode ser ruim. Isso ocorre porque o período pode ter sido, no passado, o cenário de traumas e situações negativas, e as pessoas podem não conseguir desassociar as comemorações com o evento traumático.

    Acidentes, brigas, conflitos, rompimentos de vínculo são alguns exemplos de acontecimentos que trazem memórias dolorosas. “É comum que nestes casos, as lembranças dolorosas gerem desânimo e sentimentos dúbios, além de uma autocobrança injusta para ser uma pessoa mais grata neste período ou mais engajada nas reuniões e celebrações”, destaca.

    É preciso respeitar o momento

    Para quem enfrenta a melancolia no fim do ano, a psicóloga recomenda ressignificar o conceito de família e celebração.

    “Podemos cogitar celebrar e construir momentos mais íntimos e especiais juntos a ‘outras famílias’. Isso pode ajudar a lidar com a solidão ao realizar ritos de passagem com significados mais íntimos e fiéis aos nossos valores e princípios de vida”, recomenda.

    Ela também sugere que as pessoas se concentrem no que traz conforto, afastando-se de padrões superficiais e que não fazem sentido.

    “Refletir sobre a essência das tradições religiosas, espirituais e focar nos que traz conforto, alegria e união apesar das dificuldades no planejamento e realização das reuniões familiares ou celebrações pode ajudar a se esquivar do teor consumista.”

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    Ninguém é obrigado a celebrar o fim do ano

    Ela recomenda também que haja respeito com os processos de cura individuais. “Não tentar interromper e respeitar os processos de luto, as perdas inevitáveis e as dores emocionais ainda não cicatrizadas são imprescindíveis.”

    “Nem sempre o fim do ano vai ser o final de ciclos, muitas vezes é a metade de alguns ou o começo muito lento de outros, isso não significa que haja algo errado. É preciso respeitar as outras temporalidades que nos atravessam, e estas temporalidades nunca são apenas cronológicas.”

    Além disso, há sempre a opção de não participar dos eventos. Está tudo bem respeitar seus sentimentos e a condição atual, e não planejar nem comparecer a festas. Não comemorar é uma opção saudável!

    Como lidar com a melancolia do fim de ano?

    Para quem está distante fisicamente da família, a tecnologia pode ser aliada. Vídeos, cartas e mensagens de voz ajudam a reduzir a distância e resgatar a conexão afetiva. Além disso, replicar receitas típicas ou decorações familiares podem trazer uma sensação de proximidade simbólica.

    Caso a questão familiar seja mais profunda que apenas a distância física, Karin sugere priorizar contatos com pessoas mais próximas e evitar assuntos que alimentem conflitos.

    “Estes processos também envolvem aceitar as experiências passadas negativas, aceitar que desafetos são desafetos, normalizar que pessoas que não se gostam devem exercitar a convivência mínima e não tentar a todo custo promover reconciliações.”

    Ressignificando o período

    Karin lembra que as emoções consideradas negativas, como tristeza, raiva e medo, não são prejudiciais. Elas fazem parte de processos de cura e mudanças necessárias.

    Porém, se os sentimentos forem intensos ou insuportáveis, buscar ajuda profissional ou apoio em redes de acolhimento é fundamental.

    As festas de fim de ano podem ser desafiadoras, mas podem ser um momento para criar as próprias tradições e rituais. Não há uma maneira única ou ideal de viver este período!

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