Uma das principais e primeiras características que observamos ao ver o rosto de alguém é o cabelo: se é grande, curto, colorido ou natural. O cabelo, assim como a roupa e os acessórios que carregamos no corpo, é uma forma de se expressar e apresentar um estilo, uma identidade.
Muitas vezes, a aparência dos fios afeta até mesmo as nossas emoções. Quando acordamos naqueles dias que o cabelo não parece ficar bom de jeito nenhum, é comum que o nosso humor e autoestima sejam afetados.
O cabelo faz parte do nosso organismo e, assim como a pele e as unhas, sua aparência traz sinais sobre como está a saúde do nosso corpo. E, quando o cabelo começa a demonstrar sinais de enfraquecimento e queda, é importante investigar as causas dessa mudança.
Cair cabelo é normal: conheça todas as fases dos fios
Para compreender o seu cabelo, é preciso primeiro saber como funcionam os nossos ciclos capilares. O médico Yasel Hernández Marrero, pós-graduado em dermatologia, explica que o nosso cabelo passa por três fases.
“A queda de cabelo, causada por uma variedade de fatores, pode gerar receio. Mas antes de se preocupar, é importante saber que existe um ciclo de renovação por trás do crescimento e queda do cabelo”, aponta o especialista.
Segundo Yasel, cada fio de cabelo passa pelas fases chamadas de: anágena, catágena e telógena. No primeiro ciclo, que acontece em torno de 3 até 7 anos, os fios crescem diariamente cerca de 0,35 mm, o que resulta em 1cm por mês, aproximadamente.
Após isso, na fase catágena, os fios entram em um processo chamado de involução: os fios ficam “em repouso”, após crescer todo o seu comprimento, enquanto se preparam para começar a cair. Depois disso, vem a fase da queda, e durante algumas semanas é comum caiarem com grande frequência. Assim o ciclo de um fio finaliza.
“Ou seja, perder alguns fios de cabelo é completamente normal. No entanto, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a queda excessiva pode ser uma preocupação. O esperado é que uma pessoa perca entre 100 a 200 fios por dia. O melhor horário para observar o problema é durante o banho, quando os fios soltos deslizam”, explica o especialista.
Queda de cabelo nem sempre é doença
A queda de cabelo é um sintoma, não uma doença. Quem aponta isso é Melissa Alfredo, dermatologista da Santa Casa de São José dos Campos (SP). “As causas são variadas, mas a mais comum é o eflúvio telógeno. Essa condição costuma preocupar os pacientes pela alta quantidade de fios perdidos, principalmente no banho”.
Apesar do nome estranho, e talvez assustador, o eflúvio telógeno se caracteriza por um enfraquecimento temporário dos fios. “É um tipo de queda transitória e abrupta, que pode durar alguns meses e se resolve espontaneamente”, complementa a dermatologista.
Nem todos os casos de queda de cabelo significam, necessariamente, uma patologia. A tão temida calvície, por exemplo, pode ser hereditária, ou seja, ocorre por predisposição genética.
Raphael Gaeta, dermatologista na clínica MedViana, de Cotia (SP), cita mais alguns fatores que podem ocasionar a fragilidade dos fios: alterações hormonais, estresse, deficiências nutricionais e problemas de saúde, como doenças autoimunes.
“Além disso, o uso excessivo de produtos químicos e calor nos cabelos também pode contribuir para uma diminuição da resistência dos fios”, aponta o especialista.
Fontes de calor e química afetam a saúde dos fios
Quem explica como a química e as fontes de calor afetam couro cabelo é Najara Gomes, médica dermatologista titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). “O uso de produtos químicos, como tinturas e alisantes, pode impactar significativamente a saúde do cabelo e contribuir para a quebra dos fios, pois penetram na cutícula e podem alterar a estrutura deles”, justifica.
Além disso, a médica aponta que esses produtos também podem gerar reações alérgicas e irritações no couro cabeludo. “E o uso de alisamentos, que puxam o cabelo firmemente, pode levar à alopecia de tração”, complementa a profissional.
A alopecia de tração ocorre devido ao estresse repetitivo nos folículos pilosos, que são as estruturas responsáveis pelo crescimento dos fios, resultando em uma inflamação e eventual cicatrização do folículo. Se não for tratada, a lesão pode levar a uma perda de cabelo permanente.
Para evitar esses danos, Najara ressalta a importância de conhecer e pesquisar sobre os produtos químicos que pretende usar no cabelo, conferindo a qualidade e até mesmo as avaliações de consumidores sobre o produto e a marca.
“Também é essencial realizar esses tratamentos a cada três meses, pelo menos, para permitir uma recuperação dos fios. Além disso, deve-se realizar regularmente tratamentos de hidratação, nutrição e/ou reconstrução capilar. Por último, recomendo proteger os fios do excesso de calor, e evitar penteados apertados”, complementa.
Produtos milagrosos e outros mitos sobre queda de cabelo
A internet está repleta de notícias falsas e receitas milagrosas que prometem fortalecer os fios, evitar a queda de cabelo e até “curar” a calvície. Najara aponta três mitos mais comuns sobre o assunto:
- Shampoos antiqueda para tratar queda capilar
Esses produtos podem ajudar a manter o couro cabeludo limpo e saudável, o que também é importante para a saúde do cabelo. Mas a ação de limpeza em si não trata as causas subjacentes da queda. Além disso, o tempo de contato do produto com o couro cabeludo é insuficiente para penetração dos componentes que prometem a ação contra a queda. - Cortar o cabelo faz com que ele cresça mais rápido e mais grosso
Quem nunca escutou que precisava cortar o cabelo para que ele crescesse mais saudável? Mas a verdade é que o corte não afeta a taxa de crescimento dos fios, afinal o crescimento do cabelo é determinado pela genética. Apesar disso, cortar regularmente pode ajudar a prevenir pontas duplas e manter uma aparência saudável. - Lavar o cabelo diariamente causa queda
Não há problema em lavar o couro cabeludo diariamente. Para quem prefere lavar os cabelos todos os dias, Najara recomenda não usar shampoos agressivos, e não friccionar o couro cabeludo intensamente durante a lavagem.
Por fim, o que realmente funciona para tratar cada caso de queda capilar dependerá do diagnóstico, que é individual. Não existe receita milagrosa: a melhor abordagem para quem enfrenta queda de cabelo é consultar um dermatologista para uma análise adequada e um plano de tratamento eficaz.
Quando procurar ajuda médica para queda capilar?
Como apontado anteriormente, nem todo enfraquecimento capilar significa, necessariamente, um sinal de doença. Então, como devemos saber quando recorrer a ajuda médica? Quem responde essa pergunta é Yara Castanha, fundadora do Studio Yara Castanha, no Rio de Janeiro (RJ).
Para a profissional, os sinais de que a saúde capilar não está normal podem incluir queda excessiva ao lavar ou pentear, afinamento visível do cabelo, áreas calvas no couro cabeludo, e a presença de vermelhidão ou irritação na pele.
“Recentemente, conversando com meu médico, ele também me ensinou um teste fácil: se o fio cai em excesso com aquela gordurinha na raiz, é sinal de que ele está caindo antes do tempo. Nesses casos, é importante identificar a causa desse problema para tratá-lo adequadamente”, acrescenta Yara.
O que serve (e não serve) para cuidar do cabelo?
Apesar de eventuais quedas de fios serem normais, cuidar da saúde do cabelo é essencial para que ele cresça saudável e forte. Mas nem todas as receitas indicadas na internet ou por pessoas não profissionais são realmente eficazes para a manutenção dos fios. Quem nos explica isso é Fabiana Oliveira Pereira, dermatologista do Centro Médico Pastore (RJ).
“Balinhas de vitaminas não são recomendadas antes de uma consulta médica. A biotina, vitamina conhecida pelo fortalecimento de cabelos, unhas e pele, por exemplo, pode alterar a análise de hormônios, em exames de sangues de maior sensibilidade”, exemplifica.
Dentro dos laboratórios, alguns exames, como análises de tireoide, hepatite, gravidez (Beta HCG) e outros, podem ser afetados pelo uso da biotina, que pode modificar os resultados e gerar diagnósticos incorretos.
Além disso, Fabiana aponta que é necessário fazer uma investigação para entender se há deficiência nutricional no paciente, para então poder repor nutrientes de forma direcionada e na quantidade certa. Em alguns casos específicos, pode, sim, haver a necessidade de prescrever polivitamínicos.
Não existem receitas secretas. Algumas práticas auxiliam a manter um couro cabeludo saudável, de acordo com Yasel. Lavar o cabelo corretamente, por exemplo, é essencial. “Use xampus suaves e adequados ao seu tipo de cabelo e couro cabeludo. Evite água muito quente, que pode ressecar o couro cabeludo e o cabelo. Por fim, massageie suavemente o couro cabeludo durante a lavagem para estimular a circulação sanguínea”, instrui o médico.
Alimentação e saúde do cabelo andam juntas
Além dos cuidados com o couro cabeludo, é importante reconhecer que, para promover a boa saúde capilar, é essencial cuidar da nossa saúde em geral. E a alimentação afeta a aparência, a resistência e a força dos cabelos, de acordo com a dermatologista Patricia Ishiy, dermatologista pela USP e titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
“A alimentação influencia diretamente na saúde capilar, pois é através da nutrição adequada que adquirimos vitaminas e minerais responsáveis por manter a vitalidade dos fios”, explica a especialista.
Um exemplo, segundo Patricia, é como a deficiência de ferro gera efeitos na saúde capilar. “Essa deficiência pode acarretar uma diminuição dos estoques de ferro no organismo, causando uma queda de cabelo denominada de eflúvio telogeno agudo. Essa condição é melhorada após o aumento da presença desse mineral no corpo”, aponta a dermatologista.
Essa ligação ocorre porque os fios de cabelo são compostos principalmente por queratina, uma proteína responsável por fortalecer e proteger o cabelo, a unha e a pele. Por conta disso, o consumo de alimentos que são fontes de proteínas, como carnes, leguminosas, nozes e sementes, é importante para a manutenção da vitalidade dos fios.
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