Menu
  • CONTEÚDO
  • PARA ASSINANTES
  • E MAIS
  • NEWSLETTERS
  • ANUNCIE AQUI
  • SOLUÇÕES PARA RH
  • REDES SOCIAIS
    • Google News
  • EDIÇÃO DO MÊS
  • COMPARTILHE
    Para que serve a filosofia e o que um filósofo faz?
    (Foto: creative commons)
    Siga-nos no

    dilemasAs pessoas ficam compreensivel­mente confusas sobre o que é a filo­sofia. De longe, parece estranha, ir­relevante, chata e, ao mesmo tempo, também — um pouquinho — intri­gante, mas é difícil explicar exata­mente do que se trata. O que é um fi­lósofo? O que eles fazem? Por que preci­samos deles? Felizmente, a resposta já está na própria palavra “filosofia”.

    Em grego, philo significa amor — ou devoção — e sophia quer dizer “sabe­doria”. Filósofo é, assim, uma pessoa dedicada à sabedoria.

    Embora seja um termo um tan­to abstrato, o conceito de “sabedo­ria” não é nebuloso. Ser sábio signi­fica tentar viver e morrer bem, levar a melhor vida possível dentro das condições problemáticas da exis­tência.

    A meta da sabedoria é a rea­lização. Você pode até dizer que é a “felicidade”, mas “felicidade” é ilu­sória, pois sugere alegria e anima­ção constantes, enquanto “realiza­ção” parece compatível com mui­ta dor e sofrimento, que toda vida decente deve necessariamente ter.

    Então um filósofo, ou “pessoa de­dicada à sabedoria”, é alguém que se aplica à especialização sistemá­tica em descobrir a melhor maneira de encontrar realização individual e coletiva.

    Em sua busca pela sabedo­ria, os filósofos desenvolveram um conjunto muito específico de habi­lidades. Ao longo dos séculos, eles se especializaram em muitas das questões amplas e gerais que tor­nam as pessoas não muito sábias.

    Identificamos seis:

    1. Não fazemos grandes perguntas

    Qual é o sentido da vida? O que devo fazer com meu trabalho? O que va­mos fazer como uma sociedade? O que é o amor?

    A maioria de nós pen­sa nessas questões em algum mo­mento (com frequência durante a noite), mas ficamos desesperados ao tentar respondê-las.

    Elas têm o sta­tus de piada na maioria dos círculos sociais, e ficamos tímidos ao expres­sá-las (exceto por alguns breves mo­mentos na adolescência) por medo de sermos considerados pretensio­sos e não chegarmos a lugar algum.

    No entanto, essas questões são profundamente importantes, por­que somente com respostas funda­mentadas a elas é que podemos di­recionar nossa energia significati­vamente.

    Filósofo é uma pessoa que não tem medo das grandes pergun­tas. Ao longo dos séculos, fizeram as maiores delas. Percebem que essas questões sempre podem ser dividi­das em partes mais gerenciáveis e a única coisa realmente pretensiosa é alguém pensar que está acima de fa­zer periodicamente questionamen­tos que parecem ingênuos.

    2. Somos vulneráveis a desvios de senso comum

    A opinião pública — ou o que é cha­mado de “senso comum” — é sensa­ta e racional em inúmeras áreas. É o que você ouve de amigos e vizinhos, as coisas simplesmente presumidas como verdadeiras, que você absor­ve sem ao menos pensar nelas.

    A mí­dia jorra isso diariamente, mas, em alguns casos, o senso comum tam­bém é cheio de absurdos, distorções e preconceitos dos mais lamentá­veis.

    A filosofia nos faz submeter to­dos os aspectos do senso comum à razão. Ela quer que pensemos por conta própria, sejamos mais inde­pendentes.

    É de fato verdade o que dizem sobre amor, dinheiro, filhos, viagens, trabalho? Os filósofos que­rem saber se uma ideia é lógica — em vez de simplesmente presumir que deve estar certa só porque sem­pre se pensou dessa maneira.

    3. Somos mentalmente confusos

    Não somos muito bons em saber o que acontece em nossa mente. Sa­bemos que realmente gostamos de uma música, mas temos dificulda­de em dizer exatamente o porquê. Ou alguém que conhecemos é mui­to irritante, mas não conseguimos apontar exatamente qual é o pro­blema. Ou, então, perdemos a cal­ma, mas não sabemos identificar o que nos incomoda tanto. Não temos uma boa percepção de nossas pró­prias satisfações e desgostos.

    É por isso que precisamos exa­minar nossa própria mente. A fi­losofia está comprometida com o autoconhecimento, e seu preceito central — articulado pelo pioneiro e maior filósofo, Sócrates — é curto: “Conhece a ti mesmo”.

    Ao entendermos e analisarmos nossos sentimentos, aprendemos a ver como as emoções afetam nosso comportamento de formas inesperadas, contraintuitivas e às vezes perigosas

    4. Temos ideias confusas sobre o que nos fará felizes

    Somos incrivelmente determinados a tentar ser felizes, mas constante­mente falhamos nesse processo. Exageramos o poder que algumas coisas têm de melhorar nossa vida — e subestimamos outras.

    Em uma sociedade consumista, fazemos es­colhas erradas porque, guiados por um glamour falso, ficamos imaginando que um tipo em particular de férias, carro ou computador fará uma diferença maior do que a pos­sível.

    Ao mesmo tempo, subestima­mos a contribuição de outras coisas — como dar uma caminhada, arru­mar um armário, ter uma conversa estruturada ou ir dormir cedo —, o que pode ter pouco prestígio, mas contribui profundamente para a na­tureza da existência.

    Um filósofo bus­ca ser sábio ao ser mais preci­so quanto às atividades e atitudes que podem realmente ajudar nossa vida a ser melhor.

    5. Nossas emoções podem nos levar a rumos perigosos

    Somos inevitavelmente seres emo­tivos, mas com frequência esque­cemos esse fato desconfortável. Às vezes, algumas emoções — certos ti­pos de raiva, inveja ou ressentimen­to — nos levam a problemas sérios.

    Os filósofos nos ensinam a pensar em nossas emoções em vez de sim­plesmente senti-las. Ao entender e analisar nossos sentimentos, apren­demos a ver como as emoções afe­tam nosso comportamento de for­mas inesperadas, contraintuitivas e, às vezes, perigosas. Filósofos fo­ram os primeiros terapeutas.

    6. Ficamos apavorados e perdemos a perspectiva

    Estamos sempre perdendo a noção do que é importante e do que não é. Estamos — como diz a expressão — constantemente “perdendo a pers­pectiva”.

    Um filósofo é bom em mantê-la. Ao ouvir a notícia de que havia perdido todas as suas posses em um naufrágio, o filósofo estoico Zenão simplesmente disse: “A for­tuna [o acaso, o destino] me leva a ser um filósofo menos sobrecarrega­do”.

    São respostas assim que torna­ram o termo “filosófico” um sinôni­mo de pensamento calmo e de longo prazo e de força mental, resumida­mente, para ter perspectiva.

    O que chamamos de “história da filosofia” é composto de tentativas repetidas ao longo dos séculos de abordar for­mas nas quais não somos sábios.

    Então, por exemplo, na Atenas an­tiga, Sócrates deu atenção especial ao problema de como as pessoas ficam confusas. Ele ficava incomoda­do por as pessoas não saberem exa­tamente explicar o que eram concei­tos essenciais como coragem, justiça ou sucesso, embora fossem os mais usados ao falarem sobre a própria vi­da.

    O método do filósofo Sócrates

    Sócrates desenvolveu um méto­do (que ainda tem seu nome) pelo qual é possível aprender a ter mais clareza sobre o que se quer dizer ao ser o advogado do diabo com qual­quer ideia. O objetivo não é neces­sariamente mudar de opinião, mas sim testar se os conceitos que orien­tam sua vida são firmes.

    Algumas décadas depois, o fi­lósofo Aristóteles tentou nos dei­xar mais confiantes em torno das grandes perguntas. Ele achava que as melhores questões eram aquelas que indagavam para que algo serve. Fez muito isso e, em vários livros, questionou: para que serve o gover­no? Para que serve a economia? Para que serve o dinheiro? Para que ser­ve a arte?

    Hoje, ele nos incentivaria a perguntar: para que serve a mídia jornalística? Para que serve o casa­mento? Para que servem as escolas? Para que serve a pornografia?

    Os filósofos estoicos, interes­sados no pânico, também eram ati­vos na Grécia antiga. Eles notaram uma característica realmente cen­tral do pânico: entramos nele não apenas quando algo ruim acontece mas quando acontece muito inespe­radamente, quando presumíamos que tudo correria bem.

    Então sugeri­ram que deveríamos nos proteger do pânico ao nos acostumarmos com a ideia de que perigo, problemas e dificuldades muito provavelmente surgirão a qualquer momento.

    Afinal, para que serve a filosofia?

    A tarefa geral de estudar filo­sofia é absorver essas e muitas ou­tras lições e colocá-las para funcio­nar no mundo hoje. A questão não é apenas saber o que este ou aquele fi­lósofo diziam, mas tentar exercitar a sabedoria no nível individual e so­cial — a partir de agora.

    A sabedoria da filosofia é entregue — nos tempos modernos — na maior parte em for­ma de livros, mas, no passado, os fi­lósofos ficavam sentados em praças e discutiam suas ideias com os pe­destres ou entravam em gabinetes e palácios de governo para dar conse­lhos.

    Não era anormal ter um filóso­fo na folha de pagamento. A filosofia era considerada uma atividade nor­mal e básica — não um item opcio­nal incomum e esotérico.

    Atualmente, não é que negue­mos abertamente esse pensamento — sempre ouvimos frases de sabe­doria aqui e ali —, mas simplesmen­te não temos as instituições certas estabelecidas para promulgar a sa­bedoria de forma coerente no mun­do.

    No futuro, entretanto, quando o valor da filosofia estiver um pouco mais claro para todos, poderemos esperar encontrar mais filósofos na vida cotidiana.

    Eles não estarão trancados, vivendo principalmen­te em departamentos de universi­dades ou em escolas, porque os mo­mentos em que nossa falta de sabe­doria aparece — e bagunça nossa vida — são inúmeros e precisam de atenção imediata.

    Sobre a série Dilemas

    A Série Dilemas é uma parceria entre a revista Vida Simples e a The School of Life e traz artigos assinados por professores da chamada “Escola da Vida”. A série tem como objetivo nos ajudar a entender nossos medos mais frequentes, angústias cotidianas e dificuldades para lidar com os percalços da vida.

    A The School of Life explora questões fundamentais da vida em torno de temas como trabalho, amor, sociedade, família, cultura e autoconhecimento. Foi fundada em Londres, em 2008, e chegou por aqui em 2013. Atualmente, há aulas regulares em São Paulo. Para saber mais: theschooloflife.com/saopaulo


    John Armstrong é inglês, morou na Austrália e atualmente reside na Itália. É professor da The School of Life e autor de vários livros, entre eles, Como se Preocupar Menos com Dinheiro (Objetiva).


    Mais da Série Dilemas
    É possível se adaptar a qualquer mudança?
    Como é possível lidar com o fracasso?

    – Insegurança: Como ter mais confiança em si mesmo


    Conteúdo publicado originalmente na Edição 195 da Vida Simples

    Para acessar este conteúdo, crie uma conta gratuita na Comunidade Vida Simples.

    Você tem uma série de benefícios ao se cadastrar na Comunidade Vida Simples. Além de acessar conteúdos exclusivos na íntegra, também é possível salvar textos para ler mais tarde.

    Como criar uma conta?

    Clique no botão abaixo "Criar nova conta gratuita". Caso já tenha um cadastro, basta clicar em "Entrar na minha conta" para continuar lendo.

    0 comentários
    Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

    Deixe seu comentário

    Ao se cadastrar, você concorda com a Política de Privacidade e Dados da Vida Simples
    Sair da versão mobile