A medicina integrativa ganha força nos tratamentos médicos da atualidade. Se por muitos anos o modelo biomédico, preocupado com as mudanças químicas e biológicas do corpo, com foco no funcionamento da “máquina humana”, foi o único acesso de milhares de pessoas à assistência hospitalar, hoje o campo abre as portas para práticas diversas vindas especialmente da medicina oriental, conhecida por adotar procedimentos alternativos para a cura e tratamento de doenças.
Os pesquisadores Nelson Barros e Márcia Otani, que investigaram inúmeras produções científicas sobre a medicina integrativa, explicam que as definições e o entendimento sobre a prática variam. Alguns acreditam que a medicina integrativa seja o encontro entre a medicina convencional e as Medicinas Alternativas e Complementares (MAC), outros defendem que há uma maior independência entre ambas, embora não discordem do fato de haver um crescimento significativo na busca e formação de profissionais voltados à medicina integrativa.
Fabiana Antunes, naturopata especialista em medicina integrativa, explica que a medicina convencional foca em questões anatômicas e uma das principais características é a formação de especialistas, já que há médicos para cada região do corpo, com particularidades e estudos minuciosos, além de haver um foco maior na farmacologia como caminho principal no tratamento de doenças. “Neste modelo, nem sempre o corpo humano é visto como um todo, como um sistema integrado, e para algumas pessoas isso pode fazer toda a diferença porque o uso prolongado de medicamentos pode levar pessoas, que desejam tratar problemas simples, a desenvolverem problemas sérios de saúde”, justifica.
Quais os benefícios da medicina integrativa?
É importante dizer que, no meio desse emaranhado de especialidades e técnicas – tradicionais ou alternativas – há um ganho maior da medicina e dos pacientes que dela se beneficiam. Se antes a medicina convencional era a única saída, hoje há uma soma junto à medicina integrativa para que os caminhos se tornem cada vez mais diversificados e com maiores opções.
Márcia e Nelson mostram que a saúde sempre adotou diferentes modelos ao longo do seu desenvolvimento, influenciados pelo contexto, além das bases materiais e culturais de cada época. Em um contexto global de multicuturalismo, nada faz mais sentido do que uma medicina ainda mais diversa e aberta a conhecimentos produzidos em diferentes países e regiões do globo.
As pesquisas mostram que a medicina integrativa ganhou força ainda na década de 1960, influenciadas por muitos fatores como a insatisfação com os procedimentos da medicina convencional, especialmente no tratamento de doenças crônicas e crítica à relação assimétrica entre médico e paciente. No Brasil, o Sistema Único de Saúde implementou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) ainda em 2006, que reúne hoje cerca de 14 especialidades, como terapia de florais, arteterapia, quiropraxia, reiki, hipnoterapia, entre outros.
Entre os principais benefícios dessa prática estão a melhora no sintomas de doenças e uma maior interdisciplinaridade no tratamento de problemas, investigando questões como a relação entre corpo, mente e espírito, além de fatores ambientais, familiares e emocionais, que podem estar levando a uma piora do quadro. Apesar disso, a necessidade de tratamentos incisivos como cirurgias e uso de fármacos não podem ser descartados em situações que exijam um acompanhamento mais presente da medicina convencional.
Nos Estados Unidos, por exemplo, Fabiana Antunes explica que a medicina integrativa ganhou um espaço considerado no país e uma das especialidades mais populares é a Lifestyle Medicine, ou Medicina do Estilo de Vida. Segundo a naturopata, há um entendimento de que um corpo adoecido, decorrente de um estilo de vida que não prioriza o bem-estar e a qualidade de vida, pode facilitar a aquisição de uma série de problemas como câncer, diabetes, doença de Alzheimer e doença de Parkinson.
A especialista explica que o termo é conhecido como “corpo inflamado” e se torna um terreno fértil para o surgimento de enfermidades. “A American College of Lifestyle Medicine descreve esta medicina como uma especialidade que usa intervenções terapêuticas no estilo de vida como modalidade primária para tratar condições crônicas, incluindo, entre outras, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e obesidade, através da aplicação de mudanças de estilo de vida prescritas com base em evidências”, conta.
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No corpo, tudo está conectado
“O meu trabalho é principalmente ensinar o paciente a cuidar bem deste ambiente, pois se, todos os dias, ele colocar dentro de seu corpo remédios, conservantes, açúcares, agrotóxicos, álcool, e outras substâncias usadas em alimentos industrializados, ele estará criando um ambiente propício para o surgimento de doenças crônicas”, explica Fabiana Antunes.
É por isso que a Medicina Integrativa, como o próprio nome nos orienta, busca enxergar a saúde e nosso problemas como uma mistura de diversos fatores que compõem quem nós somos. “A abordagem integrativa estimula os profissionais a considerarem em cada paciente os fatores genéticos, ambientais, nutricionais, psicossociais, estressantes e culturais associados a crenças, valores e símbolos”, explicam Márcia e Nelson.
Até pouco tempo atrás ignorávamos fatores emocionais e psicológicos como um agravante de sintomas físicos, mas hoje entendemos que situações estressantes ou que geram ansiedade podem prejudicar ainda mais a sua vida se você tem insônia, por exemplo. “Sentimentos mal trabalhados causam o aumento de hormônios inflamatórios, aumentam o nível do cortisol. O cortisol interfere no mesmo receptor da insulina, podendo levar a pessoa a uma resistência insulínica”, exemplifica Fabia Antunes.
Entre os benefícios da medicina integrativa na saúde emocional das pessoas, são comuns primeiro o estímulo à compreensão do porquê estamos sentindo aquilo, além de classificar as causas do estresse, da tristeza e da ansiedade nas nossas vidas.
“Nós ensinamos os pacientes a expressar suas emoções de forma adequada, ter uma vida mais equilibrada, desenvolver resiliência, acalmar a mente e o corpo e o mais importante, que é cuidar da sua própria saúde“, finaliza a naturopata.
A importância da relação entre médico e paciente
Se nos primórdios da medicina convencional os médicos eram hierarquicamente vistos como superiores aos pacientes, com um olhar e posição de autoridade, hoje há um movimento contrário que mostra haver uma relação mais humana e próxima entre ambos. Esse movimento já nasceu junto com a medicina integrativa, mas também cresceu nos consultórios e profissionais mais ligados a especialidades biomédicas.
Para Fabiana Antunes, há uma linha tênue entre como muitos de nós visualizamos os profissionais de saúde e o que de fato são. Se por um lado creditamos a total responsabilidade da nossa saúde aos médicos, a naturopata mostra que o papel desses especialistas é justamente ter o conhecimento e a formação específicos para o tratamento de doenças, além de uma orientação mais apurada sobre o estilo de vida que devemos seguir, embora isso seja responsabilidade nossa.
“Eu acredito na ideia de que cada pessoa deva se sentir a única responsável pela própria saúde. O que fazemos é levar conhecimento de qualidade para que as pessoas tenham consciência de como devem se alimentar, como devem dormir, se exercitar, porque é só assim que as pessoas podem promover a própria saúde“, defende.
Por isso, a medicina integrativa tem como uma das suas características um foco maior no paciente, estimulando práticas saudáveis e promovendo uma melhor relação entre as pessoas e o estilo de vida que adotaram ao longo da vida. É nesse sentido que ela abre espaço para uma relação mais harmoniosa entre natureza, corpo, mente e espírito no tratamento de sintomas ou doenças.
“O corpo humano é um ecossistema. Quando tudo está funcionando em harmonia, a boa saúde floresce. Quando uma parte fica doente, pode haver um efeito cascata que leva a outros problemas de saúde agudos ou crônicos“, resume Fabiana Antunes.
Para ela, cuidar da saúde no presente é tornar o futuro um espaço mais saudável, é cuidar da nossa casa interior e garantir que os próximos anos sejam de harmonia e conexão. “Grande parte da nossa saúde é determinada pela dieta, ambiente e estresse. Na verdade, muitas doenças perigosas são evitáveis ou tratáveis por meio de escolhas que fazemos todos os dias em relação ao nosso estilo de vida“, conclui a naturopata.
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