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Sujar-se faz bem
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Mais do que só se divertir, nesses momentos as crianças também desenvolvem uma visão delas mesmas e do entorno

Sei que é slogan de sabão em pó, mas sujar-se faz bem. É também uma recomendação da Organização Mundial de Saúde e, ainda assim, dá para perceber como os ambientes para crianças têm se tornado cada vez mais “clean”. É como se até a brincadeira tivesse que ser limpinha. Outro dia, eu estava com a família numa padaria que tinha um parquinho, e os meus filhos já estavam subindo no escorrega, quando chegou uma amiguinha da mesma idade, pronta para brincar. Os pais sentaram na mesa ao lado da nossa e o pai foi o primeiro a gritar: “não se suja”. A mãe ficava ajeitando o laço da menina e ela foi se envergonhando da sua falta de liberdade até um ponto em que preferiu sentar e só observar. Desistiu de ser criança.

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Expandir para ver além

Esse espaço sensorial que a criança vivencia por meio das brincadeiras e também da bagunça, ou do que a gente chama de sujeira, cria percepções sobre seu corpo que são fundamentais para o desenvolvimento emocional e também psicomotor. Sujar-se é também um convite para reconhecer limites, texturas, sabores, para desfrutar de uma liberdade que vai sendo estreitada à medida que crescemos. Tá, eu sei que a vida é corrida, que se a criança se suja é você quem limpa… Mas calma. Arrumar a bagunça, lavar roupa suja de tinta dá muito trabalho, sim, mas está dentro do pacote filhos – e tentar represar isso é tirar das crianças uma parte importante do tempo da infância.

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No mundo das nossas expectativas, as crianças seriam caladas e obedientes. Só que elas não são uma extensão nossa. Perceber isso é urgente, porque precisamos libertar nossas crianças e deixar que elas existam para além da nossa visão de mundo. Um convite diário que nossos filhos nos fazem é: expandir para ver além.

Lua Barros é educadora parental e mãe de quatro filhos, mas também consegue ser outras coisas quando sobra tempo. @luabarrosf

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