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Quer saber? Vá arrumar suas gavetas
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Na desorganização palpável conseguimos atuar porque está absolutamente sob nosso controle. Na medida em que as roupas vão sendo dobradas, o tumulto interno já não encontra eco do lado de fora

A princípio parecia uma distração tonta, um jeito de deixar a cabeça em tranquilidade quando os pensamentos faziam redemoinhos, trazendo algum sofrimento e nenhuma solução. Percebia que, na mesma medida em que a bagunça interna estava instalada, meu armário de adolescente refletia esse caos. E foi então que passei – intuitivamente ou não – a organizar objetos toda vez que meu coração entra em desordem.

Quando minha falta de cuidado em devolver as coisas para seus lugares fica evidente, o alerta vermelho é acionado: tem algo me incomodando muito, algo que precisa de atenção. É como se sapatos fora da sapateira, maquiagens jogadas pelo quarto e cabides em cima do sofá refletissem meu conflito interior. 

Propositalmente, vou sonegando a ordem até o momento de encarar a baderna de frente, tomando coragem (e fôlego) para fazer o trem descarrilado retomar a viagem. É a hora de sacudir a poeira e achar um fio da meada naquele cenário pós-bombardeio instalado no meu habitat.

Ecos dentro e fora

Não é difícil explicar essa lógica: na desorganização palpável conseguimos atuar porque está absolutamente sob nosso controle.

E, na medida em que as roupas vão sendo dobradas e separadas por cor novamente, que os tênis reencontram seus pares, cintos e acessórios são pendurados e papéis e pastas de computador ganham um review, começamos a respirar melhor e a admitir que nem tudo é tão escuro. O tumulto interno já não encontra eco do lado de fora. Constrangido, fica mais dócil.

Pensamentos sabotadores voltam redimidos para dentro de alguma gaveta que será trancada a sete chaves, junto com o desânimo e a falta de vontade. E, no fundo de uma dessas gavetas, seremos surpreendidos por alguma solução empoeirada, que parecia estar meio fora de moda, mas que ainda pode vestir como uma luva.

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