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Por que muitas pessoas gostam de acompanhar o BBB?
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O Big Brother Brasil (BBB) tornou-se um verdadeiro fenômeno televisivo desde sua primeira edição em 2002. Transmitido anualmente pela TV Globo, o reality show conquistou uma audiência significativa e se estabeleceu como um dos programas mais comentados e acompanhados pelos brasileiros. Afinal, o que explica esse sucesso?

A atração pelo BBB vai além do mero entretenimento, suscitando reflexões sobre os hábitos de consumo de mídia e a relação do público com a exposição da vida privada. Entre os principais elementos que contribuem para sua popularidade estão a intensa exposição dos participantes, as controvérsias que envolvem seus comportamentos e a ampla repercussão nas redes sociais.

Em 2020, a Globo atingiu o marco de programa de TV aberta com maior número de menções nas redes. Foram mais de 11 milhões de tweets sobre um paredão, que também rendeu o reconhecimento do Guinness World Records ao bater o recorde de maior quantidade de votos do público recebidos por um programa de televisão no mundo. A grande audiência é disputada por patrocinadores também: com recorde de faturamento, a edição de 2024 superou a casa do 1 bilhão de reais em publicidade.

Quem participa não consegue imaginar impacto na vida das pessoas

Para quem já esteve dentro do Big Brother Brasil, a experiência de participar de um reality show tem muitas camadas de complexidade. Eslovênia Marques, participante do BBB de 2022, relata que acompanhava o programa desde pequena. “Eu sempre fui muito fã do programa. Sempre assistia, mas eu nunca me enxergava lá dentro porque parecia uma coisa impossível”, lembra.

Quando entrou na casa, percebeu que estar no jogo era mais desafiador, e também envolvente, do que ser telespectadora. “É um jogo de seres humanos. Você acaba aprendendo com os outros, ficando sensível, querendo chorar muito”, comenta a influencer.

“A gente não sabe o que espera do lado de fora. Entramos na casa e só quando a gente sai que vamos entender o que o público está achando de cada pessoa”, explica a ex-BBB.

Eslovênia relembra dos primeiros momentos após sair do programa, quando começou a perceber a quantidade de fãs que tinha ganhado: “eu estava com a minha amiga no hotel e perguntei ‘tem alguém que gosta de mim, pelo amor de Deus? Pelo menos uma pessoa’. A resposta da amiga surpreendeu e acalmou a jovem: “mulher, tem muita gente!”

Sarah Aline, psicóloga especialista em diversidade, também participou do programa, na edição de 2023. A jovem conta que ainda na faculdade entrou no mercado de trabalho, e decidiu se inscrever no programa para aproveitar a sua juventude vivendo um sonho que muitas pessoas também desejam: vivenciar o Big Brother Brasil.

O grande público, ao mesmo tempo que move o programa, também pode paralisar os seus participantes. A ex-BBB comenta que desde que entrou no programa sabia do peso que suas falas e ações teriam para fora da casa: “Eu sei que eu sou uma mulher preta e que só da minha chamada de falar ‘oi, meu nome é Sarah’ já teriam mais de 30 a 40 mil pessoas me odiando sem nem me ouvir”.

“Só fui até onde eu poderia ir, e eu acho que a vida é sobre isso, mas se eu pudesse jogar com mais qualidade, se eu pudesse me expressar sem medo de ser cancelada, será que eu aproveitaria mais o Big Brother?”, reflete a participante. Ao sair do programa, Sarah também encontrou uma grande quantidade de pessoas que se identificaram e começaram a acompanhá-la, mesmo depois do BBB.

“O Big Brother me trouxe vários ganhos e possibilidades, mas sem dúvidas o que eu mais amo e o que eu mais sou grata é pela comunidade”.

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A curiosidade é natural do ser humano

“Eu acho que essa movimentação de poder comentar da vida dos outros, 24 horas por dia, chama muito [a nossa atenção]”, confessa Ana Beatriz Paulino, estudante de Publicidade e Propaganda e designer gráfica. ”Dá vontade de você ir para esse lado e fofocar mesmo, de analisar a vida dos outros. Porque você está cuidando da vida de outras pessoas.”

Essa atração pela vida do outro, apesar de natural, é uma forma de mudar a atenção e de se desligar da realidade. “O interesse pela vida dos outros, o prazer de olhar o outro sem ser olhado, é parte da cultura humana”, explica Nísia Martins do Rosário, bolsista CNPq e coordenadora do Grupo de Pesquisa de Comunicação e Cultura da Compós (Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação). Essa curiosidade aumenta quando se trata de aspectos privados e íntimos da vida das pessoas, no que se pode chamar de voyeurismo.

Essa atração pelo íntimo da vida de outras pessoas é estimulada e apresentada na forma de um espetáculo. “Assistir e ter prazer com isso à vida cotidiana dos outros como se fosse real, cria um potente espetáculo de voyeurismo, que rompe simuladamente com a noção de íntimo e privado”, explica a professora.

Ela aponta que isso é uma das justificativas para o sucesso do programa. Nesse modelo de reality show, as pessoas conseguem sanar um pouco desse desejo de observar a vida das outras pessoas, sem serem reprimidas por sua curiosidade. Além disso, as pessoas podem participar nas dinâmicas. “Esse formato diferenciado e original agradou o público que, além de espiar, podia ainda interferir na vida das pessoas observadas por meio do seu voto”, conclui.

Interação com o programa e identificação com os participantes do BBB

Ana Beatriz começou a acompanhar mais assiduamente o programa em 2020 por causa da movimentação que ele provoca e do seu conteúdo. “Todo mundo fala, então gera uma curiosidade de estar por dentro das coisas e é uma escapatória ver 26 pessoas cuidarem das vidas delas”, comenta. Além disso, a jovem aponta outros elementos que a estimulam a continuar acompanhando o BBB: a participação e a identificação.

Podendo interferir, o público se sente parte do jogo.“Tem muito de poder jogar também”, explica a jovem. “A gente pode falar mal, falar bem e isso faz parte do jogo”, resume.

Mas essa participação não ocorre de forma aleatória. As pessoas acabam se identificando com os participantes. “Quando você gosta de uma pessoa que tá lá dentro, você quer ver os movimentos dela”, exemplifica Ana Beatriz. A vontade de continuar acompanhando o programa passa por essa identificação e pela expectativa para saber o que a pessoa vai fazer e como vai jogar.

E para estar próximo e por dentro das ações de seu participante preferido, o público recorre a recursos que vão além das edições diárias e do ao vivo. As redes sociais são a principal ferramenta para isso, se tornando também palco para discussões e para os desdobramentos dos acontecimentos.

O BBB extrapola seu formato original de produto para a televisão, expandindo o seu alcance para outras mídias também, especialmente as redes sociais. Assistir cenas fora do horário de exibição e até participar de grupos que fazem acompanhamento minuto a minuto da casa são ações comuns.

E vai além disso: os desdobramentos e as reações do público têm um peso significativo. Dentro do contexto e da lógica das mídias, as pessoas comentam, interagem e até criam conteúdos baseados no que ocorreu. “Os conteúdos que mais se propagam nesse formato são os de humor e ironia, aqueles que geram distúrbios e opiniões contrárias”, explica a pesquisadora. “O cancelamento da Karol Conká foi consequência do programa, de notícias e de memes, causando muito impacto”, exemplifica. Na edição de 2021, a cantora Karol Conká sofreu com linchamento virtual devido a alguns comportamentos dentro da casa.

A interação nos outros formatos de mídia mantém as pessoas falando e se ocupando do BBB. Para a professora, isso é benéfico para o programa, sendo uma forma de atrair mais audiência e, como consequência, mais anúncios e receita.

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