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Influência com propósito: Domitila Barros fala sobre ARTivismo na prática
ARIEL GREITH @ARIELOSCARGREITH
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Enquanto me aproximo da porta do apartamento, ouço do lado de dentro risadas, uma conversa empolgada, quase uma festa. “Será que me enganei com o horário?”. Não tive tempo de conferir na agenda, ouço a porta abrindo e, com um baita sorriso, minha entrevistada dispara com seu sotaque delicioso: “Oiiiii, Gisaaaaa!”. Assim mesmo, com todos os “is” e “as” que escrevi. E o que achei ser uma suposta festa no apartamento era apenas Domitila conversando com amigas em uma videochamada pelo celular. Sim, ela é a festa!

Conheci a recifense no começo de 2021, em plena pandemia de Covid-19. Ela ainda morava na Alemanha, não tinha vencido o concurso de miss daquele país nem se tornado ex-BBB, tampouco uma influenciadora global em sustentabilidade premiada em Cannes, pelo World Influencers Forum, neste ano.

Na época, a entrevista online de 30 minutos para Vida Simples, sobre ela ser a embaixadora global de uma marca de cosméticos sustentáveis, virou uma conversa de mais de duas horas sobre a infância na Comunidade de Linha do Tiro, no Recife, a vida fora do Brasil, tatuagens, esportes radicais e meditação.

Lembro-me de pensar: “Essa garota faz a gente se sentir capaz de realizar qualquer coisa”. E agora, dois anos e todos esses acontecimentos depois, reconheço nela a mesmíssima pessoa: forte, decidida, sensível, generosa e intensa.

Depois de um minutinho e mais algumas gargalhadas, ela se despede das amigas, desliga o telefone, olha para mim e diz: “vamos?”. Sim, vamos. Nesse pique, a criadora da marca de biojoias She Is From The Jungle compartilhou com Vida Simples os planos que vislumbra para sua nova fase em solo nacional.

AOS 39 ANOS, SUA TRAJETÓRIA ESTÁ SENDO RECONHECIDA PELOS BRASILEIROS. COMO É OLHAR PARA TRÁS E REPASSAR TUDO O QUE VIVEU ATÉ AQUI?

Às vezes tenho que me beliscar para acreditar que todas essas coisas aconteceram na minha vida. Mas tudo isso é fruto de muito trabalho e dedicação. Gosto de acreditar que sou um exemplo para outras pessoas que, assim como eu, cresceram em uma realidade difícil. Me deixa feliz usar minha experiência para mudar outras realidades.

MESMO MORANDO NA ALEMANHA, SEU TRABALHO SOCIAL NO BRASIL SEMPRE FOI ATIVO. DE VOLTA AO PAÍS, SERÁ AINDA MAIS?

Sim, essa é a ideia. Abri a She is from the jungle, marca de biojoias de capim dourado aqui no Brasil, e consegui unir minhas paixões: moda consciente, empreendedorismo sustentável e social. Ela nasceu da vontade de ajudar mães solteiras a terem uma vida independente e sustentável. Começamos na Europa, comercializando biquínis de crochê que eram feitos por minhas amigas no Recife. Durante a pandemia, soube de um grupo de artesãs do Tocantins que vendia peças de capim dourado para a Itália, mas tiveram o contrato cancelado. Comprei toda a produção delas.

QUAIS SÃO OS PLANOS PARA A MARCA?

Acho importante valorizar a cultura brasileira, e produzir essas peças é uma forma de fazer isso. Nossos planos continuam sendo ajudar mais e mais pessoas a se tornarem independentes e também queremos espalhar beleza e sustentabilidade por aí. A She é a prova de que é possível unir as duas coisas.

Foto de Domitila Barros Foto de Ariel Greith / @arieloscargreith

POR QUE ESCOLHEU CRIAR BIOJOIAS DE CAPIM DOURADO?

Uma aliança de ouro gera 20 toneladas de lixo tóxico. Polui os lençóis freáticos, destrói a vida marinha, um horror. Esse ciclo destrutivo é tudo que sempre combati. O capim dourado, por sua vez, é uma planta rara, do norte do Brasil, que brilha como ouro, com a vantagem de ser um recurso renovável: não polui, é resistente e leve.

E UMA PLANTA POUCO CONHECIDA PELOS BRASILEIROS. PODE FALAR MAIS SOBRE ELA?

Ela é uma planta protegida por lei, que só pode ser colhida uma vez por ano, em uma determinada época, e não pode ser vendida in natura para fora do Tocantins. Por isso, profissionalizamos as artesãs lá mesmo. Elas produzem as peças e mandam para nossa base em São Paulo. E daqui enviamos para o mundo todo.

FOI DIFÍCIL ABRIR UMA MARCA 100% SUSTENTÁVEL NO BRASIL?

Um pouco. E continua sendo porque é todo um processo. Tem que saber de onde vem o capim, remunerar corretamente quem produz, rastrear o trajeto todo, entender cada passo que cada peça dá, desde a colheita até chegar à casa dos clientes. Mas nunca cogitamos outra alternativa a não ser sustentável.

VOCÊ FALA NO PLURAL. “NÓS FIZEMOS”, “NÓS CONSEGUIMOS”…

Tenho muita clareza de que não faço nada sozinha. Eu me sinto muito grata por toda a equipe que trabalha comigo fazendo com que esse sonho se torne real. Na verdade, sempre foi assim. Vem desde que nasci, pois meus pais já tinham a ONG Centro de Atendimento a Meninos e Meninas (CAMM) na Comunidade de Linha do Tiro, no Recife, e já ensinavam 50 crianças a ler e escrever. Então, sempre fomos nós.

ESSE PASSADO FEZ DE VOCÊ A MULHER QUE É HOJE, CONCORDA?

Foi o CAMM que me possibilitou tudo. Foi por causa das aulas que eu dava aos 13 anos, para as crianças de lá, que a Unesco me elegeu uma Sonhadora do Milênio e me chamou para discursar na Disney, e de novo recentemente. Nesses anos todos, seguimos investindo e acreditando que a educação das nossas crianças é que vai mudar a realidade. Inclusive, a cada peça de capim dourado vendida na nossa loja, um kit escolar é doado à ONG. Além disso, queremos, até o final de 2023, construir um superlaboratório de informática para a criançada.

VOCÊ USA A VISIBILIDADE QUE GANHOU COMO MISS E COMO PARTICIPANTE DO BBB PARA PAUTAR SUAS CAUSAS. POR QUÊ?

Eu penso que, se existe a possibilidade de impactar um número grande de pessoas que, de outra forma, não estariam interessadas em temas como justiça social e sustentabilidade, eu vou usar isso. Vou fazer isso, porque isso é ARTivismo na prática: educar pela arte.

Para conhecer Domitila mais de pertinho:

@domitila_barros

She Is From The Jungle

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Esse conteúdo foi publicado originalmente na Edição 258 da Vida Simples

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