Eu não nasci mãe
Podemos desaprender a ser aquilo que imaginávamos como perfeito para encontrar a maternidade possível
Podemos desaprender a ser aquilo que imaginávamos como perfeito para encontrar a maternidade possível
Eu não nasci mãe. E, apesar de saber disso, em algum momento da minha maternidade esqueci e acreditei que tinha todas as respostas. Acreditei que poderia ser suficiente para meus filhos e que só por meio do meu amor, do meu servir e da minha dedicação, eles seriam pessoas melhores.
Acreditei que, com minhas memórias de infância e de filha, eu seria capaz de educar os meus. Que, munida do meu sentir, conseguiria ser a mãe que habitava a minha imaginação e a minha expectativa.
Eu não nasci mãe. E, apesar de saber disso, em algum momento me fizeram acreditar que a mãe boa de verdade é aquela que não titubeia, que sabe o que precisa ser feito. Que dá até o que não tem. Que aos poucos vai se perdendo dela mesma para ser farol para sua criança. Quis obediência, ordem. Respeito. Impor respeito… Onde já se viu uma coisa dessas? Nada faz menos sentido do que isso. Porque respeito é uma palavra que nos atravessa por dentro, tão nobre que jamais poderia ser imposto.
Versão melhor
Eu não nasci mãe. E tive que entender isso, ainda que de forma dolorosa. Havia rascunhado um roteiro para a minha maternidade, mas não contei com a criança que nasceria. E assim, enquanto pude, silenciei meus filhos, até eles encontrarem a própria voz. E do grito deles se fez o diálogo, aquela conversa sem ensaios, que precisa do outro, do silêncio, da discordância e do acolhimento para acontecer. Meus filhos reviraram minhas certezas e me ensinaram que mãe não é aquela que fala, fala, fala… mas a que abre espaços para a escuta.
Eu não nasci mãe. E foi intenso aceitar que teria muito a desaprender. Precisei entender que meus filhos não eram uma versão minha ou uma extensão da minha existência. E que minhas lembranças, boas ou ruins, precisavam ser cuidadas para que ficassem no lugar certo, e não entre nós.
Eu não nasci mãe, mas venho me tornando uma versão melhor de mim, e esse caminhar agora fica registrado para a posteridade. “Eu não nasci mãe” é o título do meu livro. A materialização da minha jornada, com os tropeços e conquistas. É um registro para todos que se interessam pelo cuidar, pelo crescer. Estou orgulhosa e, claro, com medo, porque mandar um filho para o mundo é um exercício de desapego.
Desejo que minhas palavras te encontrem e que você se sinta amparada nesse processo bonito que é o desaprender a ser mãe, para ser a mãe que você consegue ser.
LUA BARROS é educadora parental, mãe de quatro filhos e autora do livro Eu Não Nasci Mãe.
*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login