Alimento é energia, beleza, nutrientes, mas também é comunhão. Fazemos várias refeições ao longo da semana e precisamos de comida diariamente para fazer com que o nosso corpo possa funcionar corretamente e para colocá-lo em movimento.
Mas, o ato de comer também é de partilha. O sentar-se à mesa – ou no chão, no caso de algumas culturas – é uma atividade que reúne famílias, amigos e até comunidades. Compartilhar esse momento com pessoas que amamos e dar atenção aos objetos e utensílios que nos remetem ao afeto e cuidado são ações tão importante quanto colocar o alimento na boca.
É comum em famílias do sertão nordestino a alimentação coletiva – ninguém come antes, nem depois, mas todos juntos – numa tentativa de reunir todas as pessoas no mesmo ambiente para dividir o alimento conseguido por meio do trabalho ou do cultivo.
Da mesma forma, diversas culturas orientais organizam suas “mesas” no chão, onde as pessoas se juntam para se alimentar. No exemplo da cozinha etíope, as pessoas frequentemente usam as mãos para pegar os alimentos, enquanto em outros lugares do mundo é mais comum a presença de talheres ou, como no Japão, do hashi (os famosos palitinhos).
Pensando nessa diversidade de costumes à mesa, a Vida Simples reuniu diferentes culturas em cada continente do mundo para mostrar que a beleza está em todo o lugar. Ela pode até ser diferente de um país para o outro, mas nunca deixa de existir afeto, cultura, utensílios e memória coletiva contida ali.
1. América – Suriname
O Suriname é, talvez, um dos países que menos recebe atenção quando se debate América do Sul, por ter sido um país com uma colonização diferente e características culturais que divergem das demais nações. Com uma mistura das culturas indígenas locais, indiana, javanesa e holandesa, o Suriname é um país multicultural e com uma diversidade de alimentos muito grande.
A culinária do país é um verdadeiro caldeirão cultural e utiliza temperos e condimentos dos mais diferentes países que influenciaram a sua formação. Uma das características marcantes é o uso da pimenta, presente em quase todos os pratos.
Por ter uma influência indígena, boa parte dos alimentos podem ser servidos em folhas de bananeira, uma prática comum entre os povos nativos do Norte do Brasil, embora essa característica não seja comum no Sul e Sudeste, especialmente. Ao invés de pratos ou cumbucas, as folhas de bananeira são utilizadas para armazenar a comida.
2. Europa – Kosovo
A culinária do Kosovo recebe grande influência da Sérvia, Albânia, mas também de países como Grécia, Itália e Croácia. Localizado no sul da Europa, na fronteira com a Sérvia, o país utiliza principalmente batata, feijão, laticínios, arroz e massas, além de carnes de cordeiro e aves, ou as especiarias como o queijo com leite de ovelha e bebidas como o Boza, formado por cereais, açúcar e água, uma herança do Império Otomano.
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3. África – Etiópia
Pode parecer estranho se você mora em uma cidade no Brasil ou já visitou países com uma cultura semelhante à nossa, mas deve saber que há pessoas em outros lugares do mundo que não utilizam os talheres e sim as mãos para pegar os alimentos. Além de uma tradição cultural, a prática faz parte da alimentação daqueles povos e carregam uma história, memória e afetividade.
Genet Afonafer, uma chef de cozinha e proprietária do restaurante Meals by Genet, um restaurante etíope localizado na cidade de Los Angeles, afirma que “para a comida etíope comer com as mãos é uma obrigação, sem dúvidas. Quando crescemos todos nós comemos juntos, como uma família. Você pode pegar um pedaço de pão e enrolá-lo bem para que o molho não derrame, e assim oferecer a pessoa ao seu lado. Isso é chamado gursha, um ato de intimidade que aproveita o poder do toque e da comida”, conta ao site Kangaroo Tours.
O Injera, pão etíope, é um dos alimentos mais comuns do país, que basicamente é feito com farinha de Teff, óleo de coco, sal, água e fermento em pó. Há diversos molhos e preparos que formam o recheio do injera, comido a mão pelos etíopes.
4. Oceania – Tuvalu
Tuvalu é um Estado localizado na Polinésia com nove ilhas e atóis, além de uma população de apenas 11 mil pessoas. Vale lembrar que o país é um dos mais ameaçados pelas mudanças climáticas devido à elevação do nível do oceano, que ameaça a própria existência de Tuvalu.
A culinária é centrada no consumo de peixe, coco e inhame, embora haja um esforço coletivo para preservar a cultura e as tradições locais de produção dos alimentos.
Abaixo, selecionamos uma foto de mulheres tuvaluanas produzindo Fakaiaiamanu Falekaupule, um prato nativo da região e que, segundo elas, precisa ser ensinado para as futuras gerações do país.
“Nestes dias, as pessoas dependem mais de alimentos importados que são caros. Por isso é importante que os jovens aprendam como fazer a comida local. Encorajá-los a não gastarem dinheiro, e sim usar produtos locais especialmente pelo impacto na saúde causado pelos alimentos importados”, frisa Fonolahi Kiula, uma nativa entrevistada pelo UNDP – Pacific Resilience & Sustainable Development.
5. Ásia – Paquistão
A cozinha paquistanesa recebe muita influência do Índia e é bastante rica, com uma grande variedade de receitas e temperos. Em regiões do leste, como Punjab e Sindh, é mais comum encontrar pratos marinados e especiarias picantes, embora o arroz também seja muito utilizado.
Diferente do Brasil, é comum que as pessoas se sentem no chão para comer e utilizem as próprias mãos para pegar os alimentos, uma herança cultural que mantém as tradições do Paquistão. Leonardo Sakamoto, no UOL, explica que “nos locais mais tradicionais, come-se com a mão mesmo, sem pudores, usando o pão como garfo, faca e colher. E come-se no chão, com um pano estendido, ou em mesas. Em alguns lugares, senta-se em estruturas parecidas com camas, e come-se sentado ou semi-deitado nelas.”
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