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    Como se comunicar bem? Livro mostra caminhos para o diálogo
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    Como lidar com o medo de falar em público? Como falar com clareza e ser bem compreendido? Como se comunicar melhor para evitar conflitos em relacionamentos? Como deixar de lado a insegurança e aprender a ser mais assertivo em uma reunião, sem agressividade e sem submissão? Como escrever bem?

    Essas são algumas das perguntas que o livro “Falei sem pensar: Como se comunicar bem, com clareza e sem conflitos”, de Ana Alvarez, propõe-se a responder. A autora destaca como a qualidade da comunicação é essencial para a compreensão e a harmonia entre todos.

    Um dos grandes diferenciais do livro é explicar como a nossa comunicação é influenciada pelas emoções. Através de ferramentas práticas de autoconhecimento oferecidas pela autora, podemos nos expressar com mais clareza, escutando efetivamente o outro de maneira ativa para lidar mesmo com as conversas mais difíceis.

    Ana Alvarez é fonoaudióloga e doutora em Ciências, além de ser especialista em Linguagem. Decidiu trilhar essa formação por conta de sua história de vida. Desde a infância, tem com a comunicação uma relação bem próxima: quando criança, tinha dificuldades para falar e se expressar, o que lhe causava muito sofrimento. Ao crescer e ao ganhar mais experiência na área, aprendeu que uma boa comunicação, na verdade, envolve muito mais do que apenas a fala: passa por dicção, vocabulário, ritmo, pausas, postura do corpo, olhares, gestos.

    Em seu livro, Ana traz um manual ao mesmo tempo objetivo e aprofundado para o leitor, que poderá ser capaz de dar os primeiros passos em direção a diálogos mais frutíferos com todos ao seu redor (incluindo o seu próprio diálogo interno).

    A seguir, a autora conversa com Vida Simples e explica mais detalhes sobre o livro e também dá dicas de como se comunicar melhor.

     

    Vida Simples: Durante a leitura, percebi a preocupação que você teve no livro de mostrar que a comunicação é um processo complexo, que envolve bem mais do que a fala ou a escrita. Você fala bastante sobre emoções também. Na sua visão qual é o papel do autoconhecimento para a comunicação?

    Ana Alvarez: Seres humanos nascem para conviver e se comunicar. E o maior elo social entre as pessoas é construído com a comunicação interpessoal. Ao mesmo tempo, vamos pensar em outro tipo de comunicação, a comunicação intrapessoal, ou diálogo interno, que é aquela conversinha básica que temos o tempo todo de nós para nós mesmos e que depende da nossa consciência e dá forma ao autoconhecimento. Tudo tem início nesse diálogo, onde você diz para si mesmo o que pensa sobre você e seus relacionamentos e como você sente e percebe seu desempenho no mundo. É necessário saber como conversar com você mesmo, porque é com essa voz que habita a sua cabeça que você vai ser capaz de se persuadir, ou não, a seguir determinados planos para a vida. Nosso diálogo interno alimenta a noção de quem somos em relação a nós mesmos e ao outro; e de como nos comunicamos, construindo e reformulando continuamente o nosso autoconhecimento. Logo, o autoconhecimento e a comunicação intrapessoal mantêm laços recíprocos, dando forma a quem somos e a como nos expressamos na vida.

     

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    Vida Simples: Você conta que pensar sobre comunicação sempre fez parte da sua vida, mesmo antes da sua formação como fonoaudióloga e que você sofria com um distúrbio de fala, que popularmente conhecemos como gagueira. Você pode falar um pouco sobre como superou essa dificuldade?

    Ana Alvarez: Agradeço muito a essa pergunta, pois eu desejava uma oportunidade para falar sobre isso. Querer falar e não conseguir, por qualquer que seja o motivo, traz angústia e frustração.  No caso da gagueira, essas emoções vêm com a própria condição que limita seu contato com o mundo, e pela reação das pessoas, que muitas vezes ou zombam de como você fala, ou não têm paciência para ouvir até o final, e completam a sua fala com aquilo que você não quer dizer. E o triste, é que muitos indivíduos que gaguejam deixam barato e aceitam as complementações do interlocutor, por pura impossibilidade de expressão. Os genes da gagueira andavam pela minha família e durante grande parte da minha infância apresentei um quadro moderado, que se caracterizava pela repetição das sílabas iniciais das palavras e pelo prolongamento da vogal “o”. Então, você pode imaginar que passei por algumas experiências desafiantes com crianças e adultos. E me perguntava ‘como’ fazer para falar bem – o ‘como fazer’ é muito importante para mim e buscar o ‘como fazer’ posso dizer que é uma das minhas mais fortes características. Assim a vida seguia, até que por volta dos nove anos tive caxumba, o que me deixava com dificuldade para engolir e, surpreendentemente, maior facilidade para falar: parece-me, hoje, que a pressão das glândulas inchadas me forçava a falar de uma maneira nova, com a voz mais grossa, e sobre a qual eu percebi que podia ter maior controle. Comecei a falar e a ler em voz alta mais devagar, prestando atenção em cada movimento, e quando eu me curei da caxumba, passei a pressionar o pescoço com as mãos, buscando ter o mesmo efeito. Primeiro eu fazia dos dois lados, depois só com o lado esquerdo, e, gradativamente, fui soltando as mãos. Por volta dos 12 anos, na entrada da adolescência, minha fala evoluiu bastante ao mesmo tempo em que me tornei bastante segura dos resultados da minha autoliderança. O lado positivo de tudo isso foi que aprendi que a disciplina e a dedicação trazem resultados duradouros e as apliquei em vários outros pontos de aprimoramento porque percebi que era capaz.

     

     

    Vida Simples: No seu livro, você aponta que a criança começa a desenvolver aspectos da comunicação ainda na barriga da mãe. Qual a importância de cuidarmos da qualidade da comunicação que temos com as crianças?

    Ana Alvarez:  Sim, durante a gestação o cérebro se prepara especializando as zonas instrumentais de linguagem para a comunicação. O embrião, ao sentir os movimentos da mãe e ouvir as batidas do seu coração, já nasce com a expectativa da mãe que vai ter, e, com o nascimento, o uso dessas funções amadurece por meio do uso e do contato com o meio ambiente. A criança percebe, então, que é possível criar um relacionamento com movimentos, gestos e palavras. Se essa criança vive num ambiente em que se encoraja a importância do olhar, do diálogo, do uso de gestos e de expressão corporal, crescerá com a firme convicção desses valores, pois o amadurecimento cerebral pode instalar o processo, ao mesmo tempo que é a família e o meio ambiente que vão estabelecer o “como” esse processo vai acontecer e quais serão suas consequências.

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    Vida Simples: Você explica na sua obra que “quanto maior o número de pessoas que recebe uma mensagem verbal, maiores as chances de surgirem distorções”. Por que não conseguimos nos expressar claramente e por que as pessoas interpretam uma mesma mensagem de diferentes maneiras?

    Ana Alvarez: Vamos entender primeiro que para que se compreenda uma mensagem é importante olhar com atenção para o interlocutor, ouvir o que foi dito e imaginar o que deixou de ser dito, pois a comunicação é feita a partir dos aspectos verbais, as palavras, e dos aspectos não verbais, os gestos, o olhar, a postura, isto é, tudo o que não foi dito, mas percebido. Agora, vamos pensar em como o tipo de escuta e a atenção ao interlocutor são varáveis, e chegaremos à conclusão de que entendemos o que acreditamos que o outro disse, e nos lembramos de “como” o outro disse. Então, ao recontar uma informação usamos a nossa própria percepção como filtro, dando maior importância ao que parece ser prioritário para nós. Cada um de nós, seres humanos, ao recontar um fato, assume uma espécie de projeto autoral, suprindo detalhes com a própria opinião.

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    Vida Simples: Você comenta a influência do perfeccionismo na forma como dialogamos. Como o perfeccionismo pode atrapalhar nossas comunicações e, consequentemente, nossas relações pessoais? O que fazer nesse caso?

    Ana Alvarez: O perfeccionismo muitas vezes nos impede de perceber bons resultados na vida pessoal e profissional, pois dificilmente nos faz contentes com o bom, e nos mantém na busca de excelência idealizada, que é uma forma de adiamento, esquiva ou falta de entrega.  Conviver com o perfeccionismo é desafiante, pois há grande influência na noção de autoestima, isto é, fiz isso mal, logo sou ruim no que faço e em como me comporto. O primeiro passo é a aceitação da condição. O segundo é trazer à consciência os efeitos de esquiva que o perfeccionismo traz; e o terceiro é desenvolver a coragem para mudar em pequenos passos, exercitando a autocrítica e descobrindo maneiras de como atingir satisfação ao se conseguir aplicar dedicação a uma tarefa e finalizá-la. A ênfase aqui deve vir mais na dedicação ao processo e menos no julgamento da qualidade do resultado. Aqui uma ajuda terapêutica será muito bem-vinda para se descobrir as causas do perfeccionismo de cada um e como transformar suas consequências.

     

    Vida Simples: Uma pessoa que não se comunica bem, pode conseguir melhorar sua comunicação?

    Ana Alvarez: Sempre! E em qualquer idade.

     

    Vida Simples:  Qual o primeiro passo para melhorar a comunicação? Você poderia dar algumas dicas práticas?

    Ana Alvarez: O primeiro passo é compreender que o tipo de comunicação dá qualidade aos relacionamentos que você vive na vida, e são os seus relacionamentos que o fazem feliz.  O segundo passo é desejar conquistar a habilidade do bem comunicar. O terceiro é ter claro para si o tipo de pessoa que é, e qual o perfil de comunicação, e aqui o livro pode colaborar bastante. O quarto passo é querer se aprimorar e se dedicar ao processo. O restante depende da autoliderança e do automonitoramento para perseguir a rota necessária.

    Além disso, essas dicas práticas são algumas sugestões:

    1. Aprenda a ouvir o outro sem interrompê-lo. Ouça até o final e só depois responda.
    2. Exerça a escuta ativa na sua vida diária: ouça com atenção, olhos no interlocutor, guardando as palavras que foram ditas e pensando no que foi dito
    3. Acostume-se a colocar atenção nas expressões faciais, nos gestos e na expressão corporal do interlocutor – eles completam as palavras.
    4. Selecione com cuidado suas palavras, elas são importantes e transmitem à outra pessoa as suas ideias.
    5. Fale de forma simples e na ordem direta.
    6. Evite usar palavras negativas em excesso: as pessoas querem saber o que você deseja, então evite falar somente o que não deseja, pois deixará o interlocutor em dúvida.
    7. Expresse-se de modo efetivo: as palavras quando acopladas à expressão facial, ao olhar e à expressão corporal conectam pessoas.
    8. Use clareza e sinceridade com gentileza e o resultado será empatia e compaixão.

     

    PARA SABER MAIS: Livro “Falei sem pensar: Como se comunicar bem, com clareza e sem conflitos”, de Ana Alvarez, publicado pela Companhia Editora Nacional (2022, 256 páginas).

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