As brumas de Saint Cirq Lapopie
Aceitar o convite para seguir por um roteiro desconhecido e não planejado pode abrir as portas do extraordinário
Aceitar o convite para seguir por um roteiro desconhecido e não planejado pode abrir as portas do extraordinário
Nem as incríveis torres medievais da ponte Valentré, em Cahors, no sudoeste da França, conseguiam curar meu cansaço e solidão. Atravessar o país em tempo de greve de trens era exaustivo.
Então notei que, em frente à estação ferroviária, um ônibus ligava os motores. Corri e perguntei à condutora por um destino que me recuperasse. No meio do caminho, uma freada: “saia. Caminhe quatro quilômetros e terá uma surpresa”, comentou, apontando para uma estradinha em ladeira.
Lá adiante, no alto de um rochedo, avistei uma aldeia medieval despontar, descortinada pela névoa. Chegava em Saint Cirq Lapopie, um lugar com ruelas e casas de pedra. Fui recebida por Natalie, que me deu lugar onde dormir, me alimentou e, então, me apresentou aos outros 20 habitantes do povoado. Nos dias seguintes, explorei o campo, vestígios de castelos, cavernas.
Numa tarde, o moinho secular local voltou a funcionar para ser apresentado à forasteira. Todos os habitantes abriam as portas ou me convidavam à mesa com foie gras, trufas, mel, nozes – menos a dona de um jardim de ervas medicinais, que só amoleceu o coração quando um mal-estar me abateu. Foi ela quem me contou que a bruma que esconde a aldeia fez dali um refúgio de artistas, no século 20. “Eles também buscavam respostas entre as luzes e sombras do nevoeiro”, disse ao servir meu chá.
Na última noite, meus amigos locais e eu tomamos vinho e cantamos ao redor da fogueira olhando meu castelo. Ah, sim, lá no primeiro dia, ao abrir a porta da hospedagem oferecida por Natalie, eu me dei conta de que estava dentro de um castelo! Pela manhã, parti de carona notando pelo retrovisor a aldeia ser tragada pela névoa. Agradeci pela greve dos trens e continuei. Recuperada.
JULIANA REIS é uma viajante em busca de histórias, pessoas, lugares e experiências que a modifiquem @viagenstransformadoras
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