A longevidade não é um lugar, tampouco um conceito. A forma como você a observa determinará o que ela representa e como você deseja vivenciá-la. Há quem a encare com pesar e quem a veja com enorme alegria, fascinado com as múltiplas oportunidades que podem se apresentar para aquele que vive mais. Independentemente de qualquer coisa, especialistas que se dedicam ao estudo da longevidade são enfáticos ao garantir que o sucesso dessa etapa da jornada existencial está atrelado ao quanto você foi hábil e generoso ao nutrir ótimas relações com quem o cerca.
Afinal de contas, durante o envelhecimento, talvez você necessite muitas vezes de uma mão amiga para a realização ou para a resolução de algumas questões. Além disso, se durante a juventude ter o apoio de amigos traz aquele conforto ao coração por sabermos que, não importa o que aconteça, teremos com quem contar para nos aconselhar, ajudar ou simplesmente nos ouvir, à medida que envelhecemos a situação e a sensação serão as mesmas, senão maiores, quando temos um bom círculo social.
Justamente por isso, a OMS cunha o termo Aging in Place, que significa envelhecer no lugar onde se viveu a maior parte do tempo, tendo saúde e apoio necessários para estar com segurança e de forma independente na própria casa e na comunidade à medida que se envelhece, sem a necessidade de uma mudança para uma instituição de longa permanência para o idoso (ILPI). Isso porque é nesse lugar que a gente construiu relações com o espaço físico, com o espaço geográfico e com a vizinhança.
Vale refletirmos que cada ser tem sua biografia, uma história que necessita ser ouvida, compreendida e valorizada. E nesse contexto, a rede sócio familiar, os vizinhos, o suporte de amizade são fundamentais, ainda mais porque ao envelhecer, pode ser que percamos algumas destrezas, que tenhamos menor facilidade em executar alguma tarefa ou tenhamos de lidar com rupturas físicas e emocionais. E esse apoio que nos circunda será sempre essencial.
Aliás, a psicóloga Cleofa Toniolo Zenatti, que há mais de trinta anos atua no cuidado de pessoas idosas e seus familiares, aponta um estudo publicado em 2019 e realizado por cientistas da Universidade de Austin, nos Estados Unidos. Os dados revelados demonstraram que idosos que possuíam mais interação com outras pessoas, sejam familiares, amigos ou conhecidos, apresentavam melhores índices de saúde e bem-estar emocional e que a conexão com amigos estava diretamente ligada com a maior prática de exercícios físicos, melhor humor e menos sentimentos negativos.
Segundo ela, a explicação para esse fenômeno pode ser o fato de os laços sociais ajudarem a amortecer eventos estressantes da vida e melhorar a resiliência mental e fisiológica. “A socialização do idoso o mantém ativo, por isso a importância das atividades sociais e culturais que geram sentimentos positivos, para se evitar a depressão e a inutilidade do idoso. Isso faz com que ele necessariamente se comunique com o próximo, estimulando a sua função cognitiva”, diz.
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Encontros amorosos
O processo de envelhecimento é também uma oportunidade de travar mais contato com você mesmo, de mergulhar mais fundo em si próprio, tomando sempre consciência de todas as suas emoções e necessidades. Principalmente, assumir desde o princípio o desejo de um projeto de vida longevo significa saber quais atitudes tomar diante dele. Ou seja, ter a companhia de um círculo social ativo e ter sua própria boa companhia, para que as redes sociais sejam construídas sem a dependência emocional.
“As pessoas podem viver melhor se escolherem deixar para trás tudo que é ‘velho’. Hoje em dia vemos uma mudança na visão das pessoas que estão envelhecendo. A pessoa se respeita e se permite, por se sentir mais madura e mais vivida. Há uma valorização desse momento 50+, 60+, 70+, onde há uma permissão para se escolher a melhor forma de se viver, cada um dentro da sua individualidade e da sua história de vida”, ressalta a psicóloga.
É evidente que ao longo dos anos muitas relações se perdem e cultivar amigos pode ser algo mais difícil do que nos tempos mais joviais. Ao mesmo tempo, as relações amorosas entre dois amantes também se transformam. E nesse quesito, compreender tais mudanças é fundamental.
Intergeracionalidade
Independente de qual seja sua idade, existe um fator que vem por demais enriquecendo as relações, tanto para os mais jovens quanto para os mais velhos: a intergeracionalidade. O termo vem sendo muito discutido nos últimos tempos no mundo todo e se define por interações planejadas de grupos de pessoas com diferentes idades e em diferentes fases da vida.
“Pesquisas científicas mostram que a convivência de diferentes gerações promove melhora na cognição e estado de humor de idosos. Outros benefícios que também podem ser destacados são a quebra do preconceito com o processo de envelhecimento, a troca de experiências dos mais maduros com os mais jovens, o fortalecimento de laços afetivos e a transferência de cultura e valores, favorecendo assim, a tentativa da construção de uma sociedade mais respeitosa e tolerante”, confirma Cleofa Toniolo Zenatti.
Além disso, a psicóloga pontua que as famílias constituídas em redes de solidariedade intergeracional tendem a apresentar condições mais favoráveis e seguras à saúde e aos cuidados do idoso.
Cuidar das relações, entre amores, famílias e amigos, é um ponto precioso na nossa jornada pelo bem viver. Precisamos nutrir a tolerância, a humildade e vivenciar a potência dos encontros pela vida. Preservar os laços é cuidar da existência e aqueles que têm uma base sólida são e serão certamente os que mais prosperam.
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