Se tem uma coisa que acontece com todos nós, dia após dia, desde o início do período intrauterino, é envelhecer. E se o envelhecimento é comum a todos, podemos, portanto, desejar viver cada vez mais e melhor, sem se importar com a idade cronológica que temos hoje ou em qual faixa etária estamos ou estaremos amanhã.
Mesmo soprando as velinhas a cada aniversário, nem sempre percebemos com clareza esse inexorável fato da vida. Contudo, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, são claros ao mostrar que, na década passada, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população e que, em menos de 30 anos, na década de 2050, 30% dos brasileiros estarão nessa faixa etária.
Envelhecer com coragem, atenção, resiliência, segurança e, acima de tudo, qualidade de vida, é o que mais devemos nos dedicar a conseguir. Contudo, como fazer isso? Para onde olhar?
Somos seres inteiros
O primeiro passo é nos percebermos como seres inteiros e não divididos. Ou seja, todos os aspectos do corpo e da mente estão interligados e conversam entre si. É por isso que o equilíbrio é necessário para a cura das dores físicas, emocionais, somatizações e demais quadros que possam surgir a partir da falta de uma relação saudável entre o estado mental e o físico.
Se uma pessoa saudável é aquela que compreende a sua totalidade, também é aquela que constata o sentido da longevidade de modo múltiplo. Uma ótima análise sobre isso vem da terapeuta integrativa e psicanalista Adriana Perazzelli. Viver bem o passar dos anos, em sua opinião, é querer ser longevo com sabedoria, consciência e vitalidade. Para tal, é preciso investir na saúde desde cedo para colher, na maturidade, bons anos de vida.
“Tenho visto uma preocupação maior com o envelhecer bem, ou seja, se preparar para o envelhecimento, adotando um estilo de vida que promova saúde de agora e do futuro. Se você consegue evitar problemas de saúde, para superar a genética, ou seja, aquilo que herdei de possíveis doenças nos genes, não necessariamente irá se manifestar. Você pode modificar e ter uma vida mais longeva”, assinala a especialista. E continua:
“Assim sendo, eu diria que longevidade, mais do que uma vida que dura muito, pode ser o desejo da pessoa aproveitar melhor a sua jornada e embarcar com entusiasmo nessa viagem, ao longo de muitos anos, antes que ela acabe.”
Uma saúde integrativa para viver melhor
Se nos basearmos na tríade da medicina integrativa, corpo, mente e espírito são campos que se conectam e, portanto, o cuidado com esses três pilares fazem total diferença para se viver mais e melhor.
No quesito físico, devemos seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Praticar, semanalmente, pelo menos 150 minutos de exercícios moderados ou 75 minutos de atividades em intensidade vigorosa. Essa recomendação vai de encontro a um estudo recente, publicado na plataforma JAMA Network Open e assinado por um grupo de pesquisadores de diversos países, incluindo membros da Universidade de Oxford.
Ao longo de sete anos, 82 mil britânicos, com idades entre 42 e 78 anos, foram acompanhados e a partir dessa longa análise concluiu-se que 20 minutos diários de atividade física moderada ou vigorosa “pode ser uma intervenção não-farmacêutica útil para reduzir as internações hospitalares para muitas condições de saúde comuns”.
Além disso, praticar exercícios ao longo da vida é fundamental para reduzir a sarcopenia. Esse é o nome dado para a perda de massa muscular, o que ocorre inevitavelmente durante toda a existência, mas tende a aumentar muito após os 60 anos, tendo relação com a perda geral de saúde. Entre as inúmeras dicas, fazer tratamentos de fisioterapia preventivos é excelente para manter as pessoas, especialmente a partir dos 40 anos, mais longevas.
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Atividade física para equilibrar emoções
Quem atua diariamente com a saúde integrativa é Claudia Regina Gonçalez, nutricionista clínica, com especialização ortomolecular e em fitoterapia, e professora de yoga há 20 anos.
Ela conta que sempre entendeu a atividade física como manifestação da vida. Nas práticas do yoga, por exemplo, conta que trabalha-se a expressão corporal, assim como a coordenação motora, item fundamental para a preservação de nossos dotes cognitivos.
“Em geral, nós adultos sempre associamos as dificuldades de coordenação motora às crianças e isso não é verdade; essa é uma habilidade a ser trabalhada durante todas as fases da vida”, observa.
É preciso cuidar da mente
O cuidado com a saúde psíquica, obviamente, é essencial para uma vida longeva e interfere na saúde do corpo. Afinal, como destaca a terapeuta Adriana Perazzelli, quem tem a chance de cuidar da saúde psíquica tem a oportunidade de vivenciar melhor todos os períodos da vida, incluindo a longevidade. Esse período passa a ser percebido com nobreza, e não como uma fase a qual condenamos os restos dos nossos dias.
Segundo ela, aqueles que estão atentos, buscam apoio para sair de momentos em que não há ânimo para fazer as coisas e, dessa forma, se colocar em movimento.
Esse apoio pode ser feito com uma terapia ou outros cuidados da mente, incluindo meditação e práticas de respiração. E em casos de depressão e outros transtornos, um acompanhamento psicológico ou um acompanhamento médico psiquiátrico é um caminho imprescindível.
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“Mesmo as pessoas mais alegres sentirão os dissabores naturais das limitações que o envelhecimento traz, o que causa um impacto no corpo como um todo e na qualidade de vida. Quando o idoso tem a sabedoria de cuidar das suas emoções e procurar entender o que está se passando com ele, ele dá lugar para elas dentro de si, o que evita produzir sintomas físicos e emocionais. Atividades que ajudam a mente a estar saudável, também contribui para aumentar a imunidade e a diminuir a intensidade das angústias. Mente saudável é sinônimo de mais felicidade na vida”, garante ela.
Cérebro ativo: chave para viver melhor
O declínio cognitivo costuma ser a maior fonte de temor em relação ao processo de envelhecimento. Por sorte, estudos comprovam que o fator que mais previne contra a demência é possuir uma alta reserva cognitiva.
Ou seja, quem estuda mais, quem lê mais, quem sempre aprende algo novo, tem mais chances de manter seu cérebro ativo e saudável e deixá-lo mais forte no transcorrer da vida para combater possíveis doenças que se aproveitem do envelhecimento.
A força dessa aprendizagem efetiva ao longo da vida para o ganho da bagagem cognitiva é percebida diariamente por Ana Paula Lisboa Sohn, coordenadora da Universidade da Criativa Idade, projeto de extensão da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Florianópolis. Ao longo dos anos que está a frente dessa coordenação, ela percebeu que o exercício da aprendizagem contínua, o hedonismo, a saúde física, mental e financeira, juntamente com as relações sociais de amizade, são aspectos que contribuem para uma vida longeva, autônoma e feliz.
“O projeto Universidade da Criativa Idade está 100% alinhado com a promoção de uma vida mais longa e melhor; são evidentes seus impactos positivos na qualidade de vida dos idosos. Ampliamos as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento de habilidades comportamentais e intelectuais, permitindo aos participantes acompanharem as transformações do mundo contemporâneo e desfrutarem de uma vida mais plena e enriquecedora.”
É possível aprender a viver melhor em qualquer idade
Quem desenvolve esse interesse pela aprendizagem contínua desde jovem já tem em suas mãos um grande trunfo que irá favorecer sua longevidade. Mas não acredite que isso não é possível entre aqueles que já estão numa faixa etária mais avançada e que não conquistaram essa reserva antes. Para Ana Paula, é absolutamente possível iniciar novos aprendizados a qualquer momento e todas as ações nesse sentido terão impacto positivo no ser.
“No Brasil, muita gente cresce com medo de envelhecer, com uma cultura que valoriza a juventude, e não imagina o quanto se pode aprender durante a terceira e quarta idade. A aprendizagem ao longo da vida não tem idade, envolve um querer, uma motivação pessoal, que muitas vezes pode estar ligada a um estilo de vida ou a estímulos do ambiente social”, conclui a coordenadora.
Não importa a sua idade, tenha você 20 anos, 45 ou 82. Envelhecer é o curso natural da vida e que bom se você e eu pudermos vivenciar essa jornada na Terra de forma longeva e independente.
Dizem que a existência não é uma corrida dos 100 metros rasos, mas uma repetição de provas de triatlo. É preciso treino, apoio e motivação.
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