As amizades nos tornam melhores companheiros
Saiba que o parceiro pode ter assuntos que nos completam e em que a gente se sinta totalmente confortável. Mas, da mesma forma, pode haver pouco ou nenhum interesse em outras áreas
Saiba que o parceiro pode ter assuntos que nos completam e em que a gente se sinta totalmente completo. Mas, da mesma forma, saiba que pode haver pouco ou nenhum interesse em outras áreas
A gente está em pleno século 21 e nunca o número de divórcios foi tão grande. Hoje temos total autonomia para escolher nossos parceiros e, inclusive, a tecnologia tem estado a nosso favor para aumentarmos as chances de encontrarmos o parceiro ideal. E muitos de nós encontramos, ou ao menos temos essa certeza. E então o que está dando errado? Qual é o problema de comunicação entre duas pessoas? Há sempre uma relação de pontos que podem gerar contrapontos, há sempre um mas no caminho…
Já não há mais o mesmo interesse que eu em áreas que são fundamentais na minha vida, mas temos outros assuntos que são compatíveis. Temos visões diferentes de mundo e não encontro apoio nele para alguns dos meus ideais, mas seu amparo emocional é indispensável pra mim. Não conseguimos nos comunicar bem, mas somos capazes de realizar muitas coisas juntos.
Esses e tantos conflitos estão presentes em muitos relacionamentos e, ao contrário do que muita gente pensa, não são sinais para que a gente abandone um relacionamento. Esses conflitos relacionais são sinais de que nossa inteligência emocional pode não estar muito bem desenvolvida. E ela é como um músculo, ou uma plantinha: se você não trabalhar ou regar, simplesmente vai se atrofiar e impedi-lo de ir adiante.
Como aprender a ser saudável emocionalmente?
Sejamos sinceros, a gente não aprende isso na escola. A gente não aprende a ser saudável emocionalmente num curso, com a professora na escola, nas aulas junto com matemática e português. Como não aprendemos a lidar com um coração partido, com o não do outro, com as expectativas que temos dos parceiros e quando momentos difíceis acontecem num relacionamento. Porque, invariavelmente, eles acontecem. Mas, ter a maturidade pra lidar com isso pode fazer toda a diferença. Muitos dos millennials apresentam maiores índices de problemas conjugais
A gente quer tudo, não é mesmo? A geração millenials não quer só estar apaixonado e ir casar. A gente quer alguém pra ir para os mundos e fundos com a gente. Queremos despertar interesses variados pela vida, ir viajar, segurar perrengues de contas, entender nossos momentos de complexidade que nem a gente entende, explorar cavernas, dormir de conchinha. E mais: também desejamos dividir nosso mundo íntimo e sermos capazes de nos apoiar, às vezes, de forma até incondicional.
Mas, a dura verdade é que somos carentes. A verdade é que estamos querendo muito, e de uma pessoa só. E, geralmente, esperamos muito do outro, principalmente se esse outro é a pessoa escolhida pra estar junto. E daí que vem a grande sacada: por que a gente espera tudo de uma única pessoa? Por que a gente espera que uma única pessoa possa dar conta de todas as nossas demandas quando nem a gente conseguiria dar?
É aí que entra o papel das amizades. É nesse momento que entender que nosso parceiro não é um smartphone, ou um aplicativo com múltiplas tarefas. Além disso, entendermos, também, que não podemos colocar nos outros o peso de acolher e dar conta de todos os nossos anseios.
Temos que esperar mais de mais pessoas
A gente não pode esperar tudo de uma pessoa só, como também precisa se libertar da ideia de que temos que significar o mundo pra outra pessoa. A gente pode, e precisa, exigir e ser cobrado menos. Porque, às vezes, a gente é o lado que é cobrado no relacionamento. E relacionamentos são mais completos quando existe alguma independência emocional, intelectual ou psicológica.
Acredite: suas amizades te fazem um parceiro mais saudável. E te preparam pra ser independente.
Lembra da época da escola em que a gente tinha vários amigos? João era ótimo amigo para as aulas de educação física, mas não o melhor pra ensinar aquela equação de segundo grau nas aulas de matemática. Lorena era uma ótima companhia de brincadeiras na rua, mas não a pessoa ideal para irmos juntas para casa das tias passar metade das férias. Fernando era ótimo amigo para falar sobre papos cotidianos, mas péssimo se precisássemos de um consolo emocional. E tudo bem.
Assim como acontece nas amizades, acontece no relacionamento. Saber reconhecer que existem amigos para compartilhar umas coisas e não outras. Aprender a contar com outras pessoas é um ato de vulnerabilidade, e a única maneira de nos fazer mais fortes.
Há diferenças, e tudo bem
Saiba que o parceiro pode ter assuntos que nos completam e em que a gente se sinta totalmente completo. Mas, da mesma forma, saiba que pode haver pouco ou nenhum interesse em outras áreas. Se eu entendo que meu parceiro não será a pessoa que vai dar conta de partilhar comigo o meu gosto por críquete, mas que eu tenho um conhecido que pode falar comigo por horas a fio sobre isso, e vai achar o máximo, então eu não preciso exigir dele tal interesse. Eu posso contar com outra pessoa. Assim, ao invés de ficar chateado e preso em mim porque não consegui desenvolver tal hobbie com meu parceiro, me torno grato porque tenho outro alguém com quem compartilhar. Meu parceiro ainda é importante para mim, mas eu parei de exigir que ele me acolha em tudo.
Existem momentos sem vínculo. Mas, há reconexões
A independência é admitir que em certos momentos estaremos sem vínculo, e em determinado assunto com alguém, mas que ainda assim conectado por outros tantos. Esse tipo de independência é essencial, porque a gente aprende que tem diferenciação e não dá pra esperar tudo de um só ser. Essa é a lição mais valiosa da amizade para os relacionamentos. E que não preciso do meu parceiro para tudo, mas para aquilo que julgo ser prioridade. Ele é a pessoa com a qual eu sempre volto a me reconectar.
Se a gente encontra essas ramificações de potencialidade para ir construindo nossos interesses na vida, e vai desenvolvendo amizades que acolhem a gente, e assim entende que tudo bem, a gente se torna, automaticamente, de uma independência saudável de nossos parceiros. E com isso o relacionamento vai crescendo e se transformando.