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    Você vive com preocupação? Aprenda a lidar com esse sentimento
    Omid Armin
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    O telefone toca enquanto algumas mensagens de trabalho chegam, as crianças estão comendo, o trânsito até o trabalho se estende por alguns quilômetros e você pensa que abrir o GPS e verificar o real tempo até lá talvez não seja uma boa ideia.

    Enquanto isso, checa a caixa de entrada do e-mail, que aumenta continuamente. São boletos a pagar, publicidade e avisos, o que te lembra que pode ser melhor pedir o mercado da semana que vem pelo aplicativo, se antecipando no que está faltando e no que pode faltar daqui a alguns dias. Você já viveu situações parecidas com essas?

    As preocupações cotidianas podem passar despercebidas na vida da maioria das pessoas, mas é necessário se atentar a isso, já que os dados mostram que o Brasil é o país com os maiores índices de ansiedade no mundo.

    Embora a preocupação não se traduza necessariamente em ansiedade, sabe-se que é um componente definidor para quadros ansiosos patológicos. A palavra preocupação tem origem no latim preoccupatio-onis, que significa ocupação prévia. A definição da palavra consiste em ideia fixa e antecipada, opinião antecipada ou prevenção, que pode ou não ocasionar sofrimento.

     

    Um mar de pensamentos

    E o fácil acesso a recursos imediatos em dispositivos modernos que carregam um mundo de informações que cabem no bolso pode ser um gatilho do aumento da preocupação de todo dia.

    Estudos mostram que passamos até 80% do tempo transitando pensamentos entre os tempos – presente, passado e futuro. Ainda que essa seja uma capacidade fantástica do ponto de vista evolutivo, também conhecida como mind wondering, ela também potencializa preocupações e aumenta a ansiedade.

    Reflexões sobre eventos passados e encerrados podem gerar preocupações atreladas a possíveis consequências no presente, bem como pensamentos antecipatórios trazem ao presente um futuro incerto e, muito provavelmente, incontrolável em muitos aspectos. A ideia da falta de controle incomoda, razão pela qual a rotina não deve ser banalizada e se torna grande aliada no controle das preocupações para promoção da saúde mental e conforto cotidiano.

     

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    Busque uma rotina saudável

    Quando se fala em promoção de saúde mental, deve-se pensar em uma rotina que possa te ajudar a manter o pensamento no presente. As doutrinas orientais trazem a meditação e a manutenção disso, pregando que a única coisa que pode assegurar que os pensamentos voltem para o presente após um ciclo de preocupações é se ater a união corpo e mente. Isso significa que, necessariamente, o corpo está no presente.

    A atividade meditativa requer disciplina e consciência sobre os processos do presente, mas o esforço é recompensador. As pesquisas demonstram que a prática de 36 minutos diários de meditação gera, em imagens de ressonância magnética funcional, neuroexpansão, ou seja, colabora com o neurotrofismo, expansão neuronal, neuroplasticidade e, portanto, aquisição de novos hábitos e conceitos.

    Os pilares para a promoção e prevenção do adoecimento advindas de preocupações precisam ser encarados como hábitos e um trabalho diário, que não necessariamente deve ser construído de maneira abrupta e inconsistente. A manutenção desses hábitos, ainda que em atividades curtas e bem direcionadas, vale mais do que a prática intensa que não se sustenta. Uma alimentação anti-inflamatória, a prática de ao menos 150 minutos semanais de atividade física, meditação e journaling são bastante válidas.

     

    A importância do planejamento

    Contornar as preocupações por meio do diálogo e da psicoterapia é extremamente importante, assim como tornar a rotina mais previsível com o uso de planners, agenda, planejamento da semana, fazer anotações sobre preocupações as quais exigem a atenção futuramente, por exemplo, compromissos, pagamentos e datas importantes.

    Gabriel Garcia Marquez escreveu em “Amor nos tempos de cólera“: “Era o tempo em que eles se amavam melhor, sem pressa ou excesso, quando ambos estavam mais conscientes e gratos pelas suas incríveis vitórias sobre a adversidade. A vida iria apresentar-lhes outros desafios mortais, com certeza, mas isso já não importava: eles estavam na outra margem”.

    A busca pelo bem-estar mental não consiste em brigar e acabar com todas as preocupações, já que é praticamente impossível que elas deixem de existir. É da natureza humana a transição mental entre os tempos, mas promover a consciência no presente e exercer seus direitos básicos de promoção do bem-estar sem pressa podem ser grandes aliados na busca que balanceia uma preocupação saudável e que gera rendimento e desempenho daquelas que adoecem ciclicamente.

     

     

     


    *MALU DE FALCO (@maludefalco) é médica psiquiatra, graduada pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) e com residência pela Faculdade de Medicina do ABC. Especializada em transtornos alimentares, é membro e cadastrada para atendimento pelo Brain Food Institute – NY. Ainda na área acadêmica, realizou curso extracurricular em Karolinska Sjukhuset, Huddinge, Suécia. Atualmente, trabalha como psiquiatra nas clínicas Remind e Arthur Guerra, em São Paulo, e também é preceptora da residência médica da Faculdade de Medicina do ABC. 

     

    *Os textos de parceiros não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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