Separar vida pessoal e profissional? Não precisa!
O isolamento social trouxe o debate sobre a separação entre vida pessoal e profissional. Especialistas afirmam que é um esforço desnecessário. Misturá-las pode ser muito bom.
O “fique em casa” trouxe o debate sobre a importância de separar vida pessoal e profissional. Porém, especialistas afirmam que é um esforço desnecessário. Misturá-las pode ser muito bom.
A pandemia desestruturou completamente a rotina das famílias pelo mundo todo. As preocupações e o isolamento social influenciaram diretamente na nossa vida pessoal e profissional. O escritório migrou para a sala de casa. As aulas das crianças agora acontecem no quarto. Então, como fazer para encontrar o equilíbrio necessário para conseguir viver e passar por este momento conturbado? Como adaptar a nossa rotina a esse “novo normal”?
Segundo Heloísa Capelas, especialista em Autoconhecimento e Inteligência Comportamental e autora dos best-sellers O Mapa da Felicidade e Perdão, a Revolução que Falta, talvez o ideal não seja adaptar, mas criar uma rotina própria, que se encaixe na nova realidade de cada um. “A pandemia é uma oportunidade única para refazer rotas e repensar a rotina. Tirar coisas que não fazem mais sentido e inserir outras que nos trazem alento”, explica. “Não existe um modelo ideal de rotina a ser seguido, porque cada pessoa tem necessidades, prioridades e realidades diferentes.”, continua.
“Pessoal e profissional se misturam. E isso pode ser bom”
O desafio de se adequar
Heloísa diz que o equilíbrio, muitas vezes, pode não estar em separar a vida profissional da vida pessoal, mas sim, no contrário. “Não temos duas vidas, não temos uma vida profissional e uma vida pessoal, é tudo uma vida só. Então agora talvez seja a hora de entender isso e organizar a vida tendo isso em mente. É difícil, mas é possível e pode ser muito leve e prazeroso também”, finaliza. Ela acredita ainda que quem souber seguir este caminho, além de ter uma qualidade de vida melhor, vai se destacar no mercado de trabalho. O publicitário e diretor de operações da agência de publicidade curitibana GTZ, Fernando Henrique Cardoso, acreditava que gerenciar remotamente sua equipe seria complicado e caótico. “A adequação foi um desafio. Existiam limitações de infra-estrutura tanto da parte dos colaboradores quanto da empresa. Tivemos que correr para ajustar tudo”, explica.
Sobre trabalhar em casa, ele diz que precisou de muita disciplina para evitar o que chama de “ladrões de atenção”. “Precisei criar o hábito, porque acabamos fazendo coisas que não faríamos no ambiente de escritório”, explica. Com todos os ajustes feitos, Fernando diz que conseguiu o equilíbrio. “Estar em casa fez com que tudo se transformasse. O meu dia se estendeu um pouco. Não que eu esteja trabalhando mais por uma coisa ou por outra, agora tudo faz parte da minha vida ao mesmo tempo”, diz.
Flexibilidade
Ele explica que esse novo esquema tem se mostrado bem produtivo. “Posso começar a fazer algumas coisas mais cedo e ter pausas para fazer outra atividade qualquer. Além disso, minha cabeça está mais descansada para o trabalho. Às vezes, se estou cansado, saio para passear com o cachorro e volto renovado”, revela. Após um ano de home office, Fernando diz que todos vão continuar trabalhando em casa quando as coisas se ajeitarem. “Não pretendemos voltar para o ambiente de escritório. Já entregamos a casa onde funcionava a agência, adequamos nosso servidor, estabelecemos uma rotina de reuniões semanais e está dando muito certo”, comenta.
O psicólogo Leonardo Morelli conta que é possível usar a pandemia em nosso favor. “Mudanças geram crises. Nosso papel é tentar contorná-las e descobrir novas saídas para esses desequilíbrios. É assim que inventamos novas possibilidades, ideias e talentos”, explica. Leonardo fala que é importante pensar que na nossa cultura não temos uma visão do presente. Esquecemos de viver o hoje e estamos presos no passado ou no futuro. Agora estamos quebrando esse paradigma de uma forma bem sofrida, com uma crise emocional, física, mental e econômica. “Tudo que estamos vivendo faz com que a gente repense os valores da vida. Estamos mudando nossos comportamentos e valorizando coisas que, às vezes, nem valorizávamos anteriormente, como o abraço, o beijo, o afeto”, comenta.
Adaptação
O psicólogo diz que a adaptação pode ser difícil, mas é a chave para o equilíbrio. “No princípio, é claro que é muito estressante. Percebemos isso à medida que o tempo está passando durante a pandemia. Muita gente se tornou mais depressiva ou ansiosa. Isso porque teve dificuldade em se adaptar”, revela. “Como temos de nos adaptar a uma nova realidade, precisamos mudar também nossa forma de pensar e de nos comportar. A adaptação é isso: passa por um processo de escolhas, de como queremos viver. Se felizes, dentro das possibilidades reais, ou se queremos sofrer”, finaliza.
Então, pare de buscar uma fórmula mágica para encontrar o equilíbrio. Aproveite o momento para criar uma rotina própria, que se adeque a sua realidade, sem uma receita pronta. Passeie com o cachorro, almoce com toda a família, tire um momento para tocar violão no meio da tarde ou para fazer um bolo. Inclua no seu dia a dia, todas aquelas atividades e hábitos que antes eram impossíveis. Realize os pequenos sonhos que acabavam ficando de lado. Se permita. Viva. Agora é a hora.
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