É normal que existam conflitos dentro de qualquer relacionamento. Isso porque, independente da natureza das relações, das românticas as familiares, a troca de duas ou mais pessoas é composta também por duas ou mais vivências, opiniões e visões de mundo. Mas, é importante entender até onde os desentendimentos são saudáveis e não ultrapassam um dos principais pilares de um bom relacionamento: o respeito. Sem ele, você pode estar vivendo um relacionamento tóxico.
Diferença entre conflitos e abusos
Conflitos normais geralmente envolvem discordâncias pontuais resolvidas com diálogo saudável. É o que explica Ingrid David, jornalista e doutoranda em Filosofia. “É natural que as partes tenham opiniões diferentes sobre alguns assuntos e é relevante haver respeito na diversidade de ideias”, sinaliza.
“Comportamentos abusivos, por outro lado, incluem padrões de controle, humilhação, manipulação e repetição de atos prejudiciais”, aponta Ingrid. Segundo a especialista, se os conflitos se tornam frequentes, intensos e desrespeitosos, provocando inseguranças, medo ou ansiedade, é um sinal de que pode haver elementos abusivos no relacionamento.
Formas de abuso: como identificar o início de um relacionamento tóxico
Apesar de a palavra “violência” ser geralmente atrelada à agressão física, existem diversas outras formas em que o abuso pode se fazer presente em um relacionamento. Prestar atenção ao padrão de comportamento da pessoa com quem se está relacionando é essencial.
Para o doutor em psicologia, Danilo Suassuna, existem alguns sinais importantes para observar. Mesmo que na rotina alguns pareçam banais, com a frequência e repetição podem transformar a relação em um relacionamento tóxico.
Isolamento:
O parceiro tenta cortar o contato da pessoa com amigos e família, controlando com quem ela fala, aonde vai e quem visita, diminuindo assim sua rede de suporte. Com apoio de outras pessoas, é mais fácil enxergar os abusos sofridos e, por isso, manter outros relacionamentos é tão importante.
Desrespeito às fronteiras:
Ignorar ou ultrapassar limites estabelecidos, seja físico, emocional ou digital, mostrando pouco respeito pela privacidade e autonomia do parceiro ou parceira. Isso consiste desde toques indesejados, até a invasão de mensagens e redes sociais da pessoa com qual esta se relacionando.
Culpabilização:
Fazer a pessoa se sentir culpada por tudo, inclusive pelos abusos sofridos, e inverter frequentemente a realidade para fazer parecer que a vítima é a responsável até mesmo pelas atitudes da outra pessoa.
Gaslighting:
Gaslighting é um termo em inglês que significa “manipulação”, usado para caracterizar uma forma de manipulação psicológica em que o abusador faz a vítima duvidar de sua própria memória, percepção ou sanidade, por meio da negação, mentira e contradição. Quando não consegue acreditar na própria realidade, é muito mais fácil que a pessoa se veja condicionada a acreditar na realidade do outro.
Humilhação e críticas constantes:
Desvalorizar, criticar ou zombar constantemente, especialmente em público, para desgastar a autoestima e a independência da pessoa. Nesse aspecto, é comum que o abusador faça comentários a respeito da inteligência, postura, e até mesmo aparência da pessoa.
Controle excessivo:
Controlar aspectos da vida do parceiro ou parceira, como atividades diárias, aparência, finanças ou contatos sociais, muitas vezes disfarçado de preocupação ou amor. Dentro do âmbito, comentários sobre a quantidade de passeios da pessoa, ou o tipo de roupa que está vestindo, são alguns sinais para ligar o alerta.
Explosões de raiva e intimidação:
Usar a raiva ou ameaças para obter controle ou manter a pessoa em um estado de medo ou submissão.
Comportamento passivo-agressivo:
Expressar ressentimento e negatividade de forma indireta, por meio de sarcasmo, procrastinação e atitudes hostis disfarçadas, evitando confronto aberto.
Como se libertar do ciclo danoso de um relacionamento tóxico?
De fora, pode parecer muito fácil enxergar que alguém precisa se afastar de um relacionamento abusivo. Mas a dinâmica confusa da relação pode prender a pessoa que fica perdida entre os picos de altos e baixos que compõe um relacionamento abusivo. É o que comenta a psicologa Renata.
“Após uma mordida, você espera o sopro, o alívio, e isso promove uma relação emocionante, uma montanha-russa de afetos”, explica. Segundo Renata, é a dúvida entre o “despreza-me ou me ama loucamente” que prende a pessoa naquele relacionamento.
Entretanto, pedir ajuda e se afastar dessa situação, apesar de difícil, é necessário. Isso porque estar em um relacionamento tóxico pode afetar diversas áreas da vida e causar prejuízos na saúde física e mental dos envolvidos. Para a psicologa, alguns transtornos como ansiedade, pânico, depressão, estresse pós-traumático podem ser resultados de vivenciar um relacionamento dessa natureza.
“O atendimento psicológico é a chave principal quando falamos de prevenção ao adoecimento emocional e também quando nos referimos ao tratamento, após a efetivação de transtornos e traumas”, argumenta a profissional.
Cada caso é particular e não podemos esquecer a importância de nos resguardar por meio de serviços como o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher), de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de contar com uma rede de apoio, como familiares e amigos, que pode ser fundamental no processo de desprendimento e cura de um relacionamento tóxico.
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