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Por trás da timidez e da ansiedade social há perfeccionismo e medo
Timidez excessiva pode ser indício de ansiedade social. Dmitry Ratushny/ Unsplash.
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O coração disparou, as mãos tremeram. Foi assim que Amanda Silva descreveu o que sentiu quando foi convidada para ser entrevistada para esta matéria. Os sintomas de medo podem ter muitas causas, mas neste caso, foram motivados pela expectativa em relação à futura interação social. Amanda, que é psicóloga especialista em timidez e ansiedade social, é uma jovem pessoa tímida – mas sua condição não é mais um limitante.

“Era muito tímida, não conseguia tirar dúvidas na sala de aula, tinha muita dificuldade de atender e fazer ligações, de iniciar novas amizades e partir de mim a iniciativa. Só que isso foi melhorando com o tempo, pelo autoconhecimento”, relata.

A timidez, Amanda explica, é comum até certo ponto. A problemática aparece quando a timidez é excessiva e causa sofrimento, podendo evoluir para um quadro de ansiedade social. Nessa condição, “a pessoa vai ter prejuízos em diferentes áreas da vida em que ela precisa desempenhar ou interagir com outros, seja na área profissional, acadêmica ou em relacionamentos”, aponta Amanda.

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Qual a diferença entre introversão, timidez e ansiedade social?

Mas o que seria a timidez e a ansiedade social? Em primeiro lugar, é importante pontuar que não é porque uma pessoa gosta de ficar sozinha que ela é tímida. Ela pode ser introvertida. Portanto, isso não significa algo ruim.

“A introversão tem a ver com um aspecto da personalidade, um jeito de ser. Nesse caso a pessoa não tem, necessariamente, dificuldade ou medo de se expressar. Ela, simplesmente, gosta de ficar mais na dela, é mais tranquila. Ela gosta de fazer coisas sozinha, então faz isso por preferência”, destaca a especialista em timidez Karina Orso.

A timidez, por outro lado, envolve dificuldade em situações de interação social. “Às vezes, ela tem vontade de falar, mas ela não fala, gostaria de participar mas não faz isso. Então já começa a ficar mais ansiosa”, explica. É possível que, mesmo com as dificuldades e o sentimento de ansiedade, a pessoa tímida enfrente uma situação de desconforto e consiga superar a timidez.

Já em relação à ansiedade social, o quadro é mais extremo. “A principal dificuldade é a intensidade da ansiedade, o sofrimento é maior. A pessoa que tem ansiedade social evita, não vai e perde oportunidades. Além disso, ela fica ansiosa antes, durante e depois da exposição da interação”, destaca Karina.

Segundo a especialista, o medo e a preocupação estão presentes em pessoas tímidas e com ansiedade social, mas nas últimas eles são mais intensos. “Na timidez, as pessoas têm uma consciência de que nem todo mundo está olhando pra ela. Ela tem medo, mas ela entende que as pessoas estão vivendo suas vidas. Já na ansiedade social, não. A pessoa acredita que estão falando e pensando mal dela, que todo mundo está olhando para ela e por isso também o sofrimento é maior. Ela tem um prejuízo maior na vida”, exemplifica.

Medos e perfeccionismo estão por trás da timidez excessiva

Na experiência prática da psicologia, Amanda destaca o medo relacionado à timidez e ele aparece, principalmente, na forma com que as pessoas se percebem diante de situações de interação. “Existem várias questões por trás da timidez, o que tenho percebido são os medos da rejeição, do julgamento, da perda e da proximidade.”

Aparece também outro elemento relacionado a timidez: o perfeccionismo. “Existe uma necessidade da pessoa tímida de estar compatível com padrões de perfeição que são supostamente esperados dela sobre como se comportar, como ser socialmente”, explica Amanda.

Karina destaca também que o perfeccionismo pode aparecer no contexto da timidez e da ansiedade por meio da comparação com outras pessoas. A partir de então, elas passam a acreditar que o padrão das outras pessoas é o melhor e, ao não agirem da mesma forma, sentem-se mal.

É possível que essas pessoas criem um ideal inatingível para si, e isso afeta a forma com que se percebem. “Ela acaba criando um ideal de quem ela deveria ser, de como deveria se expressar. Cria na imaginação uma pessoa, e não atingindo isso porque só olha as características negativas, ela se sente mal”, explica Karina.

Autoaceitação pode ajudar

Para reduzir a timidez e até evitar a ansiedade social, é preciso então trabalhar a auto aceitação. “É necessário trabalhar o fato de que todos temos imperfeições e dificuldades. Além disso, é preciso ter consciência de que não precisamos atingir um padrão de perfeição para se expressar na frente das pessoas”, defende Amanda.

Karina aponta mais uma solução: a pessoa tímida e com ansiedade social pode melhorar sua autoestima. Para isso, “é preciso encontrar formas com que ela consiga se ver por meio do valor que ela realmente tem, e não com base na comparação com outras pessoas”, explica.

Além disso, essas pessoas “podem perceber que possuem outras características positivas, competências e habilidades que não necessariamente estão relacionadas com interação. A comunicação é uma ferramenta que pessoas tímidas podem desenvolver ao longo do tempo”, aconselha.

Como lidar melhor com a ansiedade social e timidez

A terapia e acompanhamento psicológico ajudam a entender melhor a timidez, a ansiedade social e os outros elementos que estão por trás delas. Para Karina, o fundamental para lidar com isso é expandir as percepções. “[Essa pessoa] vive achando que aquilo que ela pensa é verdade. Ela só consegue ver o que vive, então repete ideias como ‘não consigo falar direito, não sei me expressar, não sei puxar assunto’. Ela só consegue olhar para essa perspectiva e precisa começar a ter um conhecimento diferente sobre ela, o mundo e as relações”, explica.

Para isso, a psicóloga aconselha assistir a vídeos, ler livros e estar em contato com pessoas que a façam se sentir seguras para sair da bolha, se encorajar e passar por processos de enfrentamento. “Tendo essas novas perspectivas, ela pode ter mais coragem e começar aos poucos a se expor, das coisas mais simples às mais complexas.”

É importante avaliar também as situações em que a timidez aparece para que as ações de enfrentamento sejam feitas de modo gradual e de acordo com as necessidades. “Não adianta dizer para uma pessoa extremamente tímida, que ela vai falar em público na frente de cem pessoas. Vai ser muito ruim para ela, uma experiência que reforça a timidez. Ela tem que fazer esses enfrentamentos e ter experiências boas gradualmente”, finaliza.

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