Por que procrastinamos? Compulsão por agradar pode estar entre as causas
A dependência emocional e o medo do fracasso levam à procrastinação, mas a superação começa com a compreensão e a busca por ajuda terapêutica.
- Como a dependência emocional é construída?
- Como identificar na fase adulta a relação da procrastinação com a pessoa que sofre de dependência emocional?
- Afinal, por que procrastinamos?
- Por que procrastinamos e temos baixa produtividade no trabalho?
- Como prevenir a dependência emocional?
- Como superar a dependência emocional?
Você sabe por que procrastinamos? Uma pesquisa feita no Google Trends no primeiro semestre de 2023 constatou que a palavra mais buscada nesse período na internet foi “procrastinação”. No Brasil a busca sobre esse assunto subiu 90% nos últimos 5 anos, de acordo com levantamento da Forbes. Em seguida palavras como, “foco”, “TDAH”, “preguiça” saíram na sequência entre as palavras mais buscadas na rede.
Esses dados revelam que cada vez mais pessoas sofrem com a baixa produtividade. O que pouca gente sabe é que questões de desordem emocional podem estar entre as possíveis causas. Segundo Jhanda Siqueira, psicóloga terapeuta gestalt, a procrastinação pode ocorrer devido ao medo que a pessoa sente de se arriscar: “Necessidade excessiva de segurança faz com que você analise tudo como se não fosse valer a pena o investimento”. Essa afirmação mostra uma necessidade de aprovação embutida no ato de procrastinar, fato que sugere uma dependência emocional.
A dependência emocional está relacionada à procrastinação, porque envolve o sentimento de rejeição na pessoa e o medo de falhar gera a falta de iniciativa. Esse é um tema bem comum no consultório da psicóloga, que também é produtora do canal no YouTube Amor e Autoestima e do perfil, de mesmo nome, no Instagram. Na entrevista a seguir, Jhanda Siqueira explica qual a relação da dependência emocional e a procrastinação, além de comentar como ambas podem ser evitadas.
Como a dependência emocional é construída?
É construída na infância, quando a criança não vivencia o apego de forma segura e sente que para ser amada precisa corresponder expectativas, ser perfeita, não pode errar, não pode desagradar os pais. Caso contrário, ela será punida, rejeitada, abandonada ou julgada. Ela percebe que só recebe amor se estiver atendendo a determinados critérios, ou seja, é submetida ao amor condicional.
Como identificar na fase adulta a relação da procrastinação com a pessoa que sofre de dependência emocional?
É aquela pessoa que deixa de tomar iniciativas, de se comprometer com determinados projetos, faz e para e está sempre com a sensação de que não é bom o suficiente. O dependente emocional se sente muito inseguro sobre o próprio valor, ele tem muito medo do julgamento dos outros, por isso, ele só age quando tem garantia de que vai dar certo, ou não corre o risco de passar vergonha. Ou seja, ele se torna muito perfeccionista, pois tem dificuldade de se ver capaz. Como ele se sentiu muito cobrado a agradar na infância, tende a procrastinar tudo o que não tem certeza de que terá bons resultados. Por isso, ele ousa tão pouco e está sempre em busca de segurança, o que pode acabar o paralisando.
Afinal, por que procrastinamos?
Para saber por que procrastinamos, precisamos analisar três possíveis causas
1. A procrastinação pode ser consequência do medo de fazer algo sem ter certeza de que vai dar certo. Necessidade excessiva de segurança faz com que você analise tudo como se não fosse valer a pena o investimento.
2. Há muitos casos de pessoas que procrastinam projetos porque sabem que eles vão contra algo ou alguém importante. Exemplo: uma pessoa que vem de uma família onde todos são servidores públicos pode se sentir cobrada a passar num concurso. Se ela tiver o objetivo de ser um profissional autônomo, pode acabar procrastinando seus projetos e se sabotar, pois sabe que se obtiver sucesso, desagradará a família. Ela se sente reprovada por querer algo diferente e teme ser rejeitada por não corresponder às expectativas. Logo, ela pode não se envolver 100% no seu trabalho, não ter bons resultados para ter a confirmação de que está fazendo algo “errado”.
3. Falta de clareza dos objetivos. Sem a noção clara sobre onde quer chegar, aumentam as dificuldades de traçar um plano para alcançar os resultados. Sem saber qual é o último degrau a ser alcançado, fica difícil saber qual é o próximo passo a ser dado. A pessoa se sente perdida e desmotivada a agir por não saber se aquela ação leva a algum lugar.
Por que procrastinamos e temos baixa produtividade no trabalho?
Porque a maioria das pessoas não tem clareza de que para se sentir motivado é importante se sentir recompensado. E nem sempre a recompensa é imediata. É preciso saber que os pequenos passos são considerados progresso e isso representa que se está chegando mais perto do objetivo maior. O problema é que sem ter um objetivo maior claro, que gere sentido, é difícil ter prazer no caminho. Ou seja, a necessidade de ver resultados imediatamente vem da dificuldade em entender que tudo é construído.
Como prevenir a dependência emocional?
Oferecendo um espaço seguro para os filhos se expressarem de modo que se sintam aceitos e amados por serem exatamente como são. Isso não significa que é proibido colocar regras. Pelo contrário, impor limites é parte da função dos pais, mas de modo que as regras sejam colocadas respeitando os filhos, através da linguagem, sem insultos, agressões ou tratamento de silêncio. Uma criança que se sente ouvida é muito mais motivada a seguir as regras, pois sente que pode se expressar e até mesmo questionar, ainda que ela nem sempre vai ter o que espera na situação.
Como superar a dependência emocional?
Procurando entender esse sintoma, se informe, assista vídeos, leia e tenha conhecimento sobre como é o funcionamento de alguém que sofre de dependência emocional. Assim, você terá clareza sobre as suas dificuldades, como por exemplo: colocar limites, dizer não, ter conversas difíceis, se expressar, medo de passar vergonha, necessidade de reafirmações de amor, necessidade de aprovação. Faça terapia para adquirir ferramentas para fazer as mudanças comportamentais necessárias. A ajuda de um profissional é essencial, pois para romper com esse padrão não basta tomar uma decisão, não é tão simples assim. É preciso desconstruir uma série de padrões e vícios emocionais para ressignificar o modo como se relaciona consigo e com os outros.
Karina Sant’Ana (@kasant_anacomunica) é jornalista e assessora de imprensa Agência Virtual Ka Sant’Ana Comunicação e Marketing Digital para as áreas de saúde mental e educação positiva.
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