Por que o nosso corpo reage quando estamos apaixonados?
Borboletas no estômago, coração acelerado e olhos dilatados: o que são e por que existem os “sintomas da paixão”?
- Mecanismo de luta ou fuga: uma herança ancestral
- Borboletas no estômago: nosso corpo reage ao hormônio do estresse
- Brilho no olhar: olhos dilatados são uma resposta do sistema nervoso
- Bochechas vermelhas: rubor ocorre por aumento do fluxo sanguíneo
- Coração acelerado: paixão gera aumento do batimento cardíaco
- Prazer e paixão andam juntos
Enquanto escolhe a roupa, o coração acelera. A hora se aproxima e já é possível sentir o frio na barriga. O rosto fica vermelho e as mãos começam a tremer. Respirar fica cada vez mais difícil. Parece que estamos nos preparando para uma situação desafiadora ou assustadora, mas é apenas um primeiro encontro.
É impossível ignorar o sentimento que chega à flor da pele quando estamos apaixonados. Isso porque o nosso corpo passa por uma série de mudanças fisiológicas e hormonais, conforme explica o biólogo Paulo Jubilut. “O cérebro vai liberar uma mistura de neurotransmissores e hormônios específicos, que causam mudanças em quase todas as partes do corpo”, aponta o professor.
Mecanismo de luta ou fuga: uma herança ancestral
Essas reações que sentimos quando estamos apaixonados são uma herança pré-histórica. “Nessa época, a principal preocupação dos nossos ancestrais era não ser devorado por um predador. Então, quando alguém se deparava com o perigo, tinha que estar preparado para lutar ou fugir”, aponta Jubilut.
Mesmo que atualmente não vivemos nas mesmas condições, esse mecanismo ainda funciona em situações atuais que podem gerar estresse, como uma prova, uma entrevista de emprego ou um encontro com alguém que gostamos.
“Quando estamos perto de alguém de quem gostamos, o cérebro percebe isso como uma situação estressante e a gente pode entrar nesse modo”, explica o professor. É graças a essa ativação do cérebro que podemos sentir alguns sintomas de paixão.
Borboletas no estômago: nosso corpo reage ao hormônio do estresse
O frio na barriga, ou borboletas no estômago, é uma das reações mais comuns quando estamos gostando de alguém. Segundo o médico Firmino Haag, cardiologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo (SP), esse incômodo abdominal é causado por uma série de reações químicas no nosso corpo, principalmente relacionadas ao sistema nervoso e ao sistema endócrino.
“Quando nos apaixonamos, nosso corpo libera uma série de hormônios, como adrenalina, dopamina e serotonina. A adrenalina, além de outros hormônios, pode estimular o sistema nervoso simpático, que controla as funções involuntárias do corpo, incluindo a digestão”, justifica o médico.
Dessa forma, esse processo de estimulação pode levar a uma diminuição do fluxo sanguíneo para o estômago e intestinos, causando a sensação de aperto ou frio na barriga.
“Ao mesmo tempo, a adrenalina e a noradrenalina também podem estimular a produção de cortisol, um hormônio do estresse que pode causar náuseas e outros desconfortos estomacais”, aponta o cardiologista.
Segundo ele, a ciência ainda não tem uma resposta definitiva que explique as borboletas no estômago. Acredita-se, então, que existe uma combinação de fatores que leva a essa sensação.
Brilho no olhar: olhos dilatados são uma resposta do sistema nervoso
A dilatação das pupilas ao olhar ou pensar em alguém de quem gostamos é uma
resposta fisiológica da interação entre nosso emocional e o nosso sistema nervoso autônomo, parte do sistema que funciona independente das nossas vontades.
Quem explica isso é a psicóloga Daniela Vieira Cinquine, dos Hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR). “Quando pensamos ou vemos alguém que nos atrai, o cérebro interpreta essa situação como emocionalmente significativa. Isso leva à liberação de neurotransmissores, como a dopamina, que ativam os músculos da íris”, aponta a especialista.
A íris é a parte colorida do nosso olho, que circunda a pupila, parte escura. Com a liberação da dopamina, existe uma ampliação das pupilas. Além disso, a paixão pode gerar a liberação de cortisol, o hormônio do estresse. Dessa forma, também ocorre a dilatação das pupilas, que se preparam para enxergar melhor.
Novamente, nosso corpo reage para o nervosismo de estar apaixonado. “Dessa forma, nosso corpo se prepara para uma interação potencialmente significativa através dessas respostas fisiológicas”, elucida a psicóloga.
Para o cardiologista Firmino, é importante lembrar que a dilatação pupilar também pode ocorrer em outras situações, como em ambientes escuros, ao usar substâncias psicoativas, ou em resposta a outras emoções, como medo.
“Porém, quando ocorre em situações sociais, especialmente na presença de alguém que nos atrai, a dilatação pupilar pode ser um indicador sutil, mas revelador, de que nossos olhos estão transmitindo nosso interesse e atração”, explica o médico.
Bochechas vermelhas: rubor ocorre por aumento do fluxo sanguíneo
Segundo Lorena Caleffi, psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, a reação de rubor ocorre pela vasodilatação na região da face. “É geralmente provocada pela ansiedade, que também pode causar a vasodilatação em outras áreas do corpo”, aponta a psiquiatra.
A vasodilatação é o aumento do calibre dos vasos sanguíneos, ou seja, aumento da circulação do sangue em uma determinada região do corpo. Quando estamos reagindo à paixão, esse calibre pode ocorrer principalmente nos vasos localizados na pele do rosto. “Esse aumento do fluxo sanguíneo para a região facial resulta na vermelhidão característica das bochechas”, explica a psicóloga Daniela.
Para ela, do ponto de vista psicológico, a proximidade com alguém que estamos apaixonados pode desencadear uma série de respostas emocionais, incluindo nervosismo, ansiedade e excitação.
O rubor da pele seria, então, uma manifestação tangível da conexão entre corpo e mente, evidenciando como nossas emoções podem influenciar nossas reações fisiológicas de maneira profunda – e também visível.
Coração acelerado: paixão gera aumento do batimento cardíaco
Quando estamos apaixonados, a respiração fica ofegante e a frequência cardíaca aumenta como uma preparação do organismo para reagir com energia às decisões do indivíduo, segundo Lorena.
De acordo com Firmino Haag, a explicação do coração acelerado está ligada a uma série de processos que acontecem no nosso corpo quando estamos diante de uma pessoa que nos atrai. “Com a estimulação do sistema nervoso simpático, ocorre uma maior liberação de neurotransmissores como noradrenalina e adrenalina, que aumentam o ritmo e a pressão arterial”, explica.
Dependendo da intensidade da paixão, maior será a liberação de adrenalina, aumentando consequentemente a frequência cardíaca e o fluxo sanguíneo. Como consequência, esse processo pode contribuir para uma sensação de formigamento ou calor que sentimos ao nos aproximarmos da pessoa amada.
“Esse aumento do batimento cardíaco é uma resposta natural do corpo à excitação e ao entusiasmo que sentimos na presença da pessoa que gostamos. É como se o nosso corpo estivesse dizendo: ‘prepare-se, pois está acontecendo algo especial’”, conclui Firmino.
Prazer e paixão andam juntos
Além de todos esses sintomas, estar apaixonado é, muitas vezes, uma sensação acompanhada de outros sentimentos prazerosos. Isso ocorre porque um dos principais hormônios relacionados à paixão e ao amor é a oxitocina.
A oxitocina é uma substância química secretada na região hipotálamo, que tem grande importância no funcionamento do nosso organismo. Quem explica isso é Maurício Lopes Prudente, cardiologista e diretor técnico do Hospital Encore e do Instituto de Neurologia, ambos em Goiânia (GO) .
“Esse hormônio é mais conhecido por ter um papel relevante no trabalho de parto e no leite materno, dando a criança e a mãe uma sensação de conexão muito forte. Essa conexão gera prazer nessa relação entre a mãe e a criança”, explica o médico.
A oxitocina pode ser liberada em outras situações, como em um abraço, com algum contato físico, ou até mesmo ao sentir o cheiro de uma pessoa que gostamos. “Vale lembrar que esse hormônio tem um mecanismo de retroalimentação, ou seja, toda vez que ele é liberado, o próprio hormônio informa ao organismo que sua produção deve ser pausada”, aponta o especialista.
Dessa forma, ela explica o porquê dessas reações serem cíclicas – ninguém fica com borboletas no estômago o dia inteiro. E é durante esse movimento de aumento e diminuição do hormônio que surge também a dopamina e os sentimentos de prazer.
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