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Olhares Femininos: Nath Finanças traz educação financeira para pessoas reais
Afroafeto por Gabriella Maria
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Antes de Nathália Rodrigues entrar na faculdade de administração, o conhecimento que tinha acerca de finanças era, assim como é para a maioria da população brasileira, escasso – cerca de 81% dos brasileiros têm pouco ou nenhum conhecimento sobre controle das finanças pessoais, segundo levantamento do SPC Brasil. Foi dentro da universidade, e trabalhando como vendedora de cartões de crédito, que Nathalia começou a ter acesso à educação financeira.

Mas a maioria dos conteúdos da internet sobre o tema era voltado para um público com uma realidade diferente da sua. Nath relata que esse primeiro impacto fez ela se frustrar, pois as metas e dicas não condiziam com o quanto ela recebia. Foi tal incômodo que a incentivou criar seu próprio canal de comunicação, e assim nasceu o Nath Finanças.

Em sua carreira, escreveu o livro “Orçamento Sem Falhas: Saia do Vermelho e Aprenda a Poupar com Pouco Dinheiro”. Também foi nomeada Conselheira no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) do Governo Federal. O seu impacto já foi reconhecido em premiações como Forbes: Brazil’s Under 30, além de ser listada como uma das figuras brasileiras mais influentes pela Fortune e Bloomberg Línea.

Nath acredita que essas indicações são um reflexo do impacto real de seu trabalho na vida financeira das pessoas. O reconhecimento e os relatos positivos das pessoas que a seguem nas redes sociais são também indicadores importantes, na visão da influenciadora. Em entrevista para a Vida Simples, Nath compartilha sua trajetória como um dos principais nomes de educação financeira no país.

O que te levou a criar a página Nath Finanças e a começar a criar conteúdos nas redes?

Falar sobre finanças e educação financeira foi algo que surgiu por conta da minha faculdade. Quando eu aprendi, de fato, sobre finanças, eu já estava com 19 para 20 anos. Mas, penso na importância, e como teria sido interessante, se eu tivesse tido acesso à educação sobre finanças quando eu comecei a trabalhar. Por isso despertou a Nath Finanças naquele momento.

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Seu lema, no seu site, é “finanças reais para pessoas reais”. Para você, qual a importância de trazer educação financeira para todas as pessoas, principalmente as de baixa renda?

Quando eu fui pesquisar na internet sobre educação financeira e todo o processo, eram pessoas que simplesmente não faziam parte da minha realidade. Nesse momento, pensei que se tem eu de baixa renda, que mora na periferia de Nova Iguaçu, trabalha e faz faculdade, com certeza tem outras pessoas que passam essa mesma dificuldade. Outras pessoas que têm essa mesma sensação de “não vou conseguir dar conta, é impossível”.

Essa é a maioria da população brasileira: que ganha um salário mínimo, que trabalha e pega três conduções, chega em casa cansado e ainda tem que fazer faculdade e estudar para conseguir ascender financeiramente ou até mesmo subir de cargo.

Essa é a realidade e eu falo para essas pessoas.

Eu não falo para quem tem 15, 20, 30 mil reais sobrando, eu falo para as pessoas que está faltando [dinheiro] ou que precisa se organizar ali para não faltar.

Também existe a pessoa da classe média baixa, que ganha dois, três, até uns cinco mil e tem dificuldade de se organizar, porque ela sustenta com aquele salário até 4 pessoas. Ela não é considerada rica e nem deveria ser considerada. Então eu falo para o público com baixa renda, mas eu também falo para um público que ganha mais de um salário mínimo, mas que tem uma realidade parecida ou que quer pegar essas dicas de forma real.

Como você enxerga o impacto do seu trabalho em mulheres que buscam sua independência financeira, para conseguir se afastar de relacionamentos que não façam mais sentido ou de ambientes familiares que não sejam mais seguros?

Quando a gente fala de independência financeira, logo pensam que é ter 1 milhão de reais na conta e viver de renda passiva. E, na verdade, a independência financeira para mim tem muito mais a ver com algo coletivo do que individual, principalmente para nós mulheres pretas.

É sobre você conseguir sair de um relacionamento abusivo, de um casamento abusivo, porque tem muitas mulheres, e não é pouco, até pessoas familiares minhas, que saíram de relacionamento por conta da questão financeira. Ou que deixaram de sair desse relacionamento e ficaram vivendo anos e anos num casamento falido, de forma muito infeliz, não só por conta dos filhos, mas pelo receio de voltar à estaca zero, porque os filhos vão passar dificuldades.

Minha mãe só conseguiu se separar do relacionamento com meu pai porque eu a ajudei financeiramente a tomar essa decisão, porque senão ela estaria num relacionamento infeliz.

Hoje, minha mãe é feliz, tem a casa própria dela que comprei, consegue viajar e minha mãe nunca pensou que fosse viajar de avião. Minha mãe está fazendo autoescola, uma coisa muito especial para mim, pois ela sempre foi desmotivada pelo meu pai dizendo que ela ia bater o carro, sabe?

As mulheres às vezes deixam de viver a vida delas, abrem mão do tempo de vida delas para cuidar da família e do marido. E querem sair de uma relação que para elas não está boa, elas não estão felizes mais, mas elas não conseguem sair por conta dessa dependência financeira. Ou seja, quando a gente fala de independência financeira, principalmente para o meu público que é 80% feminino, é para isso, para ela conseguir tomar decisões.

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Vi que você se tornou a única brasileira a ocupar uma posição nas 50 maiores lideranças do mundo da revista americana Fortune. Para você, qual a importância de ser reconhecida pelo seu trabalho?

Se me falassem que eu estaria numa lista com a Malala e com várias outras lideranças do mundo, eu não ia acreditar. E ainda ser a única brasileira. Mas isso tem muito a ver sobre o impacto social de falar de finanças para um público que precisa saber sobre isso.

E não é nem sobre se conformar com o salário que tem, mas sim lutar e buscar seus direitos. Tem muito mais a ver sobre utilidade pública. Fiquei muito feliz e muito lisonjeada. Toda vez que eu consigo fazer ou trazer alguma dica para alguém que vai mudar e transformar a vida dela, é algo que me marca muito.

Eu recebi um comentário quando eu postei sobre cartão de crédito falando “ah, mas essas dicas são muito óbvias”. E aí, no mesmo dia, eu recebi uma mensagem de uma menina que está participando do desafio dos 25, no qual estou ensinando a guardar dinheiro, e ela falou que era moradora de rua, usuária de drogas, e conseguiu se reerguer e juntar dinheiro aprendendo finanças comigo.

Hoje ela está indo pela primeira vez num show, algo que ela nunca foi na vida dela, com o dinheiro que ela guardou porque eu ensinei como guardar. Olha o impacto, né? Quando alguém fala que é muito óbvio, essa é uma pessoa que já teve acesso. Eu vi uma pessoa que era moradora de rua e nunca teve acesso à educação financeira aprender comigo. É uma linha muito tênue: o que óbvio para você, não é para outras pessoas.

Estar nessas listas, poder ser reconhecida pelo meu trabalho, além dos relatos das pessoas que me seguem, acontece porque a gente traz um impacto real na vida financeira das pessoas.

Que mulher ou quais mulheres foram essenciais para a sua trajetória e te deram o apoio e suporte que você precisava para chegar onde está hoje?

Parece até clichê o que eu vou falar, mas é a minha mãe. Quando eu falei com a minha mãe que eu queria postar e criar um canal no YouTube na época, o meu irmão falou que era loucura porque já tinha várias pessoas fazendo. Era 2019, tinham várias pessoas criando conteúdo na internet e no YouTube, né?

Eu gravava no meu Moto G, mas meu celular ficou ruim. Minha mãe tinha um celular um pouco melhorzinho, que não travava tanto, e me emprestou o celular dela para fazer as gravações.

Ela me emprestou também o tripé dela, porque ela trabalhava com fotografia e filmagem. Sem querer, eu ainda quebrei o tripé dela. Mas botei um durex para fazer um pau de selfie para gravar pelo celular. Ela não brigou comigo, me deixou usando e foi assim que fui gravando uns conteúdos, foi graças à minha mãe.

Todo o vídeo que eu postava, antes eu mandava para minha mãe. Eu perguntava se ela conseguiu entender. Quando ela ficava com dúvida, eu gravava de novo, porque minha mãe era minha base para ver se as pessoas iriam entender.

Ela tinha muita dificuldade financeira de organização, então, se ela conseguisse entender, as outras pessoas também conseguiriam.

Quando eu chegava 23h da faculdade, tinha uma janta pronta, sabe? Parece uma coisa muito simples, mas quem mora sozinho sabe o quanto é um perrengue você chegar em casa e não ter nada pronto e você ter que fazer. Ela foi o ponto principal de apoio. Foi ela que apoiou todo o meu processo.

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Você já deve ter vivido experiências que talvez não tivesse vivido se não fosse mulher. Qual delas mais te marcou e por quê?

Acho que o questionamento sobre o nosso conhecimento. Eu não vejo o homem branco sendo questionado se de fato ele tem esse conhecimento. Pelo contrário, as pessoas pagam sem nem saber se o cara tem uma certificação adequada. E principalmente ser uma mulher preta, tem uma questão ainda maior, porque vão questionar se você tem um estudo, se você tem formação, se você está falando corretamente.

E eu não vejo uma pessoa branca passar por isso de “como é ser uma mulher preta no mercado financeiro?”. Ninguém faz essa pergunta para uma pessoa branca, de como é ser branca no mercado financeiro. Mas para uma mulher preta sempre vão fazer. É sempre “como é ser uma mulher preta?” e não “como é trabalhar no mercado financeiro?”.

É essa pergunta que eu quero escutar, eu não quero falar só sobre racismo que sofro ou sobre as minhas dores. E, para as mulheres, tem muito a ver também com a idade. Principalmente mulheres jovens são questionadas se elas possuem conhecimento suficiente para falar sobre aquele assunto. São questionamentos que, para as pessoas que não entendem e não sentem na pele, são sutis, mas que a gente tem que arrombar as portas para conseguir ter a oportunidade de falar e ser ouvida.

Conheça a série especial “Olhares femininos sobre diversidade”

“Olhares femininos sobre diversidade” é uma série de entrevistas publicadas pela Vida Simples em celebração ao Dia da Mulher. Nela, conversamos com profissionais engajadas na inclusão de pessoas diversas na sociedade. Afinal, não existe um só jeito de ser mulher. Acima de tudo, elas são inspirações de como podemos usar a nossa voz para reconhecer e valorizar as diferenças que tornam a jornada de cada mulher única, singular e cheia de potência.

As entrevistas já estão no ar:

  • Tabata Cristine, palestrante e criadora de conteúdo na área de autismo e TDAH, nos revela as contribuições femininas diante da neurodiversidade;
  • Lelê Martins, a “Blogueira PcD” (Preta com Deficiência), incentiva mulheres em suas jornadas de autoestima e autoaceitação para mudar o rumo de suas histórias;
  • Hananza é escritora e filósofa. Como ativista na causa antirracista, propõe reflexões valiosas sobre o racismo no Brasil;
  • Thamirys Nunes é mãe de uma menina trans de 9 anos. Ela criou a ONG Minha Criança Trans para empoderar famílias e desmistificar tabus da sociedade sobre o assunto;
  • We’e’ena Tikuna, formada em artes plásticas, é uma estilista e ativista indígena premiada, trabalhando pela inclusão social dos povos indígenas por meio da difusão da sua arte.
  • Nath Finanças fala de “finanças reais para pessoas reais” para capacitar as pessoas a tomarem melhores decisões financeiras, estimulando epecialmente as mulheres a conquistarem a independência.

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

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